30 dezembro 2013

«respostas a perguntas inexistentes (262)» - bagaço amarelo

Regresso à luz que costuma visitar-me todas as noites sós. Aquela que vem, trémula, dum fraco candeeiro público e se deita silenciosamente no meu sofá. Deito-me com ela, sem sexo, e abraço-a. Conversamos sobre a pressa dos dias que passam e se ultrapassam, sobre como o Amor neles se acanha e, finalmente, sobre o sabor dum copo de uísque novo. Digo-lhe que contei pelos dedos os sorrisos que vi hoje, durante todo o dia, na rua e no café da esquina. Enfim, no meu pequeno mundo.

- Quantos?
- Cabem todos numa só mão.
- Então fecha-a e guarda-os.

Regresso a um baloiço velho, já velho quando eu era criança, onde os dias baloiçavam numa tontura desigual. Era a Helena, que ia sempre mais alto do que eu e depois punha-se em pé. Chegava a ficar na horizontal, quando atingia a altura máxima atrás ou à frente e eu, com medo, a dizer-lhe que não me apetecia baloiçar. Quando o fiz, caí, e ela saltou lá de cima para me secar as lágrimas. Deu-me a mão para me ajudar a levantar e eu fechei-a, para guardar a sensação do toque dela.

Regresso a uma incerteza que nada sôfrega no meu copo de uísque.

- Lembras-te de mim?


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»