Todas as pessoas, com ou sem uma pila como eu, apreciam
beijos. Sim, eu vejo-os nessas marmeladas e até acabo sempre por tentar alinhar
na festa. É algo que não podem negar, essa vossa apetência pelas bocas e pelo
que elas são capazes em matéria de prazer.
Neste contexto, sinceramente não consigo perceber porque vos
escandaliza tanto que um pénis aprecie tanto essa manifestação de carinho ou de
desejo que encontram nuns lábios quentes e carnudos.
Nós, as pilas, também temos mecanismos emocionais e até são independentes
da mixórdia, nessa matéria, dos coisos agarrados a nós. Não temos é boca para
expressarmos aquilo que nos vai na alma e às tantas é por isso que, de forma
instintiva, procuramos incessantemente uma.
No entanto, raramente os coisos agarrados a nós verbalizam a
vontade que lhes dá, generosos, de conduzirem aquela boca linda e acolhedora até
nós, de partilharem connosco essa fonte inesgotável de emoção e de prazer que
parece cortar-vos a respiração.
Sim, nós invejamos a vossa emoção quando se beijam. E
queremos sentir também essa aceleração, esse remoinho de sensações que vos
deixa com um ar absolutamente deliciado e palerma quando cada beijo mais
intenso chega ao fim.
E nós, pilas, também sabemos dar valor a uma história, ou apenas
um momento especial, cuja acção conduza de forma inevitável a um final prazenteiro
e, por isso mesmo, estupidamente feliz.