18 junho 2013

El Guincho - «Bombay»


EL GUINCHO | Bombay from MGdM | Marc Gómez del Moral on Vimeo.

Eva portuguesa - «Apenas mãe»

Ontem fui mãe. Só mãe. Completamente mãe.
Não que também não o seja nos outros dias, mas ontem não vivi nem pensei em mais nada.
Limitei-me a ser mimada pelo meu filho e a ter um dia só nosso, para fazermos coisas que agradassem aos dois.
Não pensei em trabalho, em dinheiro, em homens, em amores e desamores. Nem sequer pensei no sentido e rumo que dei e contínuo a dar à minha vida.
Não pensei na renda que tenho que pagar daqui a dois dias, na conta absurda da luz (200€!) cujo prazo já terminou, no aproveitamento escolar do meu filho, de ele estar apenas ao meu encargo, nem sequer na minha mãe há tantos anos morta e que tanta falta me faz...
Ontem, dia da mãe, o meu filho foi-me acordar com um ramo de rosas nas mãos e um abraço daqueles que me chega à alma.
Aquele pirralho que é a única coisa que importa na minha vida, armou-se em crescido e foi-me dando surpresas atrás umas das outras...

Primeiro aquele acordar meigo e romântico (como pode uma criança ser romântica?...). Depois já estava de dentes lavados e vestido para irmos para a piscina. A seguir levou-me à sala, onde tinha o pequeno almoço preparado para os dois. Por baixo do meu guardanapo tinha um embrulho: uma prenda feita por ele!
Fugindo às minhas mariquices de mãe babada, informou-me como ia ser o nosso dia: primeiro piscina, depois queria oferecer-me um almoço num restaurante (com o dinheiro que tinha no mealheiro), depois alugávamos um filme e comíamos pipocas.
E assim foi!...
O meu filho fez e organizou o melhor dia da mãe que eu já alguma vez tive.
E eu pude sentir-me feliz e ser apenas mãe...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Ar» - Susana Duarte

beija-me os olhos marejados de ausências,

e ausenta-te de ti, como se na fantasmagórica

sombra que da ausência emana, pudesses voar

até onde te esperam as flores dos seios brancos

de camomilas lançadas ao vento, às nuvens, às

luzes das ondas, às bordas dos sorrisos, e às cálidas

águas dos ventres. ausenta-te de ti, e sonha-me,

navegante flávio dos meus cabelos negros, negros

das sombras que me habitam, onde tu não estás.

______________tento respirar__________________

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Camisinha de bilros (artesanato de Vila do Conde)

Tentei, durante vários anos, encontrar alguém que pudesse fazer uma «camisinha de bilros», com base num desenho que um visito me tinha enviado, de origem desconhecida e que aqui reproduzo:


Provavelmente por pruridos culturais e religiosos, nunca consegui convencer alguém de Peniche (onde as rendas de bilros são uma tradição muito acarinhada) a fazer-me este trabalho. Recentemente, uma artesã de rendas de bilros de Peniche ficou de pensar nisso e aguardo uma resposta.
Entretanto, encontrei quem me fizesse esta «camisinha» de Verão, bem arejada, noutra localidade com pergaminhos nesta arte: Vila do Conde. E apresento-vos o resultado, em fio de seda (e não algodão), de que me orgulho de passar a pertencer à minha colecção.
Até a cor (rosa, nada habitual em renda de bilros, pois o comum é o branco e o cru) foi escolhida e justificada: "Cabeças desempoeiradas passam também por outras cores".
São 18 centímetros de comprimento e 5 de diâmetro (sim, sim, para a maioria dos homens seria uma camisinha folgada e, muito provavelmente, teria que fazer-se bainha).





17 junho 2013

Anúncio da MTV - são cordas vocais, seus tarados!

«conversa 1988» - bagaço amarelo

Ela - Andamos sempre a dizer que vamos organizar um jantar com os nossos amigos de antigamente e nunca mais...
Eu - Este anos podíamos fazer uma sardinhada...
Ela - Sim, boa ideia.
Eu adoro sardinhas.
Eu - Eu também.
Ela - Ainda dizes que não nos entendemos. Estás a ver? Há uma coisa em que estamos em sintonia...
Eu - Sim, de facto. Adoro umas sardinhas com broa e pimento assado.
Ela - Com broa e pimento assado é que já não. Prefiro-as no prato com uma saladinha de tomate e alface.
Eu - Pronto... não é grave, desde que possamos escolher o mesmo vinho...
Ela - Eu não bebo vinho. No máximo bebo uma cervejinha, mas actualmente é mais água..
Eu - Isso lá é bebida para acompanhar sardinhas?!
la - Então não é?! Vamos para o campo assar umas sardinhas, levamos umas cervejas fresquinhas e a ver se não bebes...
Eu - Para o campo?! Sardinhas é na praia. Em Mira, por exemplo.
Ela - Não gosto de piqueniques na praia. É só areia!
Eu - Bem... se calhar é melhor pensar noutra coisa, sem ser uma sardinhada.
Ela - Talvez... umas fêveras de porco, por exemplo.
Eu - Não como carne vermelha, actualmente.
Ela - Bem, talvez seja melhor adiar este projecto e pensar melhor lá mais para a frente...
Eu - Talvez...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Se Deus fosse uma mulher» de Mário Benedetti

"¿Y si Dios fuera una mujer?”
Juan Gelman


E se Deus fosse uma mulher?
Indaga Juan sem pestanejar
Ora, ora se Deus fosse mulher
É possível que agnósticos e ateus
Não disséssemos não com a cabeça
E disséssemos sim com as entranhas
Talvez nos aproximássemos de sua divina nudez
Para beijar seus pés não de bronze,
Seu púbis não de pedra,
Seus peitos não de mármore,
Seus lábios não de gesso.
Se Deus fosse mulher a abraçaríamos
Para arrancá-la de sua distância
E não haveria que jurar
Até que a morte nos separe
Já que seria imortal por antonomásia
E em vez de transmitir-nos Aids ou pânico
Nos contaminaria de sua imortalidade
Se Deus fosse mulher não se instalaria
Solitária no reino dos céus
Mas nos aguardaria no saguão do inferno
Com seus braços não cerrados,
Sua rosa não de plástico,
E seu amor não de anjo
Ai meu Deus, meu Deus
Se até sempre e desde sempre
Fosses uma mulher
Que belo escândalo seria,
Que afortunada, esplêndida, impossível,
Prodigiosa blasfêmia!"

Mário Benedetti

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Enquanto isso, num universo paralelo…



Não queria viver nesse mundo não.

Capinaremos.com

16 junho 2013

A máquina que desenha pénis

Até que a morte os separe

Odiavam-se imenso e isso transparecia em todos os encontros públicos que protagonizavam. Algures, decidiram casar.

A Sereia da Caparica


Era uma vez o sofá de veludo verde e a gaiola do canário que já iam de arrasto nas marés vivas e ela olhava impotente aquele parque de campismo da Costa da Caparica onde já tinha sido tão feliz.

O seu mecânico começara por levá-la para a Cova do Vapor, a ver o mar dentro do carro e entre duas larachas ao pôr do sol desapertava a braguilha e levantava-lhe as saias e navegava por ela adentro, sempre a dar como as cavalas a saltar nas redes, até os vidros embaciarem. Outras vezes, lambia-lhe as mamocas todas dizendo que ela sabia a espuma do mar ou deixava-a literalmente sem fala investindo a sua cana de pesca nos lábios pintados de salmão como quem serve um lanchinho mas acabava sempre a chamar-lhe minha sereia.

Juntaram o dinheiro da mecânica com o de lavar e secar cabeleiras e compraram uma tenda, com avançado, candeeiro e frigorífico a gás, para se instalarem em todos os dias livres no parque de campismo, longe da chiadeira dos carris do Cacém e no meio de todas as churrascadas comunitárias em que os homens de tronco nú viravam as febras na brasa e as mulheres em fato de banho mostravam as carnes enquanto arranjavam as saladas nos alguidares plásticos comprados na feira estival do campo dos pescadores.

E agora no meio daquela tempestade, como espírito do ar ia o projecto da caravana munida de opacas paredes que impedissem à noite a projecção das suas intimidades iluminadas para os restantes campistas, transformada em espuma do mar.


«EGO TE ABSOLVO»


Via Tamburina