19 junho 2013

«respostas a perguntas inexistentes (244)» - bagaço amarelo

Não sei todos chegaram a fazer isto. Eu pelo menos cheguei, no meu princípio da adolescência. Estou a falar de rasgar um bocadinho de papel duma folha do caderno de escola e escrever uma mensagem de Amor. Depois amarfanhá-la e entregá-la discretamente a uma miúda da mesma turma, a duas ou três secretárias de distância, normalmente por via aérea.
Os telemóveis acabaram com isto, cobrando alguns cêntimos para fazer exactamente o mesmo, evitado até o risco que o papel caia nas mãos erradas. Pensei nisto hoje, quando ouvi uma mãe ralhar com o filho por causa da quantidade de mensagens que ela anda a enviar a uma miúda qualquer. É uma questão de dinheiro, não de conteúdo. Estamos lixados.
Percebo perfeitamente que aquele rapaz que vi no café, corado pela vergonha que a voz alta da mãe o fazia passar, não envie papelinhos como eu fazia na idade dele. Deve ser foleiro ou, como dizem agora os miúdos, "não cria cenário" (aprendi esta com a minha filha). A tecnologia liberta-nos, mas ao mesmo tempo aprisiona-nos. Aquele rapaz não pode enviar mensagens de Amor se a mãe não lhe carregar o telemóvel. Eu podia.
A Eva, na verdade, não me ligou nada quando lhe disse que gostava dela. Pegou na bolinha de papel, olhou para mim com um certo ar de desprezo e rasgou-a em dois ou três pedaços enquanto abanava os ombros. A minha história de Amor com ela morreu ali, à nascença. Não se falou mais nisso. Os meus pais não me controlavam o saldo de folhas de papel dos meus cadernos.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

O humor como arma contra o cancro

Criada para a «Liga Contra el Cancer», do Peru, a campanha usa cuecas estampadas com objectos de uso comum. No elástico, um importante recado: “Dê uma melhor utilidade aos seus dedos. faça o auto-exame dos testículos”.







via Sweelicious

Nunca contrarie uma mulher



Via Testosterona

18 junho 2013

El Guincho - «Bombay»


EL GUINCHO | Bombay from MGdM | Marc Gómez del Moral on Vimeo.

Eva portuguesa - «Apenas mãe»

Ontem fui mãe. Só mãe. Completamente mãe.
Não que também não o seja nos outros dias, mas ontem não vivi nem pensei em mais nada.
Limitei-me a ser mimada pelo meu filho e a ter um dia só nosso, para fazermos coisas que agradassem aos dois.
Não pensei em trabalho, em dinheiro, em homens, em amores e desamores. Nem sequer pensei no sentido e rumo que dei e contínuo a dar à minha vida.
Não pensei na renda que tenho que pagar daqui a dois dias, na conta absurda da luz (200€!) cujo prazo já terminou, no aproveitamento escolar do meu filho, de ele estar apenas ao meu encargo, nem sequer na minha mãe há tantos anos morta e que tanta falta me faz...
Ontem, dia da mãe, o meu filho foi-me acordar com um ramo de rosas nas mãos e um abraço daqueles que me chega à alma.
Aquele pirralho que é a única coisa que importa na minha vida, armou-se em crescido e foi-me dando surpresas atrás umas das outras...

Primeiro aquele acordar meigo e romântico (como pode uma criança ser romântica?...). Depois já estava de dentes lavados e vestido para irmos para a piscina. A seguir levou-me à sala, onde tinha o pequeno almoço preparado para os dois. Por baixo do meu guardanapo tinha um embrulho: uma prenda feita por ele!
Fugindo às minhas mariquices de mãe babada, informou-me como ia ser o nosso dia: primeiro piscina, depois queria oferecer-me um almoço num restaurante (com o dinheiro que tinha no mealheiro), depois alugávamos um filme e comíamos pipocas.
E assim foi!...
O meu filho fez e organizou o melhor dia da mãe que eu já alguma vez tive.
E eu pude sentir-me feliz e ser apenas mãe...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Ar» - Susana Duarte

beija-me os olhos marejados de ausências,

e ausenta-te de ti, como se na fantasmagórica

sombra que da ausência emana, pudesses voar

até onde te esperam as flores dos seios brancos

de camomilas lançadas ao vento, às nuvens, às

luzes das ondas, às bordas dos sorrisos, e às cálidas

águas dos ventres. ausenta-te de ti, e sonha-me,

navegante flávio dos meus cabelos negros, negros

das sombras que me habitam, onde tu não estás.

______________tento respirar__________________

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Camisinha de bilros (artesanato de Vila do Conde)

Tentei, durante vários anos, encontrar alguém que pudesse fazer uma «camisinha de bilros», com base num desenho que um visito me tinha enviado, de origem desconhecida e que aqui reproduzo:


Provavelmente por pruridos culturais e religiosos, nunca consegui convencer alguém de Peniche (onde as rendas de bilros são uma tradição muito acarinhada) a fazer-me este trabalho. Recentemente, uma artesã de rendas de bilros de Peniche ficou de pensar nisso e aguardo uma resposta.
Entretanto, encontrei quem me fizesse esta «camisinha» de Verão, bem arejada, noutra localidade com pergaminhos nesta arte: Vila do Conde. E apresento-vos o resultado, em fio de seda (e não algodão), de que me orgulho de passar a pertencer à minha colecção.
Até a cor (rosa, nada habitual em renda de bilros, pois o comum é o branco e o cru) foi escolhida e justificada: "Cabeças desempoeiradas passam também por outras cores".
São 18 centímetros de comprimento e 5 de diâmetro (sim, sim, para a maioria dos homens seria uma camisinha folgada e, muito provavelmente, teria que fazer-se bainha).





17 junho 2013

Anúncio da MTV - são cordas vocais, seus tarados!

«conversa 1988» - bagaço amarelo

Ela - Andamos sempre a dizer que vamos organizar um jantar com os nossos amigos de antigamente e nunca mais...
Eu - Este anos podíamos fazer uma sardinhada...
Ela - Sim, boa ideia.
Eu adoro sardinhas.
Eu - Eu também.
Ela - Ainda dizes que não nos entendemos. Estás a ver? Há uma coisa em que estamos em sintonia...
Eu - Sim, de facto. Adoro umas sardinhas com broa e pimento assado.
Ela - Com broa e pimento assado é que já não. Prefiro-as no prato com uma saladinha de tomate e alface.
Eu - Pronto... não é grave, desde que possamos escolher o mesmo vinho...
Ela - Eu não bebo vinho. No máximo bebo uma cervejinha, mas actualmente é mais água..
Eu - Isso lá é bebida para acompanhar sardinhas?!
la - Então não é?! Vamos para o campo assar umas sardinhas, levamos umas cervejas fresquinhas e a ver se não bebes...
Eu - Para o campo?! Sardinhas é na praia. Em Mira, por exemplo.
Ela - Não gosto de piqueniques na praia. É só areia!
Eu - Bem... se calhar é melhor pensar noutra coisa, sem ser uma sardinhada.
Ela - Talvez... umas fêveras de porco, por exemplo.
Eu - Não como carne vermelha, actualmente.
Ela - Bem, talvez seja melhor adiar este projecto e pensar melhor lá mais para a frente...
Eu - Talvez...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Se Deus fosse uma mulher» de Mário Benedetti

"¿Y si Dios fuera una mujer?”
Juan Gelman


E se Deus fosse uma mulher?
Indaga Juan sem pestanejar
Ora, ora se Deus fosse mulher
É possível que agnósticos e ateus
Não disséssemos não com a cabeça
E disséssemos sim com as entranhas
Talvez nos aproximássemos de sua divina nudez
Para beijar seus pés não de bronze,
Seu púbis não de pedra,
Seus peitos não de mármore,
Seus lábios não de gesso.
Se Deus fosse mulher a abraçaríamos
Para arrancá-la de sua distância
E não haveria que jurar
Até que a morte nos separe
Já que seria imortal por antonomásia
E em vez de transmitir-nos Aids ou pânico
Nos contaminaria de sua imortalidade
Se Deus fosse mulher não se instalaria
Solitária no reino dos céus
Mas nos aguardaria no saguão do inferno
Com seus braços não cerrados,
Sua rosa não de plástico,
E seu amor não de anjo
Ai meu Deus, meu Deus
Se até sempre e desde sempre
Fosses uma mulher
Que belo escândalo seria,
Que afortunada, esplêndida, impossível,
Prodigiosa blasfêmia!"

Mário Benedetti

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Enquanto isso, num universo paralelo…



Não queria viver nesse mundo não.

Capinaremos.com