12 maio 2013

Californication - Cena na igreja

«Trágica história de amor» - por Rui Felício


Os belos olhos azuis melancólicos denunciavam uma tristeza indisfarçável, os lábios bem desenhados num rosto lindissimo, apenas se abriam em meios sorrisos de circunstância quando tinha que atender a algum pedido de informação ou esclarecimento que lhe fosse dirigido pelos clientes.
A Sónia era uma excelente profissional, educada, cumpridora, assidua e pontual, o que lhe granjeara a admiração e respeito dos seus superiores hierárquicos, alcandorando-a ao cargo de supervisora naquele supermercado de uma conhecida cadeia de distribuição.
Embora já passasse dos 30 anos de idade, não lhe eram conhecidos namorados passados ou recentes.
Todos os dias chegava a casa onde vivia sozinha, perto do supermercado, poucos minutos depois de acabar o trabalho. Recusava sistemáticamente convites das colegas para alguma festa e nos dias de folga trancava-se em casa entretida a ver televisão ou filmes que alugava numa loja da galeria comercial anexa ao supermercado.
Há dias entrara ao serviço, na secção de charcutaria, um novo empregado. O Tiago era um homem jovem, bonito, calado, de 35 anos, que vinha aureolado como um conhecedor profundo da área onde ficara a trabalhar. Por uma e outra vez o Tiago reparou no olhar da Sónia fixado em si, que ela, célere, afastava disfarçamente com visivel atrapalhação, quando o dele se cruzava com o dela.
As trocas de olhares passaram a ser mais frequentes nos dias seguintes, acompanhados de sorrisos imperceptiveis e cumplices.
Não havia dúvidas de que o Tiago não era indiferente à Sónia, apesar dos avisos dos colegas dele de que não deveria entusiasmar-se porque ela era uma belissima pedra preciosa mas fria como o gelo.
A verdade é que o Tiago já não conseguia dominar o pensamento que o acompanhava dia e noite.
Se estar apaixonado era sentir aquele aperto no coração, aquela constante e obsessiva imagem da Sónia na sua cabeça, a falta de apetite, os suspiros que soltava deitado sozinho na sua cama à noite a pensar nela, então ele estava perdidamente apaixonado por ela...
Na semana seguinte estariam ambos de folga no mesmo dia e ele decidiu, na véspera da folga, chamá-la à parte e pedir-lhe que aceitasse o seu convite para irem jantar os dois.
A Sónia fez questão de esclarecer que gostava muito dele, mas que preferia não aceitar o convite.
O Tiago mostrou-se surpreendido. Teria ela alguma razão para a recusa? Insistiu. Assegurou-lhe que a respeitava, que não a estava a convidar com qualquer reserva mental..
Pediu-lhe que percebesse que a sua intenção não era mais do que poderem estar juntos, conversarem sem os constrangimentos naturais do ambiente profissional. Enfim, conhecerem-se...
Ainda relutante, ela aceitou.
Naquele pacato e acolhedor restaurante, à luz suave das velas, conversaram, riram com as picarescas histórias que sempre se passam num movimentado supermercado, confirmaram que ambos viviam sozinhos, repetindo diariamente os ciclos de uma vida redonda, solitária, sem perspectivas, nem ambições. O vinho que iam bebendo desatava-lhes a pouco e pouco as inibições. Parecia conhecerem-se desde sempre!
Decidiram ir a pé para prolongarem a proximidade que a ambos tanto satisfazia. Chegados à casa da Sónia, ela abriu a porta, agradeceu-lhe aquela bela noite que jamais esqueceria, aproximou os labios e deu-lhe um beijo suave, breve, afagando-lhe carinhosamente o braço, numa despedida.
Mas em vez de se afastarem, ficaram ambos, por longos segundos, quase petrificados com as bocas perto uma da outra, sem se tocarem, aspirando o hálito quente que os enlouquecia.
Não resistiram mais. Envolveram-se num profundo beijo, longo, sôfrego, devolvendo e retribuindo o desejo que lhes queimava os corpos.
Encostaram-se à porta, que abriram bruscamente, e deram por si, sem saberem bem como, deitados na cama, arrancando as roupas, acariciando-se, prontos para levar até ao fim a loucura do amor.
O Tiago não percebia porque razão é que a Sónia se fechava, de olhos aterrorizados, sempre que ele tentava consumar aquele acto de amor que, claramente ambos desejavam, mas que ela impedia e restringia às caricias, aos beijos, aos sussurros de amor...
Deitou-se a seu lado, incrédulo, exausto.
Perguntou-lhe delicadamente porque não queria ir até ao fim. Parecia ter medo, apesar do carinho e cuidado que ele tinha tido.
A Sónia de lágrimas nos olhos confessou-lhe o seu segredo, a cruz que carregava em silêncio desde os 15 anos de idade, nunca se libertando desde então do terror e do medo do acto sexual.
Mostrou-lhe duas profundas cicatrizes que lhe atravessavam as costas em diagonal, resultado das chicotadas que o padrasto lhe desferiu com um cavalo marinho, furioso, quando ela lhe disse estar grávida e quando tentou resistir a mais uma das frequentes violações do padastro de que foi sendo vitima durante mais de um ano.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Custos inerentes


Para encher o despontar da adolescência dediquei algumas horas de leitura a uns livrinhos de origem escandinava que mostravam fotografias de diversos preservativos, DIU's e pílulas e nem umazinha de árvores e passarinhos para amostra. Neles aprendi a origem do DIU nuns ramos com a mesma configuração que se aplicavam às camelas no deserto. E fixei que mais coisa menos coisa se tem a primeira relação sexual quando disso temos vontade e não nos devemos deprimir a contrariar tal tendência.

Ora na época até tinha um namorado que me chateava constantemente a moleirinha por causa disso tal a ânsia que tinha de na prática saber como era e como não era e já que tinha terminado a leitura sugeri-lhe que combinássemos uma data. O moço encheu-se de brios e na manhã do dia aprazado até foi escanhoar a barba que não tinha. A mãe estranhou e ele orgulhoso prontamente esclareceu que ia ter a sua primeira naquele dia e se a mãezinha não se importasse podia fazer o favor de não chegar antes da hora do costume.

Todos nus como mandava o figurino dessa época lá fomos tentando ver como conseguíamos encaixar a coisa uma na outra e se não fosse pelos beijos que me arrepiavam a espinha como o sol na praia não percebia o que havia de especial na pilinha que só me fazia cócegas.

Nisto, ouvimos a chave na porta e a mãe dele entrou de braço dado com a minha pelo quarto adentro. O Carlos Tê diz que não se ama alguém que não ouve a mesma canção mas eu convenci-me que também é melhor não o fazer com quem não lê os mesmos livros.

Reflexos de mamas



Via Pornography as Art

11 maio 2013

A mim, esta massagem não relaxa nada. Antes pelo contrário!


Massage Sensuel 2 from Exo Mass on Vimeo.

«está uma noite óptima para nos pormos a caminho de lugar nenhum.» - bagaço amarelo

Não sei bem o que é me levou a dizer-lhe aquilo. Se acreditar que as coisas podem sair do nada, então diria que foi isso mesmo que aconteceu: saiu-me do nada. De qualquer maneira não acredito nisso, por isso limito-me a assumir que não sei porque é que aquelas palavras me saíram da boca.
Estávamos de férias num parque de campismo há alguns dias, algures no norte do país, ambos hesitantes em começar um romance. Era de noite. Por um lado queríamos dormir juntos, por outro tínhamos medo de o fazer. Acho que é sempre assim quando se gosta muito de alguém mas não se está apaixonado. Perguntei-me muitas vezes sobre o que devia fazer naqueles momentos em que nos abraçávamos ou encostávamos a cabeça um no outro. E agora? Beijo-a? Digo-lhe que a Amo? Nunca me decidi por nada, a não ser por lhe dizer a coisa mais absurda do mundo. Do nada.

- Está uma noite óptima para nos pormos a caminho de lugar nenhum.

Ela olhou para mim e, ao contrário do que eu tinha imaginado, concordou com a minha ideia nonsense. Obrigou-me a desmontar a tenda, a arrumar a mochila e, depois de acordar um homem que dormia ao balcão da recepção, acabámos por nos pôr a caminho através das estradas sinuosas do distrito de Bragança, onde tínhamos chegado de autocarro e à boleia de um amigo.
Caminhámos a noite toda numa conversa amena, até a Lua se cansar de nos ouvir e se ir embora sem dizer adeus. Lembro-me que acabámos por montar a tenda junto a uma curva onde havia uma fonte e, a alguns metros, uma árvore com sombra suficiente para não morrermos com aquele calor abrasador próprio do Verão transmontano. A minha tenda montava-se em três segundos. Bastava atirá-la ao ar e já estava. Foi o que fizemos e, dado o cansaço, adormecemos imediatamente os dois.
Não me costumo lembrar dos meus sonhos, mas sei que nessa tarde sonhei com ela e com as histórias que ela tinha acabado de me contar nessa viagem a pé pela Via Láctea. Era uma história qualquer sem grande romance, mas que eu tinha ouvido com a maior das atenções. Era sobre coelhos.
Ela gostava muito de animais, particularmente de coelhos. Tanto, que fazia colecção de coelhos de toda a espécie e feitio: de peluche, de louça, de plástico e até um de arame, feito por um artesão boliviano qualquer com quem tinha namorado no passado. Quando o tal artesão voltou para a Bolívia ainda estavam apaixonados,. Ele prometeu-lhe fazer um coelho tão grande quando lá chegasse, que ela havia de o ver deste lado do Atlântico. Durante muito tempo, apesar de ela não acreditar que isso fosse possível, ia à janela todos os dias para procurar o tal coelho gigante.
Pois bem, eu sonhei que tinha construído esse coelho. Era tão grande que, quando estávamos em cima dele, podíamos praticamente tocar nas nuvens. Acho que acordei no momento em que lhe perguntei se ainda se lembrava do boliviano e ela me respondeu que tinha esperança que ele, da janela de casa dele, visse aquela minha construção e se lembrasse dela.
Quando lhe contei o sonho, que ao fim e ao cabo não passava dum sonho estúpido, ela riu-se e deu-me um beijo furtivo nos lábios. Depois tirou duas maçãs dum saco de plástico, limpou-as à própria camisola e deu-me uma enquanto trincou a outra de forma a prendê-la na boca.
Esse foi o único beijo que demos, mas a verdade é que sinto que gostei realmente dela, sem nunca me ter apaixonado. É uma sensação difícil de explicar porque nunca foi clara para mim próprio. Para ela, aliás, também não. De tal forma que quando acabámos por ter uma conversa séria sobre o assunto, sobre a nossa proximidade tão pouco consumada fisicamente, ela respondeu-me que o melhor, quando estivéssemos a sentir que íamos passar uma certa barreira, era começarmos a caminhar para lugar nenhum.
Percebi-a imediatamente e, apesar da minha ideia ter vindo do nada, acabou por encontrar o seu próprio contexto.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Cara de...

Comprei esta pequena estatueta em bronze numa viagem de trabalho aos EUA, numa loja de antiguidades de New Jersey.
Por ser uma peça completamente fora do restante conteúdo daquela loja, julgo que eles não sabiam o que isto era... e é, mas agora na minha colecção.



Um sábado qualquer... - «Preocupações do Adão»



Um sábado qualquer...

10 maio 2013

Reigning Sound - «She's Bored With You»

Prostituição - a minha história (XII)

Verão de 1997... (...) Sentada à minha frente, pintava-me os lábios de um vermelho obsceno, olhava-me, satisfeita, mostrou-me o espelho para que contemplasse a maravilha: todo o esplendor da vulgaridade, um néon luminoso num cartaz pálido, o sorriso de uma palhacinha de rua e eu sorri, sorri, sorri bastante para experimentar aquela boca que, certamente, não era minha. Olhei o meu cigarro manchado daquela cor e tive vontade de fazer imensas caretas ao espelho. "Assim, vais fazer mais homens!", exclamava ela, eu tentava fazer um ar satisfeito mas o espelho devolvia-me um ar aparvalhado que, felizmente, em mim, poderiam interpretar como satisfação. Não via qualquer necessidade de "fazer mais homens", já tinha entre dois a seis atendimentos diários mas, se o diziam e de forma tão convicta, é porque devia ser verdade. Um cliente ligava a reclamar que eu não tinha aparecido para almoçar com ele, tal como tinha combinado. Aquilo não me fez qualquer sentido, de facto tinha-me convidado para almoçar, combinou hora e local mas aquele senhor de idade, uma espécie de pelicano gordo que se arrastava em vez de andar, com uma bengala na mão, que resmungava em vez de falar, não me parecia pertencer à realidade, à dimensão em que eu fazia coisas banais como almoçar acompanhada num restaurante e, quando me convidou e me explicou os detalhes da hora e local, eu devo ter abanado a cabeça para cima e para baixo, como se ele estivesse a imaginar mais um episódio daquele filme em que eu tinha de o vestir e despir e ampará-lo ao sentar-se e levantar-se porque ele já não conseguia fazer nada sozinho, não me ocorreu contrariar-lhe uma fantasia inofensiva que o estava a deixar contente, era evidente que aquilo não podia ser a sério, então como seria o absurdo de me juntar àquele personagem num sitio real do Mundo e comer? O que conversaríamos? Teria de lhe dar o comer à boca? Mas o homem telefonava a reclamar, afinal era uma pessoa real que até tinha estado num sítio do Mundo real à minha espera, afinal existia mesmo e exigia ver o meu Bilhete de Identidade porque, obviamente, se eu não tinha atendido o tão simpático convite dele era porque devia ser menor!!! Nesse dia, percebi também que ninguém naquela casa tinha dúvidas quanto à minha idade, toda a gente achava que eu era menor, a estupefacção quando mostrei a minha identificação à recepcionista e ela confirmou que eu já tinha os dezoito foi geral. E assim se passou mais um surreal dia, entre retoques de maquilhagem e sugestões de como dispensar convites para almoços e afins sem parecer não ter vontade de aceitar. (Continua)

Postalinho para masoquistas com reminiscências hippies

"Olá, São Rosas!
Não sei se estarás interessada em divulgar um dildo que estou a produzir num canteiro em minha casa, destinado a um nicho muito específico de mercado, penso eu: Masoquistas com reminiscências hippies…
Dá-lhe a divulgação que considerares mais (in) conveniente…
Citando-te (sem conotações taugomaticas):
A bagaço"
Eduagdo Magtins


Foi corno