"Abraça-me com força. E os meus braços apertaram-te, seguraram-te, senti as tuas lágrimas humedecer-me a roupa, a pele, escorrer por mim, e eu fiquei em silêncio, agarrado a ti. Havia de apoiar-te sempre."
João
Geografia das Curvas
16 março 2015
Postalinho da Real República Bota-Abaixo
Adorei a janela pintada na parede da fachada da Real República Bota-Abaixo, em Coimbra.
Por isso, desta vez envio-vos eu o postalinho.
A vossa, só vossa, real-republicanamente vossa
São Rosas
Por isso, desta vez envio-vos eu o postalinho.
A vossa, só vossa, real-republicanamente vossa
São Rosas
15 março 2015
«A guerra dos gibis» - Porta-Curtas
Diretor: Rafael Terpins, Thiago B. Mendonça
Duração: 20 min
Ano: 2012
Sinopse: "Nos anos 60 surge uma criativa produção de quadrinhos eróticos no Brasil. Mas a censura conspirava para seu fim. Satã, Chico de Ogum, Beto Sonhador, Maria Erótica e outros personagens unem-se aos quadrinistas nesta batalha contra a ditadura neste documentário onde a pior ficção é a realidade".
Duração: 20 min
Ano: 2012
Sinopse: "Nos anos 60 surge uma criativa produção de quadrinhos eróticos no Brasil. Mas a censura conspirava para seu fim. Satã, Chico de Ogum, Beto Sonhador, Maria Erótica e outros personagens unem-se aos quadrinistas nesta batalha contra a ditadura neste documentário onde a pior ficção é a realidade".
Luís Gaspar lê «Magnólia» de Fernando Reis Luís
Agora que te vais
Que contas tu
Dos beijos que se deram
Na tua sombra
Que contas tu
Dos abraços que se deram
Para sentir a tua dimensão
Que nos relembras de outros tempos franciscanos
Que viste
Que sentiste
Do alto da tua copa
Mirando todo o povoado
Que nos contas tu
Sobre as casas e as ruas estreitas
E os socalcos cavados na montanha
Para desbravar o chão
E fazer crescer os pomares de macieiras
E os campos e os olhares
Que nos relembras das danças nas eiras
E dos cantares ecoados nos vales
Para alentar os almocreves vencendo
Os caminhos pedregosos
No transporte das madeiras
Da cortiça
E da aguardente de medronho
Conta-nos como os serranos
Se vestiam ao domingo
E ornamentavam as ruas com rosmaninho
Para passar a procissão
Conta-nos como se juntavam nas madrugadas
Apanhando a espiga de trigo
E o ramo da oliveira
Conta-nos como era grande a feira
E muito o gado
Quantos eram os saltimbancos
E os trovadores cantando as desgraças
Conta-nos se alguma vez
Os vendedores de banha da cobra fizeram um milagre
Ou se uma sina lida pelas ciganas bateu certo
Ou como eram boas as bolotas torradas e o torrão de alicante
E divertido entrar nas coloridas barracas
Dos espelhos curvos
Ou dos bonecos da cachamorrada
Conta-nos quantas joldras saíam a cantar
As janeiras e os reis
E quantas filhós e copos de medronho conviviam
Com o alforge na recolha dos molhes e farinheiras
E quantas eram as bebedeiras
Conta-nos também de outras bebedeiras
Que seguravam os pendões na procissão
Da quinta-feira nas endoenças
Relembra-nos os tempos
Em que as paredes eram pequenas
Mas as casas eram grandes na sua alma
E tu viste isso tudo
E agora que te vais
E levas muito deste povoado
Morre de pé
Que é como as árvores centenárias devem morrer
E deixa-nos a tua memória toda
(Poema retirado do livro “Nos socalcos da Serra”, de Fernando Reis Luís e com ilustrações de Leando Lamas Ermida. Ed. arandis)
Fernando Reis Luís
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Cagunfa
Não tinha medo da morte que o futuro era apenas o minuto seguinte. Custava-lhe era carregar todos os dias aquela cara envelhecida que de manhã via no espelho e aquela farinheira pendente entre as pernas cada vez mais seca e menos dada à besuntice de um cozido à portuguesa.
Tivera cagunfa que as mulheres o achassem feio e na juventude compensara-o com milhentos modos delicados e mesuras que ainda lhe valeram uma meia dúzia de pinocadas antes do casamento tremelicando entre o álcool que o enfrascara de coragem e o medo de que os pais descobrissem tais falhas às regras da santa madre igreja em que o educaram. Descobrira durante a guerra colonial o medo da dor e do estropiamento e a alegria das mulheres ao serem abundantemente chupadas na maria dos prazeres que disciplinadamente ele incutira a si próprio como penitência antes de lá lhes espetar a coronha da sua melhor arma.
No regresso casara sem medo na igreja com o aplauso dos pais e com aquela que mais lhe lembrava a sua mãe e lhe fez o favor de o aceitar ordenando-lhe daí em diante os dias da sua vida nas regras da melhor convivência social e económica mesmo que em muitos deles fosse dada a achaques e a dores de cabeça que não era nada que um copo de uísque com duas pedras de gelo aconchegado às mãos e às partes não resolvesse. Às vezes o seu olhar desviava-se para umas pernas femininas mais bem torneadas ou para um rabiosque que saltava mesmo até ao rabo do olho mas contentava-se com essa salivação que era um homem de palavra e ainda tinha medo que os pais pulassem da tumba para o vir repreender.
Tivera cagunfa que as mulheres o achassem feio e na juventude compensara-o com milhentos modos delicados e mesuras que ainda lhe valeram uma meia dúzia de pinocadas antes do casamento tremelicando entre o álcool que o enfrascara de coragem e o medo de que os pais descobrissem tais falhas às regras da santa madre igreja em que o educaram. Descobrira durante a guerra colonial o medo da dor e do estropiamento e a alegria das mulheres ao serem abundantemente chupadas na maria dos prazeres que disciplinadamente ele incutira a si próprio como penitência antes de lá lhes espetar a coronha da sua melhor arma.
No regresso casara sem medo na igreja com o aplauso dos pais e com aquela que mais lhe lembrava a sua mãe e lhe fez o favor de o aceitar ordenando-lhe daí em diante os dias da sua vida nas regras da melhor convivência social e económica mesmo que em muitos deles fosse dada a achaques e a dores de cabeça que não era nada que um copo de uísque com duas pedras de gelo aconchegado às mãos e às partes não resolvesse. Às vezes o seu olhar desviava-se para umas pernas femininas mais bem torneadas ou para um rabiosque que saltava mesmo até ao rabo do olho mas contentava-se com essa salivação que era um homem de palavra e ainda tinha medo que os pais pulassem da tumba para o vir repreender.
[Foto © J.P. Sousa, 2008, Despair]
Ceifadeiras do meu milho, ceifai o meu milho bem...
Hoje acordei com uma vontade insaciável de meter a minha foice em cabra alheia.
Patife
@FF_Patife no Twitter
14 março 2015
Mensagens de ódio enviadas a actrizes porno, lidas pelas próprias
EmZe: "Até já ouvi coisas bem piores a fundamentalistas anti-pornografia.
O problema residirá sempre entre o que é um gajo doente e/ou despeitado a enviar SMS parvas que lhe satisfazem o ego no momento ou, um verdadeiro criminoso/psicótico que não se ficará por ali.
Muitas questões, muito válidas para debate, poderiam ser levantadas por este vídeo.
Por exemplo: Considero a maioria da pornografia dita "inter-racial" de forte pendor racista, sim. De um racismo de negros para brancos. Como uma fraca vingança pelo racismo (ainda) vigente de brancos para negros. "Vocês lixam-nos socialmente em todos os aspectos MAS nós temos piças enormes e as brancas adoram-nas". Enfim...
Contudo, os maiores consumidores dessa pornografia são... homens brancos.
Curioso, não é? Há "pano para mangas" nestas "pequenas" ambivalências."
«Arte é originalidade» - por Rui Felício
O Pedro, finalista do curso de desenho e pintura das Belas Artes, foi incumbido pelo professor de pintar um nu feminino, segundo os moldes clássicos.
Preparou a tela, montou-a no cavalete, reuniu as tintas e os pincéis e colocou estrategicamente todo o material num recanto das águas-furtadas que tinha arrendado no Bairro Alto quando veio estudar para Lisboa.
Arrastou um velho sofá para debaixo da janela aberta no telhado, lugar onde incidiam os raios solares, que a poeira em suspensão ajudava a desenhar, como setas apontadas ao velho cadeirão.
Cobriu o sofá com um grande pano de cetim vermelho que a Escola lhe facultou.
Agora, só faltava encontrar o modelo que se dispusesse a posar durante uma ou duas semanas, naquele quarto andar esconso onde morava o Pedro.
Tentou a colaboração de uma das suas únicas três colegas de curso. Mas uma estava grávida e declinou o convite. Outra, tinha acabado de casar e o marido não iria concordar. A terceira não podia porque era mãe solteira e todo o tempo era pouco para assistir às aulas e tratar da filha.
Um colega sugeriu-lhe que tentasse encontrar alguém no corpo de baile de alguma das duas revistas em cena no Parque Mayer.
No fim do espectáculo a que assistiu nessa noite, pediu para falar, no camarim, com uma das bailarinas que tinha observado todo o tempo, dizendo-lhe que era aluno das Belas Artes e que era por isso que precisava de falar com ela.
Fazia-o em nome da conhecida solidariedade entre artistas.
Ela acedeu a ouvi-lo. Alta, corpo escultural, longos cabelos negros, olhos negros profundos, lábios grossos sensuais, pernas longas, o peito bem desenhado que o pequeno soutien mal cobria.
Durante quinze dias, diariamente, a bailarina subia às aguas-furtadas do Pedro, desnudava-se, deitava-se no sofá, o braço direito flectido, a mão apoiando o queixo, os cabelos negros espalhados pelo ombro e cobrindo parcialmente o seio esquerdo.
As coxas fartas abandonadas sobre o cetim vermelho deixavam entrever a mancha escura que lhe rodeava o sexo.
Concluída a obra, dados os retoques finais, o Pedro apresentou o trabalho na escola.
Tecnicamente estava perfeito, elogiou o professor.
E artisticamente era uma inesperada originalidade!
O professor pediu-lhe que cedesse a pintura à escola, para servir de exemplo aos futuros alunos.
Ainda hoje lá está exposta.
A vistosa bailarina era um travesti…
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Preparou a tela, montou-a no cavalete, reuniu as tintas e os pincéis e colocou estrategicamente todo o material num recanto das águas-furtadas que tinha arrendado no Bairro Alto quando veio estudar para Lisboa.
Arrastou um velho sofá para debaixo da janela aberta no telhado, lugar onde incidiam os raios solares, que a poeira em suspensão ajudava a desenhar, como setas apontadas ao velho cadeirão.
Cobriu o sofá com um grande pano de cetim vermelho que a Escola lhe facultou.
Agora, só faltava encontrar o modelo que se dispusesse a posar durante uma ou duas semanas, naquele quarto andar esconso onde morava o Pedro.
Tentou a colaboração de uma das suas únicas três colegas de curso. Mas uma estava grávida e declinou o convite. Outra, tinha acabado de casar e o marido não iria concordar. A terceira não podia porque era mãe solteira e todo o tempo era pouco para assistir às aulas e tratar da filha.
Um colega sugeriu-lhe que tentasse encontrar alguém no corpo de baile de alguma das duas revistas em cena no Parque Mayer.
No fim do espectáculo a que assistiu nessa noite, pediu para falar, no camarim, com uma das bailarinas que tinha observado todo o tempo, dizendo-lhe que era aluno das Belas Artes e que era por isso que precisava de falar com ela.
Fazia-o em nome da conhecida solidariedade entre artistas.
Ela acedeu a ouvi-lo. Alta, corpo escultural, longos cabelos negros, olhos negros profundos, lábios grossos sensuais, pernas longas, o peito bem desenhado que o pequeno soutien mal cobria.
Durante quinze dias, diariamente, a bailarina subia às aguas-furtadas do Pedro, desnudava-se, deitava-se no sofá, o braço direito flectido, a mão apoiando o queixo, os cabelos negros espalhados pelo ombro e cobrindo parcialmente o seio esquerdo.
As coxas fartas abandonadas sobre o cetim vermelho deixavam entrever a mancha escura que lhe rodeava o sexo.
Concluída a obra, dados os retoques finais, o Pedro apresentou o trabalho na escola.
Tecnicamente estava perfeito, elogiou o professor.
E artisticamente era uma inesperada originalidade!
O professor pediu-lhe que cedesse a pintura à escola, para servir de exemplo aos futuros alunos.
Ainda hoje lá está exposta.
A vistosa bailarina era um travesti…
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
O tamanho importa... ou não?
Dois bonecos de peluche com forma de pila, com as cores do arco-íris e da bandeira LGBT.
Um belo par da minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Um belo par da minha colecção.
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13 março 2015
aqui há dias foi Dia Internacional da Mulher...
E, hoje, já não é?
São, não posso recusar-te nada...
Do escabroso e tantas vezes tão pornográfico noticiário nacional e, de algum modo, em homenagem ao Mário Henrique-Leiria, aqui fica um meu exercício poético, a propósito dessas «coisas das mulheres» de que só nos lembramos às vezes... só que vista através do avessoscópio do Rui Farinha. Que ele há muitas mulheres que são grandes exemplos quando toca a arrumar a casa ou, até, a cortar a cabeça a um frango...!
Violências domesticadas (ou de trazer por casa)
uma velha
tinha por casa
uma machadinha
um dia houve
um recém-chegado
que lhe mostrou
um talo de couve
desavergonhado
ora essa velha
muito velhinha
não era dada
a tais desvergonhas
e assim foi
que sem mais nem ronhas
a ele se vai de machada em riste
e assim foi
que o talo de couve
teve
como é evidente
um fim bem triste...
- Jorge Castro
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