Film realizado por ocasião da exposição «l’Estuaire» em Nantes (2009), com pessoas seleccionadas através de anúncios classificados.
Fonte: Bernard Perroud
E.Chaton & C.Boursier-Mougenot _ Télescopages 2010 from Enna Chaton on Vimeo.
26 janeiro 2014
«Intruso» - por Rui Felício
Ela dormia e parecia em paz, depois de uns minutos antes ter sussurrado durante o sono, o nome do Paulo, o homem que amara e com quem vivera durante muito tempo.
Tinham-se separado há uns anos mas ela nunca deixou de o amar. Mesmo em sonhos, a imagem dele, a recordação dos bons momentos que viveram juntos, estava sempre viva, como uma melancólica obsessão, no rosto lindo da Fernanda.
O Carlos, agora ali deitado ao seu lado, sentia-se um estranho, um intruso, na intimidade que não lhe pertencia, que ainda era só dela e do Paulo.
Se fizesse o que a vontade lhe dizia e beijasse aqueles lábios entreabertos, na esperança de que ela acordasse com o mesmo desejo que a invadia quando dormia com o Paulo, como poderia adivinhar qual seria a sua reacção?
Se afastasse os lençóis e lhe beijasse o corpo, como iria saber se na cabeça da Fernanda isso não surgiria como gesto de outro homem, daquele afinal que ela nunca esquecera?
E, se em vez disso, ele a acordasse mesmo e, simplesmente, lhe confessasse o enorme desejo que estava a sentir, como se sentiriam ambos se ela lhe dissesse que não, que não tinha vontade?
Acariciou-lhe o cabelo, primeiro ao de leve, depois com maior firmeza, percorrendo com o polegar o rebordo da orelha, a seguir o pescoço, o ombro, as costas.
Tocou com os lábios na sua testa, deixou-os lá, e com um sopro cálido afastou-lhe os cabelos que lhe caíam em desalinho sobre os olhos fechados.
Fazia-lhe pequenas festas no rosto com uma das mãos e com a outra acariciou-lhe a anca.
Ela dormia ainda, mas ele sentiu o seu corpo mexer-se, contrair-se...
Beijou-lhe o lábio inferior e disse-lhe baixinho que queria amá-la.
- Hummm, ainda não estou bem acordada, disse ela.
- Esse Hummm quer dizer apenas que não queres que te acorde, ou significa que seria bom para ti?, perguntou ele.
- Quer dizer que será muito bom, respondeu ela.
Beijaram-se longamente, ela pegou-lhe na mão e fê-la deslizar da anca para a barriga.
Durante muito tempo foram cavalgando o desejo com mais desejo, crescendo incontrolado até ao êxtase.
Por fim, serenaram saciados, ofegantes.
Feliz, o Carlos tentava, contudo, adivinhar se o Paulo tinha estado ali entre eles.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Tinham-se separado há uns anos mas ela nunca deixou de o amar. Mesmo em sonhos, a imagem dele, a recordação dos bons momentos que viveram juntos, estava sempre viva, como uma melancólica obsessão, no rosto lindo da Fernanda.
O Carlos, agora ali deitado ao seu lado, sentia-se um estranho, um intruso, na intimidade que não lhe pertencia, que ainda era só dela e do Paulo.
Se fizesse o que a vontade lhe dizia e beijasse aqueles lábios entreabertos, na esperança de que ela acordasse com o mesmo desejo que a invadia quando dormia com o Paulo, como poderia adivinhar qual seria a sua reacção?
Se afastasse os lençóis e lhe beijasse o corpo, como iria saber se na cabeça da Fernanda isso não surgiria como gesto de outro homem, daquele afinal que ela nunca esquecera?
E, se em vez disso, ele a acordasse mesmo e, simplesmente, lhe confessasse o enorme desejo que estava a sentir, como se sentiriam ambos se ela lhe dissesse que não, que não tinha vontade?
Acariciou-lhe o cabelo, primeiro ao de leve, depois com maior firmeza, percorrendo com o polegar o rebordo da orelha, a seguir o pescoço, o ombro, as costas.
Tocou com os lábios na sua testa, deixou-os lá, e com um sopro cálido afastou-lhe os cabelos que lhe caíam em desalinho sobre os olhos fechados.
Fazia-lhe pequenas festas no rosto com uma das mãos e com a outra acariciou-lhe a anca.
Ela dormia ainda, mas ele sentiu o seu corpo mexer-se, contrair-se...
Beijou-lhe o lábio inferior e disse-lhe baixinho que queria amá-la.
- Hummm, ainda não estou bem acordada, disse ela.
- Esse Hummm quer dizer apenas que não queres que te acorde, ou significa que seria bom para ti?, perguntou ele.
- Quer dizer que será muito bom, respondeu ela.
Beijaram-se longamente, ela pegou-lhe na mão e fê-la deslizar da anca para a barriga.
Durante muito tempo foram cavalgando o desejo com mais desejo, crescendo incontrolado até ao êxtase.
Por fim, serenaram saciados, ofegantes.
Feliz, o Carlos tentava, contudo, adivinhar se o Paulo tinha estado ali entre eles.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Paul Himmel, The Cage B, c. 1952 |
Acelerar no novo ano
Como a maioria de nós ele tinha uma licença de porte de arma passada pela Direcção Geral de Viação e insistiu em ser o motorista de ambos os casais para a festa de final de ano. Cabia-me o lugar do morto e entre travagens e acelerações apimentadas com curvas apertadinhas invejei os Tena Lady da minha avó que não colocariam o meu fino vestido acetinado em risco. Valia-nos a chauffage para ter algum conforto que se encontro o estilista que lançou a moda de as senhoras se vestirem como papel de bombons para o réveillon embrulho-o em papel celofane e coloco-o no ponto mais alto da Serra da Estrela.
E como se não bastasse o frio do caraças que rapámos à saída do veículo encontrámos uma sala cheia de rostos frios para aprendermos a não chegar antes do aquecimento dos corpos por diversas produções vinícolas e algumas contorções dos músculos embaladas na música para activar a circulação sanguínea.
Está bom de ver que depois das doze badaladas e doze passas e todos aqueles rituais de subir a cadeiras e dar gritinhos e fazer das esguias taças de champanhe carrinhos de choque e chupar beijos como se de um fôlego se absorvesse o ano inteiro e doravante pudéssemos controlar as nossas vidinhas por todos os poros, ele era mais uma passa mirradita encharcada em vapores etílicos e pronta a ressonar em vale de lençóis. Mesmo sem dotes de cartomancia ou astrologia para me socorrer consegui prever que neste novo ano as suas artes de condução na estrada se equivaliam na cama.
E como se não bastasse o frio do caraças que rapámos à saída do veículo encontrámos uma sala cheia de rostos frios para aprendermos a não chegar antes do aquecimento dos corpos por diversas produções vinícolas e algumas contorções dos músculos embaladas na música para activar a circulação sanguínea.
Está bom de ver que depois das doze badaladas e doze passas e todos aqueles rituais de subir a cadeiras e dar gritinhos e fazer das esguias taças de champanhe carrinhos de choque e chupar beijos como se de um fôlego se absorvesse o ano inteiro e doravante pudéssemos controlar as nossas vidinhas por todos os poros, ele era mais uma passa mirradita encharcada em vapores etílicos e pronta a ressonar em vale de lençóis. Mesmo sem dotes de cartomancia ou astrologia para me socorrer consegui prever que neste novo ano as suas artes de condução na estrada se equivaliam na cama.
25 janeiro 2014
«Fala-me com o corpo» - João
"Fala-me com o corpo, porque o corpo não mente. A linguagem é fodida. Os verbos são fodidos. Até as imagens são fodidas. Prestam-se a más interpretações. Mas o corpo não mente. Enrola-te em mim, beija a minha pele, agarra as minhas mãos. Não ligues a palavras incompletas, não tentes encontrar sentido nas frases baralhadas de quem pensa mais depressa do que fala, de quem ensaia um discurso que sai torto. Não leias fotografias cujas cores não têm legenda, nem vídeos de aparente normalidade. Tudo isto são fontes de engano, e o que conta é o que se sente, e o que o corpo conta, no escuro da noite ou na sombra ao abrigo do Sol.
Fala-me com o corpo, cola-o a mim, arrepia-te, arrepia-me. Segura-me com força, aperta-me até partir, gasta-me como gelo que derrete, aquece-me a carne. Desliza em mim, faz-me deslizar em ti. Encaixar, arranhar, doer. As palavras são sempre curtas. As palavras são sempre poucas. Talvez por isso não gostes de perguntas. Não só por isso. Mas talvez também por isso. Talvez também por isso eu também não as aprecie. Embora existam. Muitas. Há sempre perguntas, há sempre coisas que queremos saber, entender, conhecer. Nem sempre uma pergunta que se cala é um interesse que não existe. Por vezes é apenas isso, uma pergunta que se cala, por um qualquer bem que julgamos maior, naquele momento. Nem sempre uma ausência é uma ausência. Às vezes é só a aparência de uma ausência."
João
Geografia das Curvas
Fala-me com o corpo, cola-o a mim, arrepia-te, arrepia-me. Segura-me com força, aperta-me até partir, gasta-me como gelo que derrete, aquece-me a carne. Desliza em mim, faz-me deslizar em ti. Encaixar, arranhar, doer. As palavras são sempre curtas. As palavras são sempre poucas. Talvez por isso não gostes de perguntas. Não só por isso. Mas talvez também por isso. Talvez também por isso eu também não as aprecie. Embora existam. Muitas. Há sempre perguntas, há sempre coisas que queremos saber, entender, conhecer. Nem sempre uma pergunta que se cala é um interesse que não existe. Por vezes é apenas isso, uma pergunta que se cala, por um qualquer bem que julgamos maior, naquele momento. Nem sempre uma ausência é uma ausência. Às vezes é só a aparência de uma ausência."
João
Geografia das Curvas
Postalinhos do Musée de l'érotisme (Museu do Erotismo) de Paris
"O Museu do Erotismo é bem interessante. Conheces?
Envio-te estas fotografias para te ajudar a organizar o teu Museu.
Beijinho da
Daisy"
24 janeiro 2014
a funda são mora na filosofia [III]
Circulou há dias um vídeo, um TED, com uma speaker de seu nome Lizzie Velasquez, considerada por muitos como "a mulher mais feia do mundo" (a maioria das entradas do google com o seu nome referem este facto; mas a Lizzie está tão a borrifar-se para isto…). Nesse vídeo podemos ouvir a sua história de vida: portadora de uma doença rara que não lhe permite ganhar peso (INVEJA!), lutou desde o primeiro dia de vida contra os preconceitos - até dos médicos que a ajudaram a nascer - e por uma vida digna. Para além da doença rara, teve a sorte de ter uns pais ainda mais raros que nunca baixaram os braços e a amaram incondicionalmente.
Num outro registo de vídeo, também num TED, Maysoon Zayid, outra mulher rara, com uma paralisia fruto de um parto mal assistido, conta-nos como foi a sua vida, também ela de luta contra o preconceito dos médicos que, à partida, lhe eliminavam do horizonte de vida a possibilidade de andar, de ir à escola… de fazer tudo aquilo que nós gostamos de fazer.
Duas mulheres, raras.
Digam a verdade: estas mulheres dificilmente seriam tidas pelos nossos leitores como objectos de desejo, como mulheres atraentes - mas se e só se elas ficarem imóveis e coladas ao chão, sem abrir a boca. Se a sua imagem, por si, não causa arrebatamento… esperem até as ouvir falar. Esperem até à sua energia ser traduzida por palavras, carregadas de emoções, de estórias vividas na primeira pessoa, que nos fazem rir, que nos fazem chorar. E sentir uma beleza que, diria Saint Exupéry, é essencial e invisível aos olhos.
Numa era em que a imagem é (quase) tudo para todos (confessem… quantos filtros tem a vossa fotografia de perfil do facebook? thank god for instagram!) há que tirar o chapéu a mulheres como Lizzie e Maysoon que se assumem tal como são, ultrapassando preconceitos e arregaçando as mangas para xurdir (entenda-se, fazer pela vida). A sua vida é, diria Leibniz, a melhor das vidas possível.
Quanto a nós, resta-nos desejar ter, um dia, metade da coragem (sim, estas miúdas têm os ditos cujos no sítio, oh se têm), para enfrentar o mundo.
They are the beauty… e quem disser o contrário, esses são the beasts!
Eva portuguesa - «O ponto G»
Tenho saudades tuas.
Isto dito assim parece a declaração culposa de um enamorado. Mas não é.
Não neste caso. Não da forma tradicional.
Tenho saudades das tuas visitas, da forma descarada como pretendes ensinar-me a ter prazer com um cliente.
Da forma atrevida e quase grosseira como me lembras que sou a Eva mas sem com isso me ofenderes ou rebaixares.
Queres que eu me aceite como Eva e que consiga realizar-me como mulher vestindo esta personagem.
Queres ensinar-me a aceitar-me e a desfrutar de todo o gozo que a Eva me pode dar.
E a verdade é que, se não desaparecesses de vez em quando, conseguirias!
Mostraste-me algo em que eu não acreditava: a existência do ponto G.
Tentaste lá chegar tantas vezes e eu nunca me libertava o suficiente. Até que um dia o fiz. E tive o maior e mais sentido orgasmo que alguma vez tivera. E vi o que era a ejaculação feminina. E descobri o meu ponto G. Graças a ti.
Eu, Eva. Porque eu, pessoa, nunca o consegui. Porque na minha vida íntima pessoal não consigo (e isto pode parecer um paradoxo) libertar-me totalmente. Eu... não consigo ser a puta na cama que todos os homens gostam. Quando é para ser puta, só o consigo através da Eva. Assim, não sei onde é o meu ponto G.... apenas o da Eva...
E isto faz toda a diferença, pois o sexo não está entre as pernas mas sim na mente.
E tu apenas te queres mostrar à Eva. Apenas a queres ensinar a ela. Sem pudores, nem críticas mas de uma forma realmente honesta, simples e cruel. Cruel devido à sua simplicidade.
Mas sim, graças a ti a Eva gozou como a... nunca o fez.
Graças a ti, quer uma quer outra acreditam agora num ponto da anatomia feminina que julgavam ser um mito. E se apenas uma o experimentou, a outra anseia pelas tuas próximas visitas para que, mesmo discretamente, possa aprender a lá chegar...
Ensinas-me?....
Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado
Isto dito assim parece a declaração culposa de um enamorado. Mas não é.
Não neste caso. Não da forma tradicional.
Tenho saudades das tuas visitas, da forma descarada como pretendes ensinar-me a ter prazer com um cliente.
Da forma atrevida e quase grosseira como me lembras que sou a Eva mas sem com isso me ofenderes ou rebaixares.
Queres que eu me aceite como Eva e que consiga realizar-me como mulher vestindo esta personagem.
Queres ensinar-me a aceitar-me e a desfrutar de todo o gozo que a Eva me pode dar.
E a verdade é que, se não desaparecesses de vez em quando, conseguirias!
Mostraste-me algo em que eu não acreditava: a existência do ponto G.
Tentaste lá chegar tantas vezes e eu nunca me libertava o suficiente. Até que um dia o fiz. E tive o maior e mais sentido orgasmo que alguma vez tivera. E vi o que era a ejaculação feminina. E descobri o meu ponto G. Graças a ti.
Eu, Eva. Porque eu, pessoa, nunca o consegui. Porque na minha vida íntima pessoal não consigo (e isto pode parecer um paradoxo) libertar-me totalmente. Eu... não consigo ser a puta na cama que todos os homens gostam. Quando é para ser puta, só o consigo através da Eva. Assim, não sei onde é o meu ponto G.... apenas o da Eva...
E isto faz toda a diferença, pois o sexo não está entre as pernas mas sim na mente.
E tu apenas te queres mostrar à Eva. Apenas a queres ensinar a ela. Sem pudores, nem críticas mas de uma forma realmente honesta, simples e cruel. Cruel devido à sua simplicidade.
Mas sim, graças a ti a Eva gozou como a... nunca o fez.
Graças a ti, quer uma quer outra acreditam agora num ponto da anatomia feminina que julgavam ser um mito. E se apenas uma o experimentou, a outra anseia pelas tuas próximas visitas para que, mesmo discretamente, possa aprender a lá chegar...
Ensinas-me?....
Eva
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