Ginásio do Instituto de Formação Profissional do Amor, projecto de Tomás Taveira |
Por esta altura, já todos se puseram de acordo sobre o assunto, entretanto despido das vestes garridas da controvérsia. Os préstimos ancestrais das mercenárias, mercenários, bi-trans-mercenários - puta de confusão! - do amor, deviam ser legalizados, profissionalizados e tributados, como acontece em países de civilização mais fina. Mas em momentos de cavaqueira, o "ora veja" amiúde fica-se pela tributação, dada a irresistível tendência lusitana para a torpe inveja. Avancemos um pouco no exercício conjectural.
Está, então, a prostituição regulamentada por decreto-lei, publicado em Diário da República, e quem a exerce passa factura, paga IRS e o cardápio inclui preços com IVA. O negócio organiza-se e complica-se, nascem empresas de serviços generalistas e especializados, com entrega ao domicílio, departamentos de recursos humanos, linhas de apoio ao cliente, livro de reclamações e toda a parafernália. Naturalmente, aumenta a exigência sobre as competências das horizontais, no exercício de seu mister. A saída da clandestinidade desvia parte da atenção do cliente, da situação para a qualidade do serviço. E já não chegam as dicas de calejadas, nem os work-chupe das madames para se manterem as páginas imaculadas de reclamações. Impõe-se formação sistematizada, com teoria e prática, oficialmente certificada pelo ministério competente. Não é só escachar o chispe, arregaçar prepúcios a eito, enfim passar o rato reclinada numa poltrona, tasquinhando tremoços de uma selha em plástico ao alcance da mão, enquanto o outro se alivia. A profissional de categoria conjuga na mesma pessoa a hábil, delicada gueisha com a mais devassa Messalina. Um comentário desacertado pode inutilizar um broche de valor histórico. Pelo contrário, sempre que puta de talento sabe predispor, o êxtase de seu amigo é completo. Ficai certos de que levará dali mais do que uma insistente comichão no escroto, em jeito de recordação.
Diz-se ser a mais velha das ocupações, mas será também a que sofre os piores efeitos da falta de profissionalismo. É por estas que critico putanheiro que esfregue as mãos de contente à ideia da legalização. Não estão a ver bem o filme: sem uma Escola Técnica de Putedo, encartada pelo Estado, seria o mesmo que transformar esquinas em casas de banho públicas. Muito higiénico, mas nada erótico.