Por muito que vos possa soar ridículo,
nós pilas somos, à imagem e semelhança dos coisos agarrados a nós,
susceptíveis a emoções tão contraproducentes como a inveja, o
ciúme ou ambas em simultâneo.
Sim, os dias a fio ao pendurão de uma
vida que não a nossa (ou foderiamos todos muito mais) dão-nos tempo
de sobra para pensar. E não constitui segredo para ninguém que esse
é sempre um exercício complicado porque pode à partida ser
inquinado por um colhão de distorções.
Contudo, nem um pénis tem algum tipo
controlo sobre a sua cabeça. Os pensamentos fluem e as conclusões
esguicham e é assim que se complicam as relações entre as pessoas
e os seus membros.
Na génese daquilo que, para mim, é um
conflito interno do caralho está mais uma vez o que ouço da boca do
palerma a que o destino me agarrou de forma aparentemente
irreversível.
Eu sou um falo propriamente dito, mas
os coisos é que falam demais.
Estava eu aqui há dias na habitual
posição de descanso quando ouvi o coiso agarrado a mim referir-se a
um problema qualquer nos seus membros superiores. Claro que fiquei
logo à rasca, sobretudo por ele ter usado a expressão no plural,
mas também porque não tinha conhecimento de problema algum no meu sector.
Pensei então que o plural se aplicaria aos tomates, o que não
deixaria de me afectar por tabela, mas fez-me confusão aquilo dos
membros pois que eu saiba não formámos entretanto nenhum clube.
Pus-me então em sentido, qualquer
pretexto é bom para fazer exercício, à escuta de detalhes que me
permitissem perceber do que se tratava. E foi então, para meu
choque, que o coiso agarrado a mim mencionou os braços. Os braços,
vejam bem. “Membros superiores”.
Mas superiores porquê? Claro que isto
tresanda à inveja tipicamente humana, ou mesmo ao cíúme se
estiverem envolvidas outras emoções, mas nem eu sou sensível aos
cheiros nem vocês foram convidados a emitirem opiniões.
É do senso comum que quando um coiso
se refere ao membro toda a gente conclui que está a falar da sua
piça. Não estou a inventar nada, é uma das designações de fuga
das muitas que aplicam às pilas e que, invariavelmente, são
conotadas com uma ordinarice que nunca entendi na essência. O membro
é um caralho, mas numa espécie de sentido figurado, como se
cobrissem nas palavras o pau com uma camisolinha de lã. Pudores que
me transcendem mas que tolero para fomentar a harmonia que nos
permite trabalhar em equipa em quecas como deve ser.
Aqui entramos na tal sensível questão
do “superior”. Então mas agora a superioridade mede-se pelo
andar em que os coisos moram? O do sexto A é superior ao do 3º C? O
caralho é que é!
Um braço, coisa tão vulgar que até
vêm aos pares, é um membro superior em quê? Onde é que um braço
contribui como uma pila para uma existência saudável e feliz do
coiso agarrado a ele?
São estas merdas que nos fodem, um
pénis aqui sempre disponível para cumprir com esmero e dedicação
e, dessa forma, envaidecer o coiso cujo mérito até é relativo e
depois vê promover cenas com osso como se lhes assistisse alguma
glória por serem rijos a tempo inteiro? Com osso também eu! Era ver
os bracinhos, os superiores da treta, terem de levantar-se para bulir
só com base na força de vontade e na caldeirada de motivações da
carola dos coisos que, na maioria das vezes, só nos atrapalham o
serviço que nem mijar em condições conseguem.
Agora vocês dizem: “ah, o pénis
daquele coiso tem um mau feitio do... dele mesmo”. Pois, pois. Mas
haviam de ver as coisas por este prisma, enfiados na toca o tempo
quase todo, e aguentarem-se à bronca com as desconsiderações de
que uma pila é alvo.
Um braço alguma vez é um membro
superior? É superior mas é o caralho!