Eram os finais dos anos sessenta, na Telecine. Um dia, estava eu no estúdio, chamaram-me ao telefone.
- Agora?
- Parece que é urgente.
- Quem é, Eugénia?
- Desculpe. É o senhor Ary dos Santos. Muito Urgente! Posso passar?
- Passe lá.
- Luís Couto?
- Sou eu. Diz.
- Luís, acabo de saber que fizemos um filme pornográfico!
- Um filme quê?!
A voz do Ary adquiriu aquela sonoridade por que ficou conhecida.
- POR NO GRÁ FI CO! Temos o filme PROIBIDO PELA CENSURA, a não ser que se repita um plano.
- Repete-se o plano.
- Quando?
- Suponho que amanhã. Eu já telefono. Mas que é que nós fizemos? Qual é o plano?
- O do pé. Ao sair da banheira.
- Mas até é um plano muito fechado.
- Não os conheces? Como NÃO se vê A TOALHA, é evidente que toda gente pode PERCEBER que a rapariga está PORNOGRAFICAMENTE NUA! Vamos repetir, para que se veja MUITO BEM que HÁ toalha.
Os comentários que se seguiram não vale a pena transcrever.
E lá se fez o filme como os senhores queriam, para poder passar na televisão de então.
Luís Couto
(via meu amigo Luís Gaspar)
Nota da rede à São - Por estas e por muitas outras, o meu nome hoje não é São Rosas e sim São Cravos.
25 abril 2018
24 abril 2018
«morre-se azul» - Susana Duarte
morre-se azul sob os escolhos de sal das (des)contruções
de areia. é no lugar das sementes, e dos sóis
verdes dos cabelos, que se morre azul.
com o sal das neblinas dos olhos, morre-se sombrio
ante as ondas submarinas do ventre, e escolhe-se
a vereda estranha dos dias salinos das lágrimas.
é no lugar delas que se morre, palavras
escorridas por entre as águas do peito.
são escuras, as palavras.
são claras, as palavras.
morre-se dentro delas, mar imprevisto de ondas alteradas.
morre-se. navega-se no sal dos cabelos, onde
o futuro é o olhar percorrido pelos dias
de antes.
morre-se. as ausências desmesuradas do sal
dos beijos são a morte silabada
dos dias.
os dias silabados serão sempre teus,
pequenos e intermitentes,
como a morte dos dedos.
mas serão dela, da mulher, os dias escritos com o sal-flor
das mãos inteiras.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook
de areia. é no lugar das sementes, e dos sóis
verdes dos cabelos, que se morre azul.
com o sal das neblinas dos olhos, morre-se sombrio
ante as ondas submarinas do ventre, e escolhe-se
a vereda estranha dos dias salinos das lágrimas.
é no lugar delas que se morre, palavras
escorridas por entre as águas do peito.
são escuras, as palavras.
são claras, as palavras.
morre-se dentro delas, mar imprevisto de ondas alteradas.
morre-se. navega-se no sal dos cabelos, onde
o futuro é o olhar percorrido pelos dias
de antes.
morre-se. as ausências desmesuradas do sal
dos beijos são a morte silabada
dos dias.
os dias silabados serão sempre teus,
pequenos e intermitentes,
como a morte dos dedos.
mas serão dela, da mulher, os dias escritos com o sal-flor
das mãos inteiras.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Eros e Tanatos
Só tenho a morte por garantida e uma mão cheia de recordações que ela cuidará de apagar.
Tudo o resto é apenas pó que algum vento irá soprar um dia.
Sharkinho
@sharkinho no Twitter
Tudo o resto é apenas pó que algum vento irá soprar um dia.
Sharkinho
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Pendente com pendentes
Pendente em prata 925, representando um pénis erecto com os testículos também... pendentes.
Uma pequena obra de arte na minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...
... procura parceiro [M/F]
Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Uma pequena obra de arte na minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
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23 abril 2018
Si a ti te gusta, a mi me encanta
Patife
@FF_Patife no Twitter
22 abril 2018
«traço de giz» - bagaço amarelo
- Dá cá a mão!
E eu dei. Levei cinco reguadas. Nem me estou a queixar. A minha professora batia com a mesma leveza duma borboleta a pousar num ramo de árvore. De todas as reguadas que apanhei, só me lembro de me aleijar uma vez. Quando ela percebeu que tinha excedido a força, levantou-se e abraçou-me. Não chorei pela dor, mas chorei pelo abraço. Foi aquele momento de franqueza emocional de um adulto que me destruiu por dentro.
Sem ela e eu sabermos, nesse dia ensinou-me muito mais do que aquilo que era suposto. O abraço dela eternizou-se em outros abraços que entretanto recebi, quando foram iguais ou surgiram no mesmo âmbito. Alguém que me aleijou primeiro decidiu abraçar-me depois e eu chorei. Choro sempre, mesmo que não lacrimeje.
O Luís riu-se de mim quando viu a minha dor e teve que apagar todos os riscos que eu tinha feito. Alguns vinham de África e iam para o norte da Europa, outros voavam entre a América do Sul e a Ásia. Todos os riscos tinham uma origem e um destino no momento em que eu os fazia. Um voava entre Ouagadougou e Oslo, as cidades mais importantes do meu imaginário de criança. Uma porque tinha um nome giro, outra porque tinha vikings.
Nunca deixei de acreditar nos traços de giz e é assim que me lembro da minha paixão pela Joana. Tinha uma camisola com muitas riscas fininhas de cores diferentes e um casaco amarelo manchado pelo verde da relva onde nos deitávamos a olhar para o céu. Às vezes passavam algumas nuvens, outras vezes passavam pássaros ou aviões. Quando não passava nada, passávamos nós. Num beijo ou num abraço.
- Aqueles traços são de giz! - dizia eu.
- Não são nada.
- Então são de quê?
- Isso não sei, mas não são de giz.
Depois abraçava-me outra vez.
Talvez o Amor entre um homem e uma mulher tenha sempre alguma coisa dos tempos em que somos nós a desenhar o mundo e não o mundo a desenhar-nos a nós. É a maior vantagem de ser criança, aliás, podermos decidir que o mundo é o que nós queremos que seja. Mesmo no Amor.
Não sei quantos Amores já perdi por me apaixonar por mulheres que vêem o mundo como ele é e apenas como ele é. Talvez por isso mesmo este frio início de Primavera tenha sido tão quente. Deitámo-nos no chão do terraço da casa dela a olhar para um avião que voava entre Burkina Faso e a Noruega. Ela ofereceu-me um livro de banda desenhada sobre um traço de giz no meio do mar e no meio de nós. É de um autor galego chamado Miguelanxo Prado. Depois abraçou-me e disse-me que eu tinha razão.
- Razão em quê?
- Os aviões deixam traços de giz.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Postalinho do Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros - 2
"Na praia fluvial dos Olhos d'Água do Alviela, entre várias oliveiras centenárias, esta é, sem dúvida, muito fodogénica."
Paulo M.
Paulo M.
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