12 outubro 2014

Luís Gaspar lê «Encontro» de Margarida Piloto Garcia


Se puderes
dobra essa esquina e abre os olhos
para me espreitares por dentro
Em qualquer pedaço de gesto, demora-te.
No intervalo da minha ausência
muda o tempo do verbo, mas não o próprio verbo
Desagua o verso sem pressa e faz fintas à vida
sem esquecer que a felicidade é um abraço
imprevisto
Se puderes
perde o rasto da razão mais-que-perfeita
e sorve o vento embalado num beijo inesquecível
a bater no chão fecundo do meu seio.
Se quiseres
vem com o vazio das mãos ávidas de mim
perseguindo o impensável sem curvas nem ossos
com o tempo a chiar e a tomar para si o pó dos dias
Se quiseres
ama esta inevitabilidade feita de um querer comum
e escreve sobre o amor abrigo ou inquietação
Depois
se puderes
se quiseres
sente as impronunciáveis emoções
e no obsceno arrepio que inventamos
a vida será chama sem palavras
e nada mais importará

Margarida Piloto Garcia
(Este poema de Margarida Piloto Garcia foi gravado no âmbito do direito que as pessoas registadas na Loja da Raposa têm de verem gravado um poema seu ou do seu poeta favorito.)
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa