02 julho 2018
01 julho 2018
«só para eu poder entrar» - bagaço amarelo
Fiquei parado alguns segundos na porta de entrada do edifício. A mulher que acabara de passar por mim, de alguma forma fora-me familiar. Foi como se a conhecesse há muito tempo de vista, apesar dos seus olhos claros e o tom de pele primaveril deixarem perceber que era inglesa e, por isso, o mais provável era nunca nos termos visto antes.
Ela olhou-me durante dois segundos, mas depois escondeu os olhos no chão enquanto segurava a porta para eu poder entrar. Obrigado, disse-lhe. Acontece-me frequentemente ter a sensação que conheço pessoas de vista mas que, depois quando penso melhor, o mais provável é nunca me ter cruzado com elas.
Nunca encontrei uma explicação para tal nem, em abono da verdade, me preocupei com isso, mas uma vez uma amiga disse-me que acredita que isso acontece por transferências de energia entre as pessoas. Não percebi bem o que ela queria dizer, mas lembro-me que concordei só porque não me apeteceu discutir um assunto que me fugia do controle.
A verdade é que estava pela primeira vez na minha vida naquela zona de Manchester e, como tal, essa sensação de conhecer alguém de vista não podia ser muito mais do que uma criação do meu cérebro, mais provavelmente do meu subconsciente.
Só estava ali para comprar uma miniatura automóvel em segunda mão que vira num anúncio de internet. Como tinha a vontade de conhecer uma cidade que, mesmo assim, ainda hoje me é estranha, dispus-me durante as trocas de emails com o vendedor a ir pessoalmente a casa dele comprá-la.
O edifício era velho por fora e novo por dentro, como se fosse um homem de muita idade com uma enorme vontade de viver mais uns anos. As rugas podem chegar, mas por dentro nunca ninguém sabe o nosso verdadeiro estado. Pelo menos foi esse o meu pensamento, que também surgiu porque alguém me disse que eu era como uma criança, assim que soube que eu ia fazer uma deslocação de 70 quilómetros para comprar um brinquedo.
Quando finalmente entrei no elevador, carreguei três ou quatro vezes seguidas no quinto andar, como se assim pudesse subir mais depressa. Mas não pude. Nunca se pode. Os elevadores andam sempre à mesma velocidade e não obedecem à nossa vontade. É uma boa lição, esta que os elevadores nos dão. Se nos queremos manter joviais por dentro, há que não ter pressa de viver.
Um homem com uma barriga desproporcional e uma t-shirt suja, provavelmente da minha idade, abriu a porta do apartamento C. Perguntou-me se eu estava pelo hot wheel ou pelo Transformer. Hot Wheel, respondi. Dei-lhe cinco libras e ele passou-me para a mão uma miniatura que examinei minuciosamente só para fingir que percebia alguma coisa do assunto. Okay, disse-lhe, e virei costas.
Outra lição que os elevadores nos costumam dar é a da lei das probabilidades poder estar contra nós. Assim que me preparava para abrir a porta alguém o chamou nos rés do chão e perdi a boleia. Não tive outro remédio senão esperar que ele subisse de novo. Desta vez só carreguei uma vez para o chamar.
O vendedor ainda estava à porta a olhar para mim. Não nos conhecemos de algum lugar? Perguntou. Não, sou português. Foi o que lhe respondi enquanto tentei perceber se ele me era familiar a mim. Não era.
Passeei uma tarde inteira pela cidade, sem pressa de chegar a lado nenhum nem vontade de ter chegado. Falei de futebol com um desconhecido num pub de esquina enquanto bebi duas pints de Guiness. Depois passei o resto da tarde a trocar impressões com os edifícios que me iam observando de soslaio enquanto caminhava no meu segredo.
Dou-me conta de que não sou ninguém enquanto me perco nos outros. Os outros, aqueles com quem me cruzo agora como se já alguma vez me tivesse cruzado no passado para poder acreditar que, talvez num futuro distante, me torne a cruzar da mesma forma e, por pura sorte, uma mulher bonita segure numa porta durante dois segundos só para eu poder entrar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Postalinho mágico
"O Pirilampo Mágico de 2018 parece mais um Pirilau Mágico. E está anatomicamente correcto. Não é por ali que - dizem - os homens pensam?"
Paulo M.
Paulo M.
30 junho 2018
«A tua viagem» - Susana Duarte
despedi-me dos teus olhos
na clara manhã, lá onde as mãos
se tornavam líquido incandescente
sobre os seios. foi aí que me despedi
de ti. absorta desde então,
aprendi a iluminar as veias
com os breves sorrisos imaginados,
rasgados
pela falta dos pés,
os teus,
suspensos da vontade.
despedi-me dos teus olhos
na clara manhã dos silêncios
sussurrados entre os corpos já distantes.
as manhãs nunca mais foram claras.
as tuas mãos não mais trilharam o caminho.
o corpo fez-se estátua de areia,
retida no tempo,
salgada e inerte,
como a tua viagem.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook
na clara manhã, lá onde as mãos
se tornavam líquido incandescente
sobre os seios. foi aí que me despedi
de ti. absorta desde então,
aprendi a iluminar as veias
com os breves sorrisos imaginados,
rasgados
pela falta dos pés,
os teus,
suspensos da vontade.
despedi-me dos teus olhos
na clara manhã dos silêncios
sussurrados entre os corpos já distantes.
as manhãs nunca mais foram claras.
as tuas mãos não mais trilharam o caminho.
o corpo fez-se estátua de areia,
retida no tempo,
salgada e inerte,
como a tua viagem.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Representações sobre o desejo
Livro com textos de A. Sarmento Manso, publicado em 2004 como nº 19 da colecção Lacraus das Edições Mortas, Porto.
Oferta ao coleccionador de um simpático casal que vende livros na Feira Sem Regras (Coimbra)
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...
... procura parceiro [M/F]
Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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29 junho 2018
«Sobre (des) respeito e falta de empoderamento de classe: sobre as "putas"! - parte 2» - Cláudia de Marchi
(...)
Eu não atendo sem ver foto e dispenso homens que não sabem beijar. Literalmente: se o primeiro beijo for ruim eu não dou continuidade ao encontro. Química é essencial! O moço aí, após bloqueado me ligou de um telefone de DDD 61. Pediu mil desculpas. Ouviu que o mundo não gira em torno do pau dele e que eu desculpo, mas não atendo.
Pediu o que poderia fazer para se redimir. "Não insistir", respondi. Procurar uma mulher que cobre R$ 500,00 a hora, como eu cobrava há um ano. Respeitar as mulheres, façam elas o que fizerem da vida. Ele insistiu. Disse-lhe que eu estava anojada e não o receberia hoje, quiçá nos próximos dias, mas hoje (definitivamente), não. Uma parte de mim apiedou-se do desespero e reconhecimento de culpa do bonitão (voz bonita!). Outra parte de mim disse que desrespeito machista não se releva. Meu intestino gritou por "socorro". Ouvi aos últimos.
Se tem algo que me indigna hoje em dia é a falta de empoderamento! É o "trancar-se no armário" quando a sociedade patriarcal tradicional mostra-se um antro abjeto de erros, abusos e falsidade. Bem, me tornei cortesã, porque além de revoltada, madura e do gosto apurado pelo que faço, não tenho colegas. Colegas e convívio humano é algo que, após 12 anos no Direito, eu quero evitar pelo máximo de tempo que puder.
Eu gosto de gatos e de raras pessoas, das quais, quiçá eu deixaria de gostar se delas me tornasse íntima. (Vai saber!). Logo, não tenho "amigas" ou colegas neste meio, ou melhor, nunca conversei íntima e pessoalmente com nenhuma, até mesmo porque a vergonha seletiva em fazer algo e omitirem do mundo o que fazem (sendo isso aquilo com o qual pagam as suas contas) me dá ojeriza.
Sou absolutamente contra todo ato do ser humano para o qual ele não tem vergonha de fazer, mas sim de ser "descoberto". Ou melhor: dispenso quem faz algo do qual se envergonhe apenas SE o "mundo" vier a saber. Não gosto de quem se esconde por baixo de máscaras, seja a do Photoshop, a de um personagem, a de membro da "tradicional família brasileira", a de político "de bem", a de "moça de família", a de "esposa leal", a de "marido perfeito" e por aí a fora!
(...)
Simone Steffani - acompanhante de alto luxo!
Eu não atendo sem ver foto e dispenso homens que não sabem beijar. Literalmente: se o primeiro beijo for ruim eu não dou continuidade ao encontro. Química é essencial! O moço aí, após bloqueado me ligou de um telefone de DDD 61. Pediu mil desculpas. Ouviu que o mundo não gira em torno do pau dele e que eu desculpo, mas não atendo.
Pediu o que poderia fazer para se redimir. "Não insistir", respondi. Procurar uma mulher que cobre R$ 500,00 a hora, como eu cobrava há um ano. Respeitar as mulheres, façam elas o que fizerem da vida. Ele insistiu. Disse-lhe que eu estava anojada e não o receberia hoje, quiçá nos próximos dias, mas hoje (definitivamente), não. Uma parte de mim apiedou-se do desespero e reconhecimento de culpa do bonitão (voz bonita!). Outra parte de mim disse que desrespeito machista não se releva. Meu intestino gritou por "socorro". Ouvi aos últimos.
Se tem algo que me indigna hoje em dia é a falta de empoderamento! É o "trancar-se no armário" quando a sociedade patriarcal tradicional mostra-se um antro abjeto de erros, abusos e falsidade. Bem, me tornei cortesã, porque além de revoltada, madura e do gosto apurado pelo que faço, não tenho colegas. Colegas e convívio humano é algo que, após 12 anos no Direito, eu quero evitar pelo máximo de tempo que puder.
Eu gosto de gatos e de raras pessoas, das quais, quiçá eu deixaria de gostar se delas me tornasse íntima. (Vai saber!). Logo, não tenho "amigas" ou colegas neste meio, ou melhor, nunca conversei íntima e pessoalmente com nenhuma, até mesmo porque a vergonha seletiva em fazer algo e omitirem do mundo o que fazem (sendo isso aquilo com o qual pagam as suas contas) me dá ojeriza.
Sou absolutamente contra todo ato do ser humano para o qual ele não tem vergonha de fazer, mas sim de ser "descoberto". Ou melhor: dispenso quem faz algo do qual se envergonhe apenas SE o "mundo" vier a saber. Não gosto de quem se esconde por baixo de máscaras, seja a do Photoshop, a de um personagem, a de membro da "tradicional família brasileira", a de político "de bem", a de "moça de família", a de "esposa leal", a de "marido perfeito" e por aí a fora!
(...)
#viboras - Ruim
"Aquela tua amiguinha..."
Que apanhe os tomates do chão quem nunca os deixou cair depois de ouvir isto de "Sua Alteza".
Ruim
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28 junho 2018
Canto de Hermes e Afrodite - poema
Livrinho de poemas de António Porto-Além, editado em 1976 em Braga, pela editora Livraria Editora Pax.
Poesia erótica a juntar-se à minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
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