encontro-te em todos os recantos das uvas,
e em todas as luas do meu corpo. revejo
as imagens dos dias de antes, e as fotos
traduzem o indizível: a vida consumida
em poucos momentos, e as velas frutadas
do meu peito. encontro-te em todos os lugares
noturnos onde as mãos conduziram o voo
das quimeras, e as asas pernoitaram onde
os braços perderam as plúmulas e as dores.
encontro-te, enfim, às portas das ruínas
onde romanos guerreiros ergueram lutas
decadentes, como a paixão que me traz
esquecida de mim. encontro-te onde sou,
e onde não serei, nunca, mais do que a sombra
do que desejei, se tu, por mim, não voltares.
se tu, por mim, não dotares os braços de mar
afundando-me, por isso, nas areias e nas algas
de onde não mais consegui sair.
Susana Duarte
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