25 julho 2018
24 julho 2018
«quando chegares» - Susana Duarte
quando chegares, não acendas a luz:
ilumina-me com o futuro liquefeito dos teus dedos
e olha-me, com a vertente solar
dos teus olhos.
quando chegares, avisa as aves:
soletra cada uma das plúmulas com que desenhaste
as ausências, essas, que fizeram de ti
o sonho apátrida
das noites.
ilumina-me, então, com o voo abrupto
dos desejos sobre os lábios;
com a sombra ambígua
das manhãs
e com o eco vago das quimeras.
quando chegares, não acendas senão o peito,
e olha em redor das mágoas:
saberás que as noites
apátridas
têm recantos onde as aves
se iluminam; onde as plúmulas desenham círculos
na madrugada, e as mulheres se entregam às brumas.
talvez saibas, então, qual dos caminhos
trilhar. no voo abrupto das aves
sem nome.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Facebook
ilumina-me com o futuro liquefeito dos teus dedos
e olha-me, com a vertente solar
dos teus olhos.
quando chegares, avisa as aves:
soletra cada uma das plúmulas com que desenhaste
as ausências, essas, que fizeram de ti
o sonho apátrida
das noites.
ilumina-me, então, com o voo abrupto
dos desejos sobre os lábios;
com a sombra ambígua
das manhãs
e com o eco vago das quimeras.
quando chegares, não acendas senão o peito,
e olha em redor das mágoas:
saberás que as noites
apátridas
têm recantos onde as aves
se iluminam; onde as plúmulas desenham círculos
na madrugada, e as mulheres se entregam às brumas.
talvez saibas, então, qual dos caminhos
trilhar. no voo abrupto das aves
sem nome.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Rica fruta!
Jovem desempregada expõe a sua fruta, tentando reunir uns trocos para a compra de vestuário.
Sharkinho
@sharkinho no Twitter
Phile nº 2 - Winter 2018
Revista sobre a sexualidade - "Jornal internacional do desejo e da curiosidade - Phile é uma revista semestral que explora subculturas, tendências e comunidades sexuais obscuras e bem conhecidas de um ponto de vista sociológico abrangente."
Junta-se a muitas centenas de revistas da minha colecção.
A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...
... procura parceiro [M/F]
Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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23 julho 2018
Trilogia de contos (2/3) - «Rosalva e Cornélio» - Chama a Mamãe
A Rosalva, trintona, toda em forma de violão, morava na pacata cidadezinha de Belterra (aliás, nem cidade ainda era, mas sim um município da Cidade de Santarém, no Estado do Pará). Casada com (predestinado) Cornélio, adorava as músicas e cantores da Jovem Guarda, especialmente do Erasmo Carlos e Roberto Carlos.
Cornélio cercava a Rosalva como galo quando está querendo meter o esporão na galinha. Um ciúme exacerbado. Incontrolável. Via, em qualquer pessoa do sexo masculino, um rival em potencial. E nem precisava que o pretenso rival tivesse um corpo esculpido em academia. Para Cornélio, um homem era um homem e, portanto, perigo iminente de perder a amada Rosalva para algum concorrente.
A mente do Cornélio vivia em polvorosa. Quando saiam, seja para passearem ou irem a missa, até o assobio de um passarinho ele já cogitava ser alguém assobiando para a Rosalva. Afinal, ela chamava a atenção (e inveja) até da mulherada, com aquele corpo todo enrijecido, pernas alongadas e um bumbum que parecia “moldado” para a esposa do Cornélio.
Quando Cornélio não podia acompanhar Rosalva, não permitia que ela fosse sozinha a qualquer lugar, ainda que a companhia fosse filha da vizinha, a Nanda, por quem o Cornélio não tinha muita simpatia. Mas, afinal, era mulher.
Na cabeça do Cornélio, mulher não era perigo.
E a Rosalva? Como ela mesma se intitulava, uma “santa”! Só se fazia acompanhar, para qualquer lugar, com o marido ou com a Nanda, amiga desde sempre.
Cornélio, casado há quase 15 anos com Rosalva, não teve um emprego seguro, em que precisasse ter um horário definido para labutar. Por conta disso, ausentava-se de casa conforme a necessidade do serviço que se lhe aparecia. Não saia de casa, porém, sem antes se certificar de que Rosalva iria permanecer em casa, e, caso saísse, já deixava negociado com Nanda para acompanhar a mulher.
E Nanda nunca recusou ou se fez de rogada, quando necessária (e desnecessária!) sua companhia à Rosalva. Em muitas das vezes, até se oferecia para tal “serviço”, embora não cobrasse do Cornélio absolutamente valor algum para a “função”. Era tudo por prazer, como ela costumava dizer.
E Cornélio, nessas ocasiões, sentia-se inteiramente tranquilo. E até arriscava dizer aos amigos o quanto cuidava de sua esposa, e criticava aqueles que permitiam que estas saíssem desacompanhadas.
Certo dia, Cornélio, chegando do serviço, foi dar uma incerta na bolsa da Rosalva, dizendo a si mesmo: “O seguro morreu de velho”. Já estava aliviado e quase arrependido de vasculhar as coisas da amada, quando percebeu um pedaço de papel, na cor vermelha, com muitas dobraduras, parecendo um origami, o que logo lhe chamou à atenção e acionou o “desconfiômetro”.
Foi desdobrando o minúsculo papel, e, à medida que seus dedos trêmulos abriam mais uma dobra, da sua testa caiam gotas de um suor quente, como se algo na cabeça estivesse a queimar.
“Meu amor, quando seu marido estará ausente, para termos mais horas, loucas e apaixonadas, para nós? Espero ansiosa por sua resposta. Beijos, amor. Assinado: Nanda”.
Tinha tanto medo de perder a amada, que aceitou a sugestão de ambas para morarem juntos, os três.
Acabou por se gabar aos amigos e vizinhança, que era o tal, que dava conta de duas mulheres. Essa foi a "negociação" com Rosalva e Nanda, para que ninguém soubesse que perdera a mulher para quem menos ele temia: outra mulher.
E viveram felizes por um bom tempo.
Quito Pereira
Blog Encontro de Gerações
Cornélio cercava a Rosalva como galo quando está querendo meter o esporão na galinha. Um ciúme exacerbado. Incontrolável. Via, em qualquer pessoa do sexo masculino, um rival em potencial. E nem precisava que o pretenso rival tivesse um corpo esculpido em academia. Para Cornélio, um homem era um homem e, portanto, perigo iminente de perder a amada Rosalva para algum concorrente.
A mente do Cornélio vivia em polvorosa. Quando saiam, seja para passearem ou irem a missa, até o assobio de um passarinho ele já cogitava ser alguém assobiando para a Rosalva. Afinal, ela chamava a atenção (e inveja) até da mulherada, com aquele corpo todo enrijecido, pernas alongadas e um bumbum que parecia “moldado” para a esposa do Cornélio.
Quando Cornélio não podia acompanhar Rosalva, não permitia que ela fosse sozinha a qualquer lugar, ainda que a companhia fosse filha da vizinha, a Nanda, por quem o Cornélio não tinha muita simpatia. Mas, afinal, era mulher.
Na cabeça do Cornélio, mulher não era perigo.
E a Rosalva? Como ela mesma se intitulava, uma “santa”! Só se fazia acompanhar, para qualquer lugar, com o marido ou com a Nanda, amiga desde sempre.
Cornélio, casado há quase 15 anos com Rosalva, não teve um emprego seguro, em que precisasse ter um horário definido para labutar. Por conta disso, ausentava-se de casa conforme a necessidade do serviço que se lhe aparecia. Não saia de casa, porém, sem antes se certificar de que Rosalva iria permanecer em casa, e, caso saísse, já deixava negociado com Nanda para acompanhar a mulher.
E Nanda nunca recusou ou se fez de rogada, quando necessária (e desnecessária!) sua companhia à Rosalva. Em muitas das vezes, até se oferecia para tal “serviço”, embora não cobrasse do Cornélio absolutamente valor algum para a “função”. Era tudo por prazer, como ela costumava dizer.
E Cornélio, nessas ocasiões, sentia-se inteiramente tranquilo. E até arriscava dizer aos amigos o quanto cuidava de sua esposa, e criticava aqueles que permitiam que estas saíssem desacompanhadas.
Certo dia, Cornélio, chegando do serviço, foi dar uma incerta na bolsa da Rosalva, dizendo a si mesmo: “O seguro morreu de velho”. Já estava aliviado e quase arrependido de vasculhar as coisas da amada, quando percebeu um pedaço de papel, na cor vermelha, com muitas dobraduras, parecendo um origami, o que logo lhe chamou à atenção e acionou o “desconfiômetro”.
Foi desdobrando o minúsculo papel, e, à medida que seus dedos trêmulos abriam mais uma dobra, da sua testa caiam gotas de um suor quente, como se algo na cabeça estivesse a queimar.
“Meu amor, quando seu marido estará ausente, para termos mais horas, loucas e apaixonadas, para nós? Espero ansiosa por sua resposta. Beijos, amor. Assinado: Nanda”.
Tinha tanto medo de perder a amada, que aceitou a sugestão de ambas para morarem juntos, os três.
Acabou por se gabar aos amigos e vizinhança, que era o tal, que dava conta de duas mulheres. Essa foi a "negociação" com Rosalva e Nanda, para que ninguém soubesse que perdera a mulher para quem menos ele temia: outra mulher.
E viveram felizes por um bom tempo.
Quito Pereira
Blog Encontro de Gerações
22 julho 2018
Postalinho do Douro
"Só não tive tempo de perceber se os habitantes desta localidade são coitados ou felizardos..."
Egídio Santos
Egídio Santos
DiciOrdinário - é rata!
Assim, ninguém pode dizer que errámos... ihihih...
Podes encomendar o DiciOrdinário aqui:
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(com direito a dedicatória personalizada pela São Rosas)
Luís Gaspar lê «Declaração» de José Saramago
Nem esta pedra é morta,
Nem morto está o fruto que tombou:
Dá-lhes vida o abraço dos meus dedos,
Respiram na cadência do meu sangue,
Do bafo que os tocou.
Também um dia, quando esta mão secar,
Na memória doutra mão perdurará,
Como a boca guardará caladamente
O sabor das bocas que beijou.
In Os Poemas Possíveis, 1966, p. 140.
José Saramago
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
21 julho 2018
«Antítese» - Susana Duarte
(ouvindo Aesthesys, “Dreams are only real as long as they last”)
sou a antítese dos mares. escondo-me das flores onde a luz não chega,
e da luz, onde as flores desmaiam ante o bater de asas das borboletas azuis. escondo-me
onde as luas me navegam. sou um exoplaneta frutado de luas sonoras, e a veia
onde os teus passos criaram a sede. sou a antítese de mim mesma, e o contrário de tudo.
persigo as ondas onde os mares se afundam em areias prístinas, e acendo os grânulos
de silício das praias com os passos dados em auroras distantes. nessas auroras vives
tu, ser flávio das noites antigas. és a antítese de mim, e aquele que me completa.
interrogas-me onde a estranheza se instala. escondes-me de mim onde me perdes e me tens.
é por ti que sou a antítese do ventre, e a demora das manhãs frutadas, e das noites vivas.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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sou a antítese dos mares. escondo-me das flores onde a luz não chega,
e da luz, onde as flores desmaiam ante o bater de asas das borboletas azuis. escondo-me
onde as luas me navegam. sou um exoplaneta frutado de luas sonoras, e a veia
onde os teus passos criaram a sede. sou a antítese de mim mesma, e o contrário de tudo.
persigo as ondas onde os mares se afundam em areias prístinas, e acendo os grânulos
de silício das praias com os passos dados em auroras distantes. nessas auroras vives
tu, ser flávio das noites antigas. és a antítese de mim, e aquele que me completa.
interrogas-me onde a estranheza se instala. escondes-me de mim onde me perdes e me tens.
é por ti que sou a antítese do ventre, e a demora das manhãs frutadas, e das noites vivas.
Susana Duarte
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