Se quiseres tiro tudo, excepto o relógio. Ele marca o tempo que posso estar contigo, nem mais nem menos um minuto. Regula a minha vida, a minha permanência neste mundo.
Inexoráveis, os ponteiros somam os segundos fazendo minutos que por sua vez se transformam em horas, em meses, em anos.
Há quem me tenha visto nu, com uma faca na algibeira rolando pela encosta da Serra, mas não, não era eu, sei é que hoje estou aqui perante ti, nu, com o relógio no pulso e esse sim, sou eu!
Não tenho tempo, tempo que me consome, tempo que faz com que não tenha tempo para estar mais tempo contigo.
Pede-me tudo menos tirar o relógio. Mesmo olhando de soslaio, tenho que ver as horas. O relógio da torre soou, são horas, horas de me ir embora!... Esgotou-se o tempo… o tempo foi esgotado!... Nem mais um segundo restou.
Desço as escadas, sei que tu terias mais tempo para ficar comigo mas eu sei é que não tenho mais tempo para ficar contigo!
Chego ao carro, fico um tempo a sossegar as batidas do coração, rio-me um pouco do disparate que é este de não ter tempo para se amar à vontade, sem pressas.
Arranco, atravesso a cidade com as luzes de néon iluminando-me o caminho, olho para o pulso e verifico que, afinal, me tinha esquecido do relógio, do meu relógio... na tua mesa de cabeceira!
Mário Lima
Blog O sonhador
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Uma por dia tira a azia