09 julho 2014
«conversa 2086» - bagaço amarelo
Eu - Isso está assim?
Ela - Está. Todas as manhãs o meu marido me pergunta pelo sítio onde estão as coisas dele. As meias, a camisa, os sapatos... é tão enervante.
Eu - E o que é que tu respondes?
Ela - Respondo que estão no sítio do costume e ele diz: "Ah! Obrigado".
Eu - É mesmo estranho.
Ela - É, não é?!
Eu - Nunca lhe disseste para ir directamente buscar as coisas sem te perguntar primeiro por elas?
Ela - Já, mas não resultou. Se ele não me perguntar primeiro, abre o armário e diz: "a minha camisa não está aqui!", mesmo que esteja. Depois eu digo: "procura melhor!" e ele responde: "Ah! Obrigado".
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Já se fodia» - João
"De um susto, o véu que esvoaçava entre as gentes levantou-se, deram-se nós na linha e o som voltou a ecoar. Já se fodia pá. Dizia-se que já se fodia. Mas antes disso, sorrisos e conversa como se nunca tivesse ficado qualquer silêncio pendurado. Como se o botão de pausa tivesse sido de novo pressionado, e os vocábulos jorrassem como sempre, sem intervalo, sem hiato, sem coisa nenhuma. E era rir. Era dizer coisas e rir. E não encontrar zanga nem raiva, não encontrar diferença alguma, porque estava tudo ali, estava tudo lá. E já se fodia pá, que queres que te diga, para que me contas essas coisas todas, que as quero saber sim, quero saber, mas já se fodia e estamos para aqui a olhar para coisas sem importância. E o que faço da fome, o que fazes da sede? E de repente já havia pernas de um lado e pernas do outro, e já estás pronto? Dás-me com ele? Fodes-me forte e feio? É que já se fodia sabes? Já me perdia em ti e tu em mim, e depois contas-me essas coisas, depois, que agora tenho onde ir e estou sem tempo, e os corpos balançam, e está tudo lá, está tudo igual, e não se perdeu nada, e não mudou nada, e está tudo encharcado, pinga-se de todos os poros, e este vento frio, este vento que cola a roupa molhada ao corpo e desconsola, que nuvens são estas, era tão bom o calor, o espaço quente onde estamos. Já se fodia. Dizia-se que já se fodia, mas nem era preciso dizer, porque se fodia sempre. A foda para o corpo como a respiração para a vida."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
08 julho 2014
«Não à violação»
Campanha da NoToRape.com contra a protecção legal, em Singapura, para os maridos forçarem as suas esposas a praticarem sexo.
No To Rape - "It is time we speak up." from David Shiyang Liu on Vimeo.
No To Rape - "It is time we speak up." from David Shiyang Liu on Vimeo.
Passaralho
Via Herotox
É tal a imponência que até o OrCa ode:
tem o pássaro bisnau
voando por toda a parte
teso como um carapau
o pássaro passaroco
passarinho, passaralho,
há-de ser um pouco louco
assim preso àquele galho
se aterrar com vigor
esmagará materiais
e ao pássaro-cantor
só lhe ouviremos os ais
mas se aterrar de mansinho
pairando tal colibri
... pior! aquele toquezinho
é danado p'rò pipi...
«pensava saber onde viviam as flores» - Susana Duarte
sabia onde vivia o amor, quando o amor sabia a cerejas bravas
no coração dos dedos. habitava uma casa azul, telhas aladas
contra o céu e os cirros das imagens que trazia nos olhos.
sabia onde vivia o amor, quando as nuvens sabiam voar
e me deixavas ir até onde as cerejas bravas coloriam
imagens de rubra paixão; nesses dias, as ondas
dos cílios desenhavam contrabaixos na pele
de todos os silêncios. pensava saber
onde viviam as flores, e o vermelho
do fogo por extinguir com os
lábios. sobram as vertentes
úmbrias da memória
das mãos sobre
as rubras
cerejas.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
no coração dos dedos. habitava uma casa azul, telhas aladas
contra o céu e os cirros das imagens que trazia nos olhos.
sabia onde vivia o amor, quando as nuvens sabiam voar
e me deixavas ir até onde as cerejas bravas coloriam
imagens de rubra paixão; nesses dias, as ondas
dos cílios desenhavam contrabaixos na pele
de todos os silêncios. pensava saber
onde viviam as flores, e o vermelho
do fogo por extinguir com os
lábios. sobram as vertentes
úmbrias da memória
das mãos sobre
as rubras
cerejas.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Mulher amarrada
Estatueta em resina com 3 peças, da minha colecção, representando uma mulher amarrada segundo a arte do Shibari, a palavra japonesa para "bondage" ou ainda Kinbaku-bi que significa "o bondage bonito". Kinbaku (ou Sokubaku) é um estilo japonês de amarração sexual ou BDSM que envolve desde técnicas simples até as mais complicadas de nós, geralmente com várias peças de cordas (em geral de 6mm ou 8mm) e que podem ser de materiais diferentes, sendo a tradicional corda japonesa utilizada para o Shibari, a de cânhamo. A palavra Shibari tornou-se comum no ocidente em meados dos anos 1990 para denominar a arte de amarração chamada Kinbaku.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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07 julho 2014
Luís Gaspar lê «Dá a surpresa de ser» de Fernando Pessoa
Dá a surpresa de ser. É alta,
de um louro escuro. Faz
bem só pensar em ver Seu
corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem (Se ela
estivesse deitada) Dois
montinhos que amanhecem Sem
ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco Do
seu relevo tapado.
Apetece como um barco. Tem
qualquer coisa de gomo. Meu Deus,
quando é que eu embarco? Ó fome,
quando é que eu como?
Fernando Pessoa
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
«respostas a perguntas inexistentes (273)» - bagaço amarelo
Os desgostos de Amor, aliás, são mais difíceis de esquecer do que os gostos. Um gosto de Amor, que já o foi mas já não é, gastou-se. A sua memória é idêntica à duma fotografia na parede. Está morta, apesar de sabermos que já viveu. Pelo contrário, um desgosto de Amor torna-se saudade assim que nasce. É também assim que se mantém durante muito tempo, talvez até para sempre. Está vivo.
Quem se considera vítima por ter um desgosto de Amor é porque nunca teve um gosto de Amor a sério. Não faz mal. De um gosto de Amor a sério nunca desistimos. Vale a pena continuar a tentar.
bagaço amarelo
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