29 dezembro 2012

Homens, aprendam a lubrificar as vossas... bicicletas

«pensamentos catatónicos (281)» - bagaço amarelo

expectativas

Ela queria comprar uma carteira e pediu-me para a acompanhar. Suspirei. Se ir às compras já é um seca enorme, ir comprar uma carteira de mulher é o deserto do Saara. Mas fui, apesar do meu descontentamento em que ela fingiu nem reparar.
Namorávamos há um mês, se tanto, e ainda só tínhamos tido uma discussão, por causa duma nódoa de vinho que deixei cair num dos melhores vestidos dela. Naquele dia tivemos a segunda. E a última.
A certa altura ela já tinha umas vinte carteiras espalhadas pelo balcão da loja, para as quais espreitava como um lobo para dentro da toca dum coelho. Abria e fechava os fechos várias vezes, virava algumas do avesso e metia-lhes objectos nos bolsos para ver se cabiam. Em pouco tempo, a loja ficou a parecer o quarto duma criança hiperactiva.
Eu, que tentava desviar o meu olhar daquilo tudo, fui apanhado pela frase: "Ajuda-me aqui a escolher!". Senti-me um peixe fora de água, prestes a ser esmagado pelo olhar impaciente da vendedora. Apontei para uma qualquer, com o objectivo primordial de despachar aquilo tudo, e disse: "Esta!".

- Porquê? - Perguntou ela como se me estivesse a encostar à parede.
- É a mais fixe... - e abanei os ombros.

Deixou aquele monte de cadáveres de carteira em cima do balcão, pegou-me pelo braço e levou-me lá para fora. Caminhámos uns minutos envolvidos por um pesado silêncio até, com um ar greve e sério, me ter dito que queria ter uma conversinha comigo. Entrámos num café onde eu pedi um fino e ela não pediu nada. Aquele sítio era apenas o cenário para me dar um sermão.
Explicou-me tudo o que esperava de mim em todas as situações, como se eu fosse uma máquina programável. Quando pedia ajuda para uma compra, eu tinha que me interessar realmente pela compra; quando alguém lhe passasse à frente na fila do supermercado, eu tinha que a defender; quando me desse a mão na rua, não era para eu a abraçar. Desfiou ali um rol de acontecimentos em que eu já tinha falhado no cumprimento das suas expectativas.

- Não tens nada para dizer? - Perguntou no fim.
- Não.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Licor medieval «Levanta o pau - forte»

Elixir na minha colecção... não vá o diabo tecê-las.


Um sábado qualquer... - «Bastidores de um grande acontecimento 1»



Um sábado qualquer...

28 dezembro 2012

Acta 14: "A assembleia foi suspensa por falta de ar."

Sempre que alguém do contra abria a boca, a mulher tossia como se estivesse para morrer tuberculosa ou estivesse a pontos de expelir um ser qualquer que se lhe alojara no sistema respiratório, e tossia até que a pessoa se calasse ou dissesse algo que lhe agradava.
– A senhora, se não consegue parar, tem de sair – avisou o administrador do condomínio, em tom pausado e cordato, depois de mais um ataque de tosse que fora em crescendo até ao silêncio de quem falava.
– Certas conversas, de certas pessoas, fazem-me alergia, senhor presidente – respondeu a mulher. – Não consigo fazer nada – disse, cândida enquanto olhava em volta provocadoramente. – Peço desculpa.
– Eu sou capaz de compreendê-la – rematou o presidente – mas temos de fazer um esforço, D. Alzira. Há pessoas que parece que não sabem viver em sociedade, quanto mais ser vizinhos num prédio. Temos de ser compreensivos.
– Eu sou, senhor presidente, eu sou – replicou a D. Alzira, sempre sorridente. – O senhor sabe que não há ninguém mais compreensiva do que eu.
– Eu sei – concordou o presidente, piscando-lhe sorrateiramente o olho.
– Mas os meus pulmões é que não têm a mesma compreensão e paciência do que eu, senhor presidente. Não têm a mesma resistência da dona…
– Com isso é que já não posso concordar – interrompeu o presidente, aéreo, lembrando-se do longo e elaborado fellatio que ela lhe tinha feito na piscina do condomínio, nessa tarde, enquanto preparavam a reunião. – A senhora tem uns grandes pulmões, D. Alzira… – O presidente calou-se, ligeiramente corado: a frase, apesar de verdadeira em mais do que um sentido (dois, pelo menos, eram evidentes e pareciam querer saltar da blusa da D. Alzira), soara-lhe mal, demasiado brejeira e dada a más interpretações, o que o seu olhar estarrecido para o recheio da blusa da mulher ainda piorava. O homem tossiu, olhou para o tampo da mesa, sem conseguir compreender porque pensara em fellatio e não em broche, e explicou sem pensar no que estava a dizer: – A senhora tem uns pulmões com grandes capacidades. Grandes capacidades e evidentes qualidades, D. Alzira. Consegue até passar longos períodos debaixo de água e…
A mulher começou a tossir como uma desesperada, mais alto e com mais energia do que alguma vez fizera e com tanta verosimilhança e convicção que acabou por ficar sem ar.

O sexo literário é melhor que o sexo real?


Para a romancista Jennifer St George, conforme o Sydney Morning Herald, o sexo literário é realmente muito melhor que o sexo real. Suas personagens parecem viver intensamente a vida sexual, transando na mesa do chefe, em elevadores ou na piscina, conta a escritora.

No fundo o que parece é que Jennifer não tem uma vida sexual como a de suas heroínas, e escreve suas fantasias, o que ela realmente gostaria de vivenciar, coloca no papel histórias que invadem sua mente e seu corpo, fetiches que a deixam excitada e, por fim, resolve fazer uma história sobre essas fantasias. Mas na verdade ela lamenta não viver esta realidade.

A literatura erótica é fundamental para entreter, informar e fazer sonhar o(a) leitor(a). Foi com esta literatura que muitas reivindicações feministas e homossexuais ganharam força. O poder desta forma literária é justamente o de libertar as pessoas da cultura conservadora. Mas jamais estará na condição de ser substituído pelo real prazer do sexo.

Ao que me parece, Jennifer St George não sabe escrever romances eróticos assim como não sabe fazer sexo.

No final do texto escrito no jornal australiano, a autora diz que geralmente gosta de escrever em um Café, mas que não poderia escrever cenas sexuais neste lugar, pois as pessoas a veriam ruborizadas. Que escritor ou escritora teria vergonha de sua própria escrita erótica? Talvez a E.L. James, dos 50 tons de cinza, o sexo mais apático da literatura contemporânea, feito para senhoras do século XV.

Obscenatório
obscenatorio.wordpress.com - blog eliminado (censurado) pelo Wordpress

Último sopro


Como se me arrancassem este último sopro
que me aquece nas noites frias de Inverno…
Hálito quente que se esvai em fumaça pálida
por entre as nuvens negras da alma
e o gelo cristalizado em estalactites de lágrimas…
Cinjo-me ao teu corpo de pedra e água,
nascente que germina quando o deserto ameaça
espraiar-se até aonde a vista alcança o oceano
e secar o mais ínfimo vestígio de vida humana!



Lua Cósmica
http://luacosmica.blogspot.pt

Elas só pensam nisso

Na verdade isso as faz relevar algumas coisas.



Não tem problema você ser um pouco peludo, amor.

Capinaremos.com

27 dezembro 2012

Lenore Kandel


Poeta visionária e activista da contra-cultura, Lenore Kandel (1932-2009) é associada à "Beat Generation". Jack Kerouac imortalizou-a no seu romance Big Sur (1962) na personagem Romana Swartz. Publicou dois livros de poesia: Word Alchemy (1967) e The Love Book (1966). Kandel denominou os seus versos de erótica sagrada. Quando questionada se era religiosa, respondeu "Yes, and everyone who makes love is religious."
O seu poema "To Fuck with Love", provocou grande polémica e foi censurado. Constitui a sua afirmação mais dramática acerca da ligação entre o amor, o êxtase e a iluminação do espírito.

…the tongue between my legs spreading my thighs to screams
and I burst I burst I burst
…my god the worship that it is to fuck!
(...)
I am the god-animal, the mindless cuntdeity, the he-god animal
is over me, through me we are become one total angel
united in fire united in semen and sweat united in lovescream
sacred are our acts and our actions
sacred are our parts and our persons
(...)
to fuck with love
to love with all the heat and wild of fuck
…leaving me pure burned into oblivion
…SCREAMING DELIGHT over the entire universe
and beyond
…the energy
indescribable
almost unbearable

(excertos de "To Fuck With Love")

“Love-Lust Poem,” (World Alchemy) celebra a expressão extática do amor.

I want to fuck you
I want to fuck you all the parts and places
I want you all of me
…I am not sure where I leave off, where you begin
is there a difference, here in the soft permeable membranes
…and the taste of your mouth is of me
and the taste of my mouth is of you
and moaning mouth to mouth
…I want you to explode that hot spurt of pleasure inside me
and I want to lie there with you
smelling the good smell of fuck that’s all over us
and you kiss me with that aching sweetness
and there is no end to love

blog A Pérola

«Bocapedro Oom» - Patife

Ontem dei uma pinada com a técnica do carrinho de mão. Depois detive-me a pensar que se pode foder de todas as maneiras e feitios e lembrei-me do Pedro Oom, que também achava que se podia escrever de todas as formas. São acções similares e ambas igualmente dignas. O Oom usava a caneta, eu uso o pincel. Mas a finalidade é a mesma: deixar uma marca na História. Apesar de eu também deixar marcas em muitas pachachas. É uma espécie de extra. Por isso, hoje acordei a pensar que se o Bocage e o Pedro Oom fossem um só, haviam de ter escrito poemas de inigualável singularidade ordinário-surrealista. E se o Bocage e o Pedro Oom fossem um só, teriam certamente criado coisinhas poéticas lindas assim:


Pode-se foder

Pode-se foder sem pornografia
Pode-se foder com sintaxe
Pode-se foder em português
Pode-se foder uma língua sem conhecer essa língua
Pode-se foder sem saber foder
Pode-se pegar no falo sem haver foda
Pode-se pegar na foda sem haver falo
Pode-se pegar no falo sem haver falo
Pode-se foder sem falo
Pode-se sem falo foder o falo
Pode-se sem foder foder isto tudo
Pode-se foder sem foder
Pode-se foder sem sabermos nada
Pode-se foder nada sem sabermos
Pode-se foder e saber a nada
Pode-se foder nada
Pode-se foder com nada
Pode-se foder sem nada
Pode-se não foder


Patife
Blog «fode, fode, patife»

Luís Gaspar lê «Pela noite» de Arseny Tarkovsky

"Pela noite concedias-me o favor,
Abriam-se as portas do altar
E a nossa nudez iluminava o escuro
À medida que genuflectia. E ao acordar
Eu diria “abençoada sejas!”
Sabendo como pretensiosa era a bênção:
Dormias, os lilases tombavam da mesa
Para tocar-te as pálpebras num universo de azul,
E tu recebias esse sinal sobre as pálpebras
Imóveis, e imóvel estava a tua mão quente."
Arseny Tarkovsky

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«DeviantART CENSURE» - por Luis Quiles


"Este dibujo me lo acaban de eliminar de la web deviantART. Según sus normas inquisitorias porque lo consideran pornografía, aunque el dibujo no tenga un sentido sexual, ellos deciden cambiar la definición de pornografía y atribuirla a cualquier trabajo artístico que exhiba penes erectos o vaginas abiertas.
Y esto da pábulo a todo tipo de alimañas, eunucos, fanáticos religiosos, fascistas y reprimidos sexuales que actuan como las juventudes hitlerianas siguiendo unas normas fascistas denunciando todo tipo de trabajos que no entran en su concepción de arte para que los administradores de deviantART eliminen estos trabajos y así ellos puedan seguir viviendo en su mundo feliz donde se censura la sexualidad de la gente y se acepta todo tipo de violencia (no la sexual por supuesto)
Que le jodan a las reglas y a los putos fascistas, hipócritas moralistas."


Luis Quiles