03 novembro 2017

Fondazione Frida Castelli



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«Amor e sexo» - Mário Lima


Se alguém te oferecesse flores dirias: «É Impulse», mas não, debruçado sobre a mesa com ramos de flores, alguém dizia: «Quer frôr?».

Ele olhou em redor, não sabia qual a razão daquela pergunta pois encontrava-se só. No entanto a personagem não despegava da sua mesa continuando a sua ladainha: «Quer frôr?».

Olhou fixamente o homem à sua frente sem o ver. Os contornos de um corpo, surge-lhe na mente. Um corpo de mulher.

As suas mãos acariciam-lhe o corpo, perdendo-se em cada curva do seu rosto, do seu peito, das suas axilas, do seu vértice.

Demoradamente, retem cada pedaço daquele momento. A luz suave das lamparinas reflecte-lhe um corpo maduro mas viçoso. A cada toque seu, um murmúrio de prazer, um suave tremor, um querer sexual, mas sem pressas como cada toque fosse o último, como o exalar de desejo fosse único, como se nunca tivesse amado assim.

As suas pernas, semi-flectidas, tapando a essência do sexo, tornavam misteriosos os caminhos que em cada momento se iam descobrindo como se o desbravar tivesse os seus custos, a sua persistência em tons de azul, como se o céu estivesse ali tão próximo e tão longe.

Suavemente, os corpos entregaram-se ao amor, amor em sexo, sexo em amor. Olhos fitavam olhos, corpos em perfeita sintonia, os lábios tocavam-se, não em sofreguidão mas com leveza.

- Quer frôr?

A esta pergunta ele volta de novo àquela mesa onde se encontra. O torpor do momento, da lembrança extingue-se lentamente à pergunta que lhe é feita:

- Quer frôr?

Ele pega numa flor como se, naquele instante, voltasse a colocar uma flor na mão daquela mulher que, deitada, ficou na cama com os olhos semicerrados enquanto ele descia as escadas ao encontro da noite.

Mário Lima
Blog O sonhador

#máquinazero - Ruim

Eu gosto de ir a cabeleireiros rapar a pouca lã capilar que tenho. "Pffff, saíste-me cá um nilas, ó Ruim." Certo. Ter uma gaja a lavar-me a pinha e outra a mimar-me o pêlo é de roto. Ir ao barbeiro cheio de gajos musculados de barba a passarem a navalha molhada junto às beiças é que é à homem. Mas voltando à minha ex-namorada no congelador #vacafria, um gajo quando entra num cabeleireiro cheio da gajedo com rolos na cabeça a lerem a Hola! de 2006, é prontamente olhado de cima a baixo como se fosse uma criança a entrar numa casa de strip por engano, tipo "o que é que este está aqui a fazer?". Quando pergunto se cortam o cabelo a homens, parece que estou a pedir um bife da alcatra numa sapataria dado o olhar de admiração que me lançam. Mandam-me sentar, cochicham e chamam-me logo de imediato para me lavarem a cabeça. Ora, é por isto que eu venho aqui, sabiam? Há qualquer coisa de maternal em ter uma gaja a lavar-nos a cabeça. Ali fico eu. Regalado. "A temperatura está boa assim?" - perguntam. "Sim, mãe... quero dizer, sim está óptimo!". Adoro sentir aquelas unhas de gel cheias de bom gosto a massajarem-me as ideias. Encaminham-me para a cadeirinha, vestem-me o bibe apertadinho no pescoço e - mais que certo - perguntam-me como é que quero cortar o cabelo. Aquele que não tenho. "Olhe, faça-me uma mise! Perca a cabeça!". Não, f#da-se. Máquina zero. Elas até têm de olhar para a máquina a ver se o zero existe. Aproveito sempre para dar uma espreitadela à vizinhança e um ouvidinho à cuscovilhice do bairro, mas o cabredo muda logo o discurso quando sentem o odor a macho. Rata velha é rata velha #sabemmuito. No final, sacam daquele espelho retrovisor de cabeças e pincelam-me com pó de talco no cachaço. Na hora de pagar é novamente uma confusão, porque nunca sabem bem o que devem cobrar por terem efectivamente cortado o cabelo a alguém que vai sair dali diferente de como entrou.
O único problema dos cabeleireiros são as gajas. As que lá vão. Devia haver um cabeleireiro que não pudessem entrar gajas!

Ruim
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31 outubro 2017

«não sei de que falas, quando falas de amor» - Susana Duarte

não sei de que falas, quando falas de amor,
nem o que dizes, quando me cicias flores de espanto
nos ouvidos-maio
onde os cabelos descobrem
nuvens novas de sede e de adeus
aos lamentos. não sei de que falas, quando prometes
madrugadas novas e algaço,
mar das minhas mãos, sargaço azul
de peixes voadores. não sei de que falas.

tornaste-te um estranho,
aurora plúmbea de todas as areias, raro
como as noites boreais
que nunca verei.

estranho ser que te descobres vertente úmbria
dos sonhos, imagem breve
da retina solta, imagem solta de um olhar breve,
poeta-imagem do corpo de outrora,
onde o dia se faz noite, e a noite, essa,
já não se demora sobre mim.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Já não há spam como antigamente...


O meu email está a ficar uma cópia fiel da caixa de correio analógica. Já não recebo os enlarge your penis, mas tirando o spam...

Sharkinho
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