23 julho 2014

Placebo «Loud Like Love»


Placebo // Loud Like Love (feat. Bret Easton Ellis) from Saman Kesh on Vimeo.

«pensamentos catatónicos (303)» - bagaço amarelo

Um abraço

Há duas palavras que eu detesto: "empreendedorismo" e "sucesso", porque actualmente as duas estão tão próximas uma da outra quanto distantes. Por isso, mas também porque detesto fingimentos e lonjuras. Ser empreendedor ou ser um self made man é ser a antítese do Amor. A merda deste país acabou nestas duas palavras. Fala-se do sucesso dum amigo porque ele tem emprego ou abriu uma lojeca qualquer numa esquina da cidade, nunca porque ele está apaixonado apesar dos seus quarenta anos. Não me fodam, a felicidade não passa por aí.
O Amor também não é felicidade, é verdade. O Amor é estar vivo, é estar sempre nos píncaros da felicidade ou da tristeza profunda. Nada mais. Mas é isso que é estar aqui, tão vivinho quanto a sardinha que salta no cais depois de apanhada. Este país cansa-me porque já nem sequer sabe estar triste. Não sabe sofrer. Só sabe falar em palavras vãs como empreendedorismo e sucesso. Fala-se nisso, depois morre-se.
Tenho uma má notícia para todos os que consideram que o seu sucesso passa por ter um pequeno negócio ou por uma pequena empresa que lhes permite sobreviver: isso não vale uma merda. O que vale é, tendo uma loja, sorrir para os clientes, apaixonarmo-nos todos os dias, dar a mão a um Amor todas as manhãs. O resto é folclore. Até eu estou a abrir um negócio. Não para viver, mas sim para sobreviver.
Este país cansa-me porque já nem sequer é um país. É um pequeno grupo de gente que busca uma conta bancária confortável, apesar de nunca o conseguir, e acha que isso é normal. É um país que não fala de Amor, é uma coisa sem vida que nem triste consegue ser. Eu não quero ser parte disto, até porque ainda me apaixono todos os dias.
Agradeço à mulher que hoje, no Parque Infante Dom Pedro, me pediu um abraço. Um abraço nunca se pede, porque quando se dá também se recebe. É isso, um abraço troca-se. É por isso que é tão bom abraçar. Só por isso. Tenho pena de quem ainda não chegou lá. Ela chegou lá hoje. Eu também.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A Nu




«As mãos» - João

"Aqueles eram os tempos dos corações em uníssono, ou da cabeça sobre o peito, para ouvir a vida bater. Eram os tempos dos muretes brancos e gente sentada com vista aberta para as cidades e o mar, de dizer que “quero ficar contigo” e perguntar “deixas?”. Eram os tempos dos dedos passeados entre cabelos, e ainda assim misturava-se nele um sentimento de insuficiência, como se ele não tivesse valor, como se não chegasse. Veria ela isso? Aquele nada? Era tudo quanto havia para lhe dar. Vulnerabilidade despojada. Será que via aquelas mãos? O que via naquelas mãos afinal. Podia dar-lhe muito, podia dar-lhe coisas imateriais, um sentimento de realeza, sentir-se no topo que não cessa, aquecê-la como ninguém antes, podia até partihar com ela as fodas mais fodidas, mais detonadoras, mas as mãos estavam vazias. E ele sentia-se insuficiente, sentia-se pouco, como se nada tivesse para lhe dar. Vias aquelas mãos? Ele teria chegado ao pé dela com as mãos a abanar, uma à frente e outra atrás. Disse-lho: é assim que chego até ti. Frisou que não tinha nada para lhe dar, nenhum conforto, nenhum desafogo, não podia preencher o espaço com coisas nem percorrer o globo, era mesmo uma à frente e outra atrás, as mãos. Só ele, e pouco mais. E ela interrompeu-o, cortou-lhe o pio, atirou-o ao chão com a resposta que articulou. Ele sentia-se incapaz, insuficiente, pouca coisa. Mas ela só queria que as mãos não estivessem à frente e atrás. Queria-as de lado. Foi assim que lho disse. Que podia chegar perto dela com as mãos uma de cada lado, para a abraçar."
João
Geografia das Curvas

22 julho 2014

«Zink, impotência sexual, má língua, SNS e sexismo anti macho velho» - Jaime Ramos

No passado sábado, na SIC, foi recordado o programa "Má Língua", com uma edição especial.
Com muita ironia, Rui Zink admitiu a impotência recordando a forma carinhosa como a mulher o consolou: também acontece com os outros...
Recordei-me de, há décadas, uma Senhora célebre me ter surpreendido com a frase: não há mulheres frígidas, há é "má língua"... Não se referia à da SIC.
O que é que isto tem a ver com sexismo anti macho velho?
O SNS, Serviço Nacional de Saúde, comparticipa medicação destinada a corrigir os sintomas, o "sofrimento" e as incapacidades que a menopausa origina nas mulheres.
Os "calores", os "rubores", a "secura", a "atrofia" e o envelhecimento vaginal são tratados com medicamentos comparticipados pelo SNS. As mulheres sabem que o SNS se preocupa com a sua vida sexual... A pílula é mesmo gratuita nos centros de saúde durante a vida fértil das mulheres...
O SNS investe parte do seu orçamento para garantir que a "serventia" das mulheres esteja disponível, sem risco e em bom estado, para os homens.
Mas não para todos os homens...
A andropausa vai fazendo vítimas, dificultando desempenhos e causando impotências. O "envelhecimento" sexual dos homens foi uma inevitabilidade que a industria farmacêutica enfrentou com algum sucesso.
Hoje há diversos "viagras" capazes de transformar um sénior num jovem cheio de vigor.
Só que são caros. Alguns destes medicamentos são mesmo muito caros, exigindo um orçamento mensal/anual que não é acessível a homens "pobres".
Estes medicamentos salvadores do acesso dos velhos (ou dos doentes cujas mazelas e terapêuticas originam impotência) ao prazer não são comparticipados pelo SNS. Quem quiser sexo que o pague, diz o SNS aos homens...
Esta desigualdade de tratamento dos dois sexos, promovida pelo SNS, é muito curiosa...
Os homens com rendimentos médios ou altos podem comprar os comprimidos milagrosos que lhe dão o acesso à eterna juventude... Se sempre puderam gastar dinheiro em prostituição e pecar, por que deve o Estado comparticipar no seu bem estar sexual quando somam mais décadas de vida...?
E os homens de baixo rendimento, com pensões reduzidas, desempregados...? Quem se preocupa com o prazer destes machos velhos com menores recursos?
E as suas mulheres, também elas condenadas a coabitar com seniores incapacitados, perguntar-me-ão, não têm direito ao prazer sexual?
Pois é, dizem os responsáveis pelo SNS: em sociedades injustas, aos desfavorecidos pela má sorte, só resta mesmo a língua, a má língua!

Jaime Ramos

Maike Rosa «Whores' glory poem»

Ámen?! Ámen?!...


A igreja 
católica 
faria muito 
melhor se em vez de
“Ámen”
dissessem
“Amem”

«deita-te a meu lado, e fala-me da transcendência.» - Susana Duarte

deita-te a meu lado,
e fala-me da transcendência. diz-me
onde residem

os poemas, e revela-me a luz de outrora.

deita-te nos meus braços,
e fala-me da saudade. diz-me onde
reside a sede, e a fome, e a vontade de ser abraço, poema
inscrito num braço, que me prende e segura. conta-me dos dias sonoros,
e da velocidade dos movimentos dos dedos, quando, maravilhados,
inscreveram em si próprios o poema. deita-te a meu lado,
e reencontra, no corpo que se arqueia,
as palavras que procuras.

e fica. fica a meu lado,
e revela-me as ondas da paixão,
e os olhares que desnudam, e a alegria
de se ser onde o poema se inscreve na carne.

deita-te a meu lado,
e fala-me da transcendência.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Coimbra tem uma galeria de arte erótica

Andei tanto tempo à procura de parceiros para instalar em Coimbra a minha colecção de arte erótica! Desde um amigo meu que tem um prédio em frente ao Arco de Almedina até à Câmara Municipal de Coimbra, houve várias possibilidades mas que nunca se concretizaram. Entretanto, as Caldas da Rainha também foram forte hipótese... mas os das Caldas também murcharam. Há três anos, o assunto chegou a ser capa da revista C (nessa altura, esta revista perguntava na sua página internet se Coimbra merecia ter um Museu do Sexo). A revista Artes & Leilões também já dedicou à minha colecção um artigo de capa.
Mas o esforço deu frutos e valeu a pena: está em curso a instalação da colecção de arte erótica «a funda São» na Pensão Amor (em Lisboa, no Cais do Sodré): "Para breve, está a abertura do Museu Erótico nos últimos andares do edifício".
Entretanto, no primeiro piso da livraria de BD Dr. Kartoon (Rua da Manutenção Militar, nº 15), encontra-se agora a Exposição de Arte Erótica de Coimbra com peças de um coleccionador particular desta cidade. Está aberta de 2ª a 6ª, das 11h30 às 13h00 e das 14h30 às 19h30. Aos sábados, está aberta das 11h00 às 13h00 e das 14h30 às 19h30.
Quem sabe se um dia não fazemos uma parceria. Da minha parte, deixei lá o meu contacto.





Galeria de arte erótica - Coimbra from São Rosas on Vimeo.

21 julho 2014

Pintura corporal pelas ruas de Copenhaga para promover programa de televisão

Numa ensolarada tarde de sexta feira, uma mulher com o torso pintado passeia numa das ruas mais movimentadas do bairro chique e elegante Frederiksberg (perto de Capitólio da cidade de Copenhaga). E ainda decide sentar-se, desfrutar de um copo de vinho e dar ao público de boca aberta mais uma surpresa.
Quando o vídeo chegar aos 33 segundos, aprecia o que é ter uma namorada ciumenta.
Trata-se de uma acção publicitária para promover um novo programa sobre relacionamentos que será exibido no canal TV3, na Dinamarca.

Postalinho do padeiro

"Máquina de amassar pão de uma padaria."
PM



«coisas que fascinam (169)» - bagaço amarelo

É quando o Amor nos corre mal que percebemos que o mundo é estúpido. Mesmo estúpido, todo ele, desde o café matinal que perde o sabor até aos aviões que vemos no céu, dos quais deixamos de tentar adivinhar em segredo a origem e o destino. O mundo é estúpido simplesmente porque tudo continua a funcionar quando, tal como o nosso Amor, devia estar parado.
Encontrei-a num desses dias em que inexplicavelmente o mundo estava a funcionar e, inexplicavelmente também, os cafés estavam abertos. Abanei os ombros quando ela me perguntou se estava tudo bem e sentei-me na mesma mesa, mais por obrigação do que por vontade. Um televisor sujo mostrava uma telenovela qualquer.
Saímos dali e ela ordenou-me que a acompanhasse. Percorremos as ruas dum bairro suburbano a passo de caracol, até entrarmos num automóvel cuja porta direita não fechava bem.

- Tens que sair e fechar por fora. A mola partiu. - disse ela.

Foi a única coisa que disse durante as várias horas em que percorremos a praia de forma pendular, ao som das ondas que não conseguíamos ver. É verdade que hoje, quando a encontro, ela me costuma sorrir e dizer que lhe dei uma bruta seca nessa noite. Eu, pela parte que me toca, lembro-me dela como a mulher que parou o mundo.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»