"Acordei sem razão especial nem hora marcada. Rodei a cabeça na direcção do relógio e passava pouco das três da manhã. A tua perna estava lançada sobre mim, como tantas vezes acontecia. Gostavas de fazê-lo, e eu também. Talvez fosse para eu não fugir. Não sei. Não me importa. Sentindo o meu corpo mover-se, mexeste-te e mudaste de posição, de costas para mim. E eu cheguei-me a ti, encostei-me ao teu corpo, também como tantas vezes. Gostava de fazê-lo. E tu também. Por felicidade da nossa anatomia, enquanto perdia o meu nariz no teu cabelo e as nossas coxas se tocavam, perfeitamente alinhados e tu molhada, o meu caralho cresceu até entrar sozinho na tua cona. Sem esforço, nem acerto. Só compasso, naquela hora do lobo, em que afundado nos teus cabelos e tu gemendo baixinho nos permitimos vir, ficando depois assim, agarrados, apertados, alheios ao frio do mundo, até ser dia novamente e partirmos, mundanos, aos afazeres interrompidos, a espaços, por sorrisos silenciosos que ninguém sabia ao que vinham, mas eram apenas a antecipação de mais uma noite, de mais um inconfessável entre as nossas paredes."
João
Geografia das Curvas
01 janeiro 2014
«conversa 2037» - bagaço amarelo
Ela - Mas que naco de gajo que conheci hoje!
Eu - Então?
Ela - Um homem com umas mãos enormes. Sempre adorei homens com mãos grandes.
Eu - Mãos grandes?! A que propósito?
Ela - Tenho mesmo que te explicar?
Eu - Tens.
Ela - olha bem para mim.
Eu - Sim...
Ela - O que é que eu tenho grande e que precisa de mãos grandes para apertar?
Eu - O nariz?
Ela - Eu tenho mãos pequenas, mas levas já duas chapadas.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Eu - Então?
Ela - Um homem com umas mãos enormes. Sempre adorei homens com mãos grandes.
Eu - Mãos grandes?! A que propósito?
Ela - Tenho mesmo que te explicar?
Eu - Tens.
Ela - olha bem para mim.
Eu - Sim...
Ela - O que é que eu tenho grande e que precisa de mãos grandes para apertar?
Eu - O nariz?
Ela - Eu tenho mãos pequenas, mas levas já duas chapadas.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
31 dezembro 2013
«Balkan Erotic Epic» - Marina Abramovic
A ideia é esta: Marina Abramovic explora neste trabalho/ instalação a forma como a sexualidade foi definida pela tradição pagã balcânica.
Marina Abramovic - Balkan Erotic Epic - from HaufenMag on Vimeo.
Marina Abramovic - Balkan Erotic Epic - from HaufenMag on Vimeo.
A FODA COMO ELA É (VII) - Formação Profissional: Escolas de Putedo
Ginásio do Instituto de Formação Profissional do Amor, projecto de Tomás Taveira |
Por esta altura, já todos se puseram de acordo sobre o assunto, entretanto despido das vestes garridas da controvérsia. Os préstimos ancestrais das mercenárias, mercenários, bi-trans-mercenários - puta de confusão! - do amor, deviam ser legalizados, profissionalizados e tributados, como acontece em países de civilização mais fina. Mas em momentos de cavaqueira, o "ora veja" amiúde fica-se pela tributação, dada a irresistível tendência lusitana para a torpe inveja. Avancemos um pouco no exercício conjectural.
Está, então, a prostituição regulamentada por decreto-lei, publicado em Diário da República, e quem a exerce passa factura, paga IRS e o cardápio inclui preços com IVA. O negócio organiza-se e complica-se, nascem empresas de serviços generalistas e especializados, com entrega ao domicílio, departamentos de recursos humanos, linhas de apoio ao cliente, livro de reclamações e toda a parafernália. Naturalmente, aumenta a exigência sobre as competências das horizontais, no exercício de seu mister. A saída da clandestinidade desvia parte da atenção do cliente, da situação para a qualidade do serviço. E já não chegam as dicas de calejadas, nem os work-chupe das madames para se manterem as páginas imaculadas de reclamações. Impõe-se formação sistematizada, com teoria e prática, oficialmente certificada pelo ministério competente. Não é só escachar o chispe, arregaçar prepúcios a eito, enfim passar o rato reclinada numa poltrona, tasquinhando tremoços de uma selha em plástico ao alcance da mão, enquanto o outro se alivia. A profissional de categoria conjuga na mesma pessoa a hábil, delicada gueisha com a mais devassa Messalina. Um comentário desacertado pode inutilizar um broche de valor histórico. Pelo contrário, sempre que puta de talento sabe predispor, o êxtase de seu amigo é completo. Ficai certos de que levará dali mais do que uma insistente comichão no escroto, em jeito de recordação.
Diz-se ser a mais velha das ocupações, mas será também a que sofre os piores efeitos da falta de profissionalismo. É por estas que critico putanheiro que esfregue as mãos de contente à ideia da legalização. Não estão a ver bem o filme: sem uma Escola Técnica de Putedo, encartada pelo Estado, seria o mesmo que transformar esquinas em casas de banho públicas. Muito higiénico, mas nada erótico.
«Verbo» - Susana Duarte
um dia, saberei conjugar todos os verbos
-mesmo os verbos de ser arriba
escarpada
sobranceira-
e, ao conjugá-los, saberei onde estás:
manhã orvalhada de todas as palavras
de antes, desfloradas em neblinas
onde gotas de geada quebram folhas
suaves, lentas folhas
de chuva antiga
que me acende (caminhos?)
conjugo o verbo-palavra mitigada
pelo bater de asas suave
da leve
ondulação das águas
e, ao dizer da eloquência
dos sons, procuro ainda.
procuro o abrigo das asas
rectrizes de todos os uivos,
voos lentos dos meus braços curvos.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
-mesmo os verbos de ser arriba
escarpada
sobranceira-
e, ao conjugá-los, saberei onde estás:
manhã orvalhada de todas as palavras
de antes, desfloradas em neblinas
onde gotas de geada quebram folhas
suaves, lentas folhas
de chuva antiga
que me acende (caminhos?)
conjugo o verbo-palavra mitigada
pelo bater de asas suave
da leve
ondulação das águas
e, ao dizer da eloquência
dos sons, procuro ainda.
procuro o abrigo das asas
rectrizes de todos os uivos,
voos lentos dos meus braços curvos.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Casal asiático
Peça trabalhada em madeira com mecanismo articulado.
Origem: Ásia?
A partir de agora na minha colecção.
Casal asiático from São Rosas on Vimeo.
Origem: Ásia?
A partir de agora na minha colecção.
Casal asiático from São Rosas on Vimeo.
30 dezembro 2013
«respostas a perguntas inexistentes (262)» - bagaço amarelo
- Quantos?
- Cabem todos numa só mão.
- Então fecha-a e guarda-os.
Regresso a um baloiço velho, já velho quando eu era criança, onde os dias baloiçavam numa tontura desigual. Era a Helena, que ia sempre mais alto do que eu e depois punha-se em pé. Chegava a ficar na horizontal, quando atingia a altura máxima atrás ou à frente e eu, com medo, a dizer-lhe que não me apetecia baloiçar. Quando o fiz, caí, e ela saltou lá de cima para me secar as lágrimas. Deu-me a mão para me ajudar a levantar e eu fechei-a, para guardar a sensação do toque dela.
Regresso a uma incerteza que nada sôfrega no meu copo de uísque.
- Lembras-te de mim?
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Para atravessar…» de Sofia de Mello B. e Andresen
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sofia de Mello B. e Andresen
(Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004)
foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sofia de Mello B. e Andresen
(Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004)
foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
29 dezembro 2013
Target
A sua presença impunha-se pelo corte de cabelo, o pólo Sacoor ou Giovanni Galli, o vinco das calças e um perfume da Boss, com o ar triunfante de quem vai pelo menos três vezes por semana ao ginásio e faz as comprinhas todas na centralidade do Corte Inglês.
Era fácil notá-lo assim alto e espadaúdo naquela vernissage de um artista plástico em ascensão de alguma forma acentuado pela voz de cama com que pronunciava com licença e obrigado ao pegar nos mini-croquetes ou tostinhas com patê, antes de os deglutir.
Entre um sumo de laranja e um moscatel de Setúbal geladinho consegui averiguar que aquele segmento percebia tanto de pintura quanto eu entendo de costura ou bordados embora a amizade mantida desde a infância com o autor o obrigassem a comparecer ali e além do mais, a sua voz continuava macia como pêlo de gato e assustadoramente quente como chocolate derretido.
Deixei-o debitar um rol de frases feitas sobre o sol, a praia, melhores sítios de férias até que alguns erros de pronúncia me perfuraram os tímpanos. Não estava no meu plano levar o corrector ortográfico para a cama mas sou obrigada a reconhecer que mesmo na pressa de apalpar a carninha toda a um gajo, colar a pele dele à minha e absorvê-lo como água de um cantil, não sujeito os meus ouviditos a fífias.
Fugi a pretexto de um amigo acabadinho de chegar porque, definitivamente Senhor Doutor, ele não era o meu target.
Era fácil notá-lo assim alto e espadaúdo naquela vernissage de um artista plástico em ascensão de alguma forma acentuado pela voz de cama com que pronunciava com licença e obrigado ao pegar nos mini-croquetes ou tostinhas com patê, antes de os deglutir.
Entre um sumo de laranja e um moscatel de Setúbal geladinho consegui averiguar que aquele segmento percebia tanto de pintura quanto eu entendo de costura ou bordados embora a amizade mantida desde a infância com o autor o obrigassem a comparecer ali e além do mais, a sua voz continuava macia como pêlo de gato e assustadoramente quente como chocolate derretido.
Deixei-o debitar um rol de frases feitas sobre o sol, a praia, melhores sítios de férias até que alguns erros de pronúncia me perfuraram os tímpanos. Não estava no meu plano levar o corrector ortográfico para a cama mas sou obrigada a reconhecer que mesmo na pressa de apalpar a carninha toda a um gajo, colar a pele dele à minha e absorvê-lo como água de um cantil, não sujeito os meus ouviditos a fífias.
Fugi a pretexto de um amigo acabadinho de chegar porque, definitivamente Senhor Doutor, ele não era o meu target.
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