na insubmissa saudade que me traz névoas,
falta-me o ângulo solar do teu sorriso.
habituei-me à ausência dos lábios,
nunca me habituando à ausência
do que pressinto. faltas-me.
é longa a lisura dos braços que me acolhem
saudades mansas, despidas da bruma antiga,
onde habitas todos os recantos breves
das palavras que dissemos.
faltas-me no ar que me respira e vive.
faltas-me, sobretudo, onde a noite
se faz longa estrada percorrida
pela cadência agreste das silvas
que entoam cantos de coruja, nos locais
onde a lua interpela os amantes.
faltas-me nas ondas do cabelo,
que dantes revolvias com dedos seguros.
faltas-me onde me sabes, e sabes-me
onde o mundo se oculta de mim e eu,
dele me escondo. faltas-me.
na insubmissa saudade dos mares
outrora atravessados de carícias, falta-me
o ângulo solar dos teus dedos. habituei-me
à ausência dos beijos, nunca me habituando
à ausência do que pressinto e sei. faltas-me.
todos os dias.
Susana Duarte
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