10 março 2019

O fundo Baú - 7

O baú que deu início à colecção de
arte erótica «a funda São»
Menos de um mês depois do blog começar, em 3 de Dezembro de 2003, saiu a primeira publicação de defesa de causas relacionadas com o erotismo e a sexualidade. Considero este texto tão interessante que o transcrevo aqui:

Texto de Heloneida Stuart

"Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinham da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem e os dois irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.

Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou «vestígios himenais dilacerados», e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.

Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos. Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima. Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.

Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estrupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico,como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência.
As mulheres detestam o sangue, porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.

É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o país nas costas. São as mulheres que imporão um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e doçura de seus corações.

Heloneida Stuart (jornalista/cronista)
Jornal do Brasil - 06/02/2001"

J. Wayne Higgs - «Pietá»

Um auto-retrato com Gail, Washington DC, 1979

Ex-voto 10


09 março 2019

«Nova paixão» - Fernando Gomes

Na empresa, todos sabem que o chefe anda louco pela nova secretária. Está tão viciado na sua beleza exótica, que não consegue passar as horas de expediente longe dela. Há dias, a porta acidentalmente entreaberta do gabinete entregou à senhora da limpeza um insólito quadro: ele, de olhos revirados e respiração ofegante, roçava-se naquelas pernas longas, esculturalmente delineadas. Foi um nada até começar a ser bombardeado pelos risinhos trocistas dos subordinados. É claro que o chefe, que é tudo menos parvo, percebeu e tomou providências. Cortou-lhes os prémios por objectivos e passou a trancar-se todos os dias para não ser incomodado por olhares mexeriqueiros quando, extático, massaja a sua paixão com óleos raros, próprios para mogno.

Fernando Gomes

«Esse cara sou eu» - Mário Lima



"... que depois do amor se deita no seu peito"

Mário Lima

Amor de cacau

Bilhete postal da Feitoria do Cacao, de 2018.
Doação de Lourenço Moura para a minha colecção.



A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

08 março 2019

Passarinhos


Podia a genética ter-me dado problemas nos dentes ou na tiróide, diabetes ou até cabelos brancos mais precoces mas o que essa ditadora me colou bem fundo na cabeça foi a imagem do meu pai.

Ainda hoje não fujo de desejar homens de barbas e aqueles olhos amendoados de cor indefinida, mais brilhantes que uma super lua, fazem-me uivar. Olho-o e sinto-me o sapal de Corroios almejando esse maçarico-de-bico-direito a bicar-me toda a carne e a introduzir-se nas águas em arrancos seguros de quem busca alimento, primeiro rápido e depois, devagarinho.

E só quero repetir aquele colchão de penas latejante, mais e mais, antes do dia da partida desta ave migratória barbuda.

Sabes o que é "Afrodisíaco"?

O DiciOrdinário ilusTarado explica:

Afrodisíaco - conto erótico africano.

Faz a tua encomenda aqui.
Se quiseres, basta mencionares no formulário e posso enviar-te o DiciOrdinário com uma dedicatória.


#amigodamãeboa - Ruim

Memória de um trabalho de grupo do 9º ano em casa do amigo cuja mãe era boa todos os dias

- Rui, a minha mãe está em casa. Cuidado com as dicas...
- Quais dicas? Achas? Sei comportar-me.

(mãe abre a porta)

- Olá, rapazes. Tudo bem? Finjam que não estou aqui.
- Bora...
(queixo caído)
- Bo..bo... bo... (levo safanão nas costas) boa tarde.

(no quarto)

- Vá.. podes dizer...
- O quê?
- O que estás a pensar.
- Não sei do que é que...
- SIM, A MINHA MÃE É BOA. CONTENTE? F#da-se, é sempre isto.
- Calma, puto. É feio falares assim da minha futura ex.
- CALA-TE.
- Não grites ao teu padrasto. Vai para o quarto. JÁ!
- EU ESTOU NO QUARTO, RUI.
- Bom menino. És o meu orgulho.

(mãe entra no quarto com sandes mistas de triângulo)

- Trouxe um lanche para vocês. Tens cara de quem está com fome. Como te chamas?
- Rui... mas pode me chamar de... Rui.
- AHAHAHAHAHAHA. Opá..
(olho para o gajo)
- Mãe... deixa-nos estar.
- Se precisarem de algo, avisem.
- Por acaso...
- Sim?
- (paragem no espaço-tempo a pensar numa dica engraçada e com classe, mas como tenho 14 anos apercebo-me que não sei o que dizer) Podemos... ver o Dragon Ball? Ma... mais logo?
- Claro que sim.
(mãe sai)
- Puto..
- Diz..
- Acho que acabei de estragar a minha relação. Vais ter pais divorciados.
- Vai-te f#der...

Ruim
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07 março 2019

«A folha nua» - Áurea Justo

Escrevi-te um poema,
Numa folha nua
Delineado contornos com a pena,
Tornei-me cada vez mais tua.

Senti que uma linha tremia,
De uma emoção mal contida
Tal era o sentimento que fervia,
Na linha nua sem intriga.

Meus seios são botões de rosa,
E num parágrafo os vou descrever
O meu cantinho mais secreto é uma preciosa,
Arma que nos conduz à paixão de um só querer.

Tal como os ponteiros de um relógio,
São a identificação de um tempo
Batem ao compasso de um presságio,
São os protagonistas neste momento.

Neste poema que te escrevo,
Eu e tu temos o papel principal
Solta-se um aroma no enlevo,
E a folha nua, nunca mais será igual.

In Folha De Papiro Perfumada

Áurea Justo
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«Nem tudo está perdido» - Adão Iturrusgarai


Belo par de… bugalhos!

Dois bugalhos de carvalho bem juntinhos…
Oferta da Lurdes e do Antonino Silva para a "sexão" do que não é suposto ser erótico, da colecção.



A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

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