07 julho 2014

Luís Gaspar lê «Dá a surpresa de ser» de Fernando Pessoa


Dá a surpresa de ser. É alta,
de um louro escuro. Faz
bem só pensar em ver Seu
corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem (Se ela
estivesse deitada) Dois
montinhos que amanhecem Sem
ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco Do
seu relevo tapado.

Apetece como um barco. Tem
qualquer coisa de gomo. Meu Deus,
quando é que eu embarco? Ó fome,
quando é que eu como?

Fernando Pessoa
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa