percorro-te caminhos situados nas nervuras das veias
e subo montanhas onde os poros se revelam aves soltas
as montanhas são heras trepadeiras que voam rumo
a lugares que não sei. deusas conspiram para que as asas
quebrem
e a queda sobre as ervas madrugadoras seja a realidade
imposta às sonoridades dos meus olhos. os olhos
não te vêem e,
na queda das águas da manhã, não seguram a tristeza.
amar-te é a queda das folhas sobre gotas orvalhadas
de uma montanha longínqua. e as sobras das neves.
percorro-te. sonho-te. sinto-te onde não te vejo. estranho
as auroras
pálidas do desejo de ser água. percorro-te. sonho-te.
sinto-te onde não te vejo. as danças pagãs pararam
nas portas das montanhas cobertas de gotas orvalhadas
pela tua longa ausência. sei-te onde não estás. percorro-te
marés e encontro-te nas portas da noite. de olhos fechados.
Susana Duarte
Foto: I. Cetta
Blog Terra de Encanto
08 outubro 2013
Revistas da colecção - 7
E mais revistas da minha colecção.
Lote de revistas de José Vilhena de 1975 a 2005 | Gaiola Aberta, Grande Enciclopédia Vilhena (fascículos 1, 2, 3, 4 e 6) e o Moralista | 15 |
Lote de revistas de humor portuguesas dos anos 70 e 80 | Exemplares de Cara Alegre, Olho Vivo, Can Can, Selecções Ri-te Ri-te, Ginjinha com Caroço!, etc. | 32 |
Lote de revistas eróticas portuguesas dos anos 70 e 80 | Exemplares de Amor e Sexo e Sexy Festival | 3 |
07 outubro 2013
Notícias fresquinhas do espaço de exposição da minha colecção
Ponto de situação feito hoje pelos meus parceiros:
"Neste momento estamos a planear e deve arrancar em menos de 1 mês a primeira fase do projecto, de avaliação e conservação estrutural e reparação de infra-estruturas."
Podes seguir as novidades da colecção e do espaço de exposição, aqui no blog ou na página «a funda São» no Facebook.
Para outros assuntos (complementares ao blog), tenho a minha página pessoal («São Rosas») no Facebook onde, tal como no blog, colabora muita malta que publica sempre novidades.
"Neste momento estamos a planear e deve arrancar em menos de 1 mês a primeira fase do projecto, de avaliação e conservação estrutural e reparação de infra-estruturas."
Podes seguir as novidades da colecção e do espaço de exposição, aqui no blog ou na página «a funda São» no Facebook.
Para outros assuntos (complementares ao blog), tenho a minha página pessoal («São Rosas») no Facebook onde, tal como no blog, colabora muita malta que publica sempre novidades.
«Kul-Kul» - zona rural de Bali (Indonésia) Instrumento para envio de sinais batendo com o falo (destacável) no corpo (vaginal?) Colecção de arte erótica «a funda São» |
«conversa 2017» - bagaço amarelo
Ela - Queres ir tomar café comigo hoje à tarde?
Eu - Pode ser...
Ela - Eu passo aí em tua casa às três. Pode ser?
Eu - Pode...
Ela - Não leves aliança mas, para variar, vê se te penteias e vestes com algum cuidado.
Eu - Eu não uso aliança. O que é que raio se passa?
Ela - Vamos a um café que eu cá sei, onde trabalha um gajo giríssimo, e tu vais-te mostrar muito interessado em mim enquanto eu te dou ao desprezo. Está bem?
Eu - Mas o que é que tu pensas que eu sou?!
Ela - És meu amigo e os amigos servem para isso mesmo. Um dia, se precisares, faço o mesmo por ti...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Na tua boca» de Maria do Rosário Pedreira
Na tua boca cantou subitamente uma voz. E, ao dizeres
o meu nome na rede de um abraço, o rio que outrora
bordava o campo emudeceu com as suas pedras lisas.
Então, foi possível
ouvir o vento soprar nas asas das borboletas e os
lagartos recolherem-se nos veios dos muros e o sol
ferir-se nos espinhos das roseiras.
Sobre a colina quente passou uma nuvem
e uma ave poisou, perplexa, no fio do horizonte
- por um instante, o dia mostrou as suas pálpebras tristes;
e, na brancura cega desse entardecer, a tua mão
escorregou pela inclinação do sol e veio contar as
sombras no meu decote.
São assim as mais pequenas histórias do mundo.
(de O Canto do Vento nos Ciprestes)
Maria do Rosário Pedreira
(Lisboa, 1959) é editora e escritora. Desempenha actualmente funções de editora na QuidNovi, depois de ter passado pela Temas & Debates e pela Gradiva. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Franceses e Ingleses, pela Universidade de Lisboa em 1981, foi professora de Português e Francês durante cinco anos.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
o meu nome na rede de um abraço, o rio que outrora
bordava o campo emudeceu com as suas pedras lisas.
Então, foi possível
ouvir o vento soprar nas asas das borboletas e os
lagartos recolherem-se nos veios dos muros e o sol
ferir-se nos espinhos das roseiras.
Sobre a colina quente passou uma nuvem
e uma ave poisou, perplexa, no fio do horizonte
- por um instante, o dia mostrou as suas pálpebras tristes;
e, na brancura cega desse entardecer, a tua mão
escorregou pela inclinação do sol e veio contar as
sombras no meu decote.
São assim as mais pequenas histórias do mundo.
(de O Canto do Vento nos Ciprestes)
Maria do Rosário Pedreira
(Lisboa, 1959) é editora e escritora. Desempenha actualmente funções de editora na QuidNovi, depois de ter passado pela Temas & Debates e pela Gradiva. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Franceses e Ingleses, pela Universidade de Lisboa em 1981, foi professora de Português e Francês durante cinco anos.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
06 outubro 2013
Dahhhh
Oh Senhor Doutor receite-me qualquer coisita para dormir que eu já não posso mais com a repetição diária daquele pesadelo nocturno.
Está a ver aquela esplanada próxima da pujante estátua do Cutileiro, não está?... Pois, começa sempre aí. Estamos sentados naquelas mesas pesadas de ferro com a esplanada a abarrotar de gente quando um enxame de meninas ciganas ou romenas, de alinhadas tranças loiras, nuazinhas e sem pêlos como nos postais eróticos do início do século XX, começa a distribuir beijinhos em troca de moedinhas reluzentes, zumbindo a valsa da Bela Adormecida.
Um dos meus afunilados sapatos cor de rosa salta em voo para o lago ao mesmo tempo que a respectiva perna se levanta para o pé tocar o fecho éclair fronteiro, subindo e descendo até a curva do pé se moldar perfeitamente na excrescência resultante. Os olhos dele sugam-me e reconstituo-me no seu colo , com a lycra das meias a rasgar pela fricção nas costas da cadeira e graças à discreta ajuda das mãos dele que engachadas nas minhas nádegas, as equilibram constantemente. Desço os meus lábios entreabertos, a pairar sobre os dele e como um camaleão apanho-lhe a ponta da língua que sorvo como a um bago de uva morangueira. Sinto a sua polpuda pele arroxeada bulir na minha como o volteio do vento numa folha. E enquanto o seu indicador esquerdo macera a minha bolota arrendondada, espremo-o, compassadamente, dentro de mim. Toda a gente está nua, apenas adornada de um filete preto como se resultássemos do risco de Crepax e copulam cadenciadamente exibindo a luminosidade dos corpos até que os empregados da casa, compostinhos nos seus laços sobre camisas engomadas aparecem diligentes a avisar que há fogo na cozinha e convém evacuar a área.
E aí acordo sobressaltada, Senhor Doutor e só me apetece dizer dahhhh... porque não é justo nunca ver o final do filme.
«Meteoro» - por Rui Felício
Corria o Natal de 1961, annus horribilis do Estado Novo, marcado pela perda de Goa uns dias antes, pela conspiração do quartel de Beja e pelos ataques dos angolanos em Luanda.
Os cientistas não tinham dúvidas!
A tenebrosa notícia era difundida ininterruptamente, entremeada com música clássica, pela televisão e pela rádio, fundamentada com cálculos matemáticos indiscutíveis. Salazar, com ar pungente, falou ao País, recomendando ao grande povo português que soubesse comportar-se com dignidade na hora da tragédia, porque a Pátria saberia renascer das cinzas, mesmo que ficasse orgulhosamente só no mundo, porque este era o castigo divino para aqueles que nos atacavam.
Um meteoro de enormes dimensões iria romper a atmosfera terrestre naquela noite. A energia do choque seria mais de um milhão de vezes superior à que libertara a bomba de Hiroshima! Sabia-se com exactidão o ponto onde ocorreria o impacto, perto do apeadeiro de São José, em Coimbra e era certa a destruição total do planeta Terra. Não havia forma de lhe escapar. Seria indiferente mudar de uma cidade para outra, de um país para outro. Era o apocalipse, o fim do mundo, tal como Nostradamus previra.
Interpretei o calor abafado que estranhamente me inundava o corpo naquela noite fria de Dezembro, como efeito da lenta aproximação incandescente do meteoro, depois da sua entrada elíptica nas altas camadas da atmosfera. A multidão em pânico olhava a bola luminosa que, a cada minuto, ia aumentando de diâmetro no breu da noite.
Ao meu lado, na rua, aquela bonita rapariga que eu só conhecia de uns fugazes encontros nos bailes do Clube Recreativo do Calhabé, tremia de medo sem saber o que fazer, tal como todos nós. Não havia mais do que um superficial conhecimento entre mim e a Ângela, por termos dançado duas ou três vezes, mas a aflição daquele momento aproximava-nos, impelia-nos um para o outro.
Olhámo-nos. Sem necessidade de quaisquer palavras, decidimos aproveitar os últimos momentos de vida. Beijámo-nos longamente, indiferentes aos gritos aterrorizados da multidão. À espera do fim próximo que o calor cada vez mais intenso prenunciava, queimando-nos os corpos, o beijo catalisava as profundezas de todos os sentidos...
Subitamente, acordei sobressaltado, exausto, com o coração a bater desenfreado. Espreitei pelas persianas do meu quarto, e em vez do imaginado cenário de destruição, vi o verde das árvores dos quintais do bairro e a calmaria de um bonito sol de inverno, rebrilhando no orvalho das plantas e das flores . Afinal tudo não passara de um sonho!
Vesti-me à pressa, corri à Fonte da Cheira e bati à porta da Ângela que a abriu sorridente, pegando-me delicadamente na mão. Por algum efeito telepático, também ela, como eu, tinha sonhado com o hipotético meteoro. Também ela tinha sentido o mesmo calor abrasador que eu senti...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Postalinho do Vasco Berardo
"Especialmente para ti, fotografei estas duas obras do Vasco Berardo.
Sempre satírico, o Vasco, por vezes delicia-nos com estes pormenores.
A escultura esá no jardim e lembro-me que, quando do casamento do filho, a sogra teve o cuidado de a esconder, com arbustos!
Beijinho"
Daisy
Sempre satírico, o Vasco, por vezes delicia-nos com estes pormenores.
A escultura esá no jardim e lembro-me que, quando do casamento do filho, a sogra teve o cuidado de a esconder, com arbustos!
Beijinho"
Daisy
05 outubro 2013
«Chocolate» - João
"Dois anos volvidos desde que te disse que me ia vir dentro de ti, e de tu me teres pedido «por favor, por favor vem-te dentro de mim». Dois anos volvidos desde que me disseste um adeus sem o dizer, e eu coleccionando memórias e suspiros. Dias e dias, semanas seguidas, todos estes meses a pensar o que seria de ti. Se pensavas em mim. Se havia amor, se havia indiferença, se havia alguma coisa à qual se pudesse dar um nome e a partir dela criar uma ponte. E havia já desânimo. Uma tentativa forçada de aceitar que não te veria de novo, que o mundo seria para nós uma espécie de universos paralelos, onde apenas por acaso (feliz para mim) me cruzaria contigo. Onde só mesmo por acaso estaríamos no mesmo local a tomar um pequeno-almoço, ou de copo na mão num qualquer final de tarde.
E assim, de repente, sem aviso, entro no meu gabinete, dispo o casaco que penduro, e ao sentar-me encontro, perto do teclado, uma pequena caixa de encomenda postal. Sem remetente. Mas a letra fez-me endireitar em surpresa. Apressado, mas seguro, abri a caixa e encontrei no seu interior uma única coisa. Um chocolate. Um chocolate que apenas nós sabiamos o valor que tinha. E tu sempre me havias dito que quando me quisesses transmitir que estavas de coração aberto, que querias estar comigo, era esse o chocolate que eu veria, de algum modo, em algum sítio. E eu havia esperado tanto por ele. E achado que já não o veria. E agora estava ali, à minha frente. E fez-me recuar à ansiedade de teenager, quase à vontade de pular e gritar «ela quer! ela quer!».
Saltei em direcção ao bengaleiro. Voltei a vestir o casaco. E nem sequer tive tempo de ouvir a porta bater atrás de mim."
João
Geografia das Curvas
E assim, de repente, sem aviso, entro no meu gabinete, dispo o casaco que penduro, e ao sentar-me encontro, perto do teclado, uma pequena caixa de encomenda postal. Sem remetente. Mas a letra fez-me endireitar em surpresa. Apressado, mas seguro, abri a caixa e encontrei no seu interior uma única coisa. Um chocolate. Um chocolate que apenas nós sabiamos o valor que tinha. E tu sempre me havias dito que quando me quisesses transmitir que estavas de coração aberto, que querias estar comigo, era esse o chocolate que eu veria, de algum modo, em algum sítio. E eu havia esperado tanto por ele. E achado que já não o veria. E agora estava ali, à minha frente. E fez-me recuar à ansiedade de teenager, quase à vontade de pular e gritar «ela quer! ela quer!».
Saltei em direcção ao bengaleiro. Voltei a vestir o casaco. E nem sequer tive tempo de ouvir a porta bater atrás de mim."
João
Geografia das Curvas
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