Aqui jaz o amor romântico - reza a minha campa. Deixo-vos, oh tristes
criaturinhas, a minha última imagem, a que me mereceram; sim,
essa, a universal, o dedo que orgulhosamente vos estico.
Fodei-vos,
imitadores de terceira categoria, fodei-vos vós que nem vos sabeis
desgraçar patética e honradamente como qualquer amor que se preze
exige.
Fodei-vos, vós que percorreis os jardins da ponderação e que
deitais fora, como quem deita fora um par de calças usado, o bom do
amor impossível e suas vicissitudes febris, tresloucadas, de peça única por um
moderno par de jeans de ganga, fabricado aos milhares, exactamente
igual amorzinho-que-vem-a-calhar ou
amor-não-lá-muito-conveniente-vamos-dar-apenas-umas-quecas-ao-fim-de-semana-que-´tá-na-moda.
Fodei-vos, vós que não tendes conhecimento da ânsia enfurecida e
estupidificante que faz qualquer amante - que faça justiça a essa
designação - morrer de marasmo longe da amada criatura.
Fodeis-vos, vós
que perante o amor não ficais convencidos que conseguis beber os
mares e rasgar os céus se for isso que torna um novo encontro possível.
Fodeis-vos mais as vossas análises de carreira, estatuto, opinião
familiar e outras contas de somar essas e outras parvoíces semelhantes.
Fodeis-vos,
vós que sois capazes de fazer todas essas somas e, ainda assim,
permaneceis convencidos que amais até ao tutano. Tédio até ao tutano,
é o que sois. Barris que envelhecem de grande pança, sem nada de
realmente muito emocionante para relatar.
Fodei-vos, seus incapazes de
uma boa "desgraçadelazita", de um trambolhão que fractura costelas já em
pandemónio e que ainda ajuda - apesar das lesões que causa - o coração a mexer
mais livre, mais forte, mais perdido.
Fodei-vos, seus
pseudo-românticos da estabilidade e do politicamente correcto.
Fodei-vos, vós que sois a vergonha de Romeu e Julieta - neste século
não se fará história, nem no amor, nem na política, nem na economia,
nem sequer nas vossas cuecas - este é o século dos
palhaços-sempre-com-a-mesma-máscara-de-ponderação-insonsa-a-dormir-em-pé. Pois, Romeu e Julieta que
dão-quecas-confortáveis-às-escondidas-que-fugir-aborrece-o-papá-e-a-mamã,
não me quer parecer que façam nada de muito notável em qualquer outro
capítulo se nem a força visceral do amor os move; casam com o
semelhante mais próximo, se casar não for muito inconveniente a nível
fiscal, compram casa e carro, talvez tenham um filho ou dois se der
jeito, engordam e envelhecem. E sentem que lhes falta algo. Sempre o
vazio, sempre a semi-infelicidade inexplicável, sempre o "vai-se
andando", o "estou mais ou menos".
Pois, fodei-vos todos, seus
parolos macambuzios da cantiguinha amorosa da juke-box. Fodei-vos de "moeda" entalada na vossa "ranhura"! Ide-vos! E tu? Sim, tu... Tu também!!!