16 abril 2013

«Mulher livre!» - por Zuleta


Na edição 2013 do World Press Cartoon, Zuleta, cartoonista colombiano, conquistou o terceiro prémio na categoria de desenho de humor com o desenho «Mulher livre!», publicado na revista peruana «El Mundo de Karry»

Tutti Rouge lingerie - Primavera/Verão 2013

Eva portuguesa - «Oração 2 - o regresso»

"Senhores passageiros, estamos a começar a descer em direcção ao aeroporto de Lisboa, Portugal" - dizia o comandante no intercomunicador do avião.
Nunca fiquei tão feliz em ouvir o nome do meu país e da minha cidade!...
Sim, era um regresso súbito e bem mais cedo do que o planeado... e talvez por isso mesmo muito mais desejado....
Lisboa aparecia por baixo das nuvens e eu sorria de felicidade.
Lembrava quando, há bem pouco tempo, tinha feito exactamente a viagem oposta.
Ainda sábado deixava saudosista, mas tambem esperançosa, a minha casa e, contra todas as previsões, já estava de volta...
Não vim com mais dinheiro mas vim mais rica, mais crescida. Cresci por ter observado e recusado a entrar num mundo que não é meu...um mundo de drogas, bebida, clubes nocturnos e prostituição barata... Nunca, como nestes quatro dias, dei tantas graças pela (inesperada e não reconhecida) dignidade do meu trabalho, tal como o pratico aqui...
Obrigada, meu Deus, por me teres protegido, por me permitires regressar em segurança e paz, pela possibilidade de manter alguma dignidade e tranquilidade naquilo que faço!
Obrigada por me trazeres de volta a casa, à minha gente e aos meus clientes!
Obrigada por me teres mostrado a degradação e me manteres afastada dela!
Obrigada pela paz, saúde, alegria. 

Obrigada pela minha casa, o meu carro, a minha cadelinha, o meu filho e os meus amigos.
Obrigada pelo meu trabalho, pelos meus clientes, pela minha vida... 
Obrigada!
E, no fim desta pequena mas sentida oração, aterro em Lisboa, de onde, sei agora, nunca devia ter saído...
E agora retomo o meu trabalho cá, ainda com mais dedicação, grata por tê-lo....


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Despida» - Susana Duarte

Tenho os sentidos despidos de ti,
e de ti vestidos
na montanha de luas antigas,
na sáfara atravessada de rugas,
na territorialidade das névoas,
e na eternidade dos olhos.

De ti, retenho em mim a pele,
e na pele
dispo as cátedras do que sabia antes,
em dias que não sei,
em tempos e lugares onde fui outra,
em tempestades que retive na sombra
dos tecidos
do corpo.

Do corpo, despi-me na neve
e na neve das noites
enchi-me de ar,
volteei em ondas de som
e deixei-me encantar pelas nuvens
da mente.

Resido nas pontas feiticeiras
de um saber antigo
e dispo-me dos sentidos:
olhar,ainda que despida dos olhos;
sentir, ainda que sem tocar;
escutar, ainda que os ouvidos
alados
se tenham tornado viajantes
onde torres caem e mistérios
se levantam
nos dias
que sou.

Despi-me de tudo.
Prossigo em ti.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Bengala pirilau

Bengala em madeira, com 80 cm de altura, com correia em cabedal e um pequeno aro em latão, na parte superior.
A partir de agora, é  da minha colecção.





15 abril 2013

Parece ser um anúncio a t-shirts mas não é

Empresa de telefonia da Polónia lançou em 2012 um anúncio sensual para comemorar 7 milhões de utilizadores

Luís Gaspar lê «Goles de paixão» de Gigi Manzarra

Embriago-me com o néctar do teu corpo nu!
 Como num cálice valioso, encosto os lábios quentes e sorvo aos poucos, bem devagar, o sabor tão doce que se desprende de ti.
 Permito sem lutar, que os efeitos etílicos se espalhem sem pudor por todos os meus inebriados sentidos.
Perdida no lascivo mergulho…e já bêbada de ti, em êxtase, prisioneira e algoz, te uso e me entrego a esse mágico encantamento de uma insidiosa e desmedida paixão, que transforma o vermelho do meu sangue no precioso néctar que roubo de ti.

Gigi Manzarra

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«conversa 1959» - bagaço amarelo

(na casa dela)

Eu - Ena! Tens este vinil?! Não acredito!
Ela - Não acreditas, porquê?
Eu - Este disco é raríssimo. "10000 anos depois entre Vénus e Marte", do José Cid... espectacular. Consegues vender isto por uns cem euros...
Ela - Não é meu, é do meu ex-marido e ele está farto de mo pedir.
Eu - Ah! Então e não lho dás? Se eu fosse o teu ex-marido já tinha cá vindo buscá-lo.
Ela - Eu até dava, mas estou com medo.
Eu - Medo de quê?
Ela - Há uns tempos precisava duma base para a mesa, para pousar a panela quente do jantar, e usei esse disco. Ficou um bocado estragado...
Eu - Fizeste o quê?!?!?!?!
Ela - Eu sabia lá... um disco do José Cid... pensei que fosse mais uma porcaria dessas que ele se esqueceu cá em casa quando se foi embora.
Eu - Fizeste o quê?!?!?!?!
Ela - Estás a ver? É dessa reacção que eu tenho medo...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Tenha cuidado

Planeje melhor suas atitudes.



Malditas janelas reflexivas do inferno.

Capinaremos.com

14 abril 2013

Aquele...


Foto: Christian Coigny
 
 
Aquele beijo. Aquele que não resistimos. Aquele onde nos entregamos. Aquele beijo que leva tudo. Aquele onde nascemos. Aquele beijo onde morremos. Que leva a alma. Aquele beijo que nos ruboriza. Aquele ao qual fugimos por breves segundos para o poder prolongar. Aquele beijo. Aquele que nos entreabre ligeiramente os lábios. Aquele beijo que começa tépido, calmo e termina quente. Explosivo. Aquele beijo que nos leva as forças. Fechamos os olhos para o sentir inteiro naquele único sentido que é o da alma. Aquele beijo desmedido e interminável. Aquele que é doce e levemente molhado. Aquele onde depomos o desejo de o querer para sempre. Aquele beijo sôfrego e que marca conquistas e momentos como uma bandeira. Aquele beijo que apetece. Aquele onde nos sentimos morar quando o corpo levita. Aquele. 

«You've Got Talent - Ucrânia - 5 - Anastasia Sokolova de Kiev»

«Namoro de antigamente» - por Rui Felício


O Senhor Fachada era respeitado, por ser o homem mais rico da aldeia.
Era também, ao mesmo tempo, admirado e temido.
Admirado pelo carácter, pela figura imponente de possante estatura, pela respeitável barba grisalha, Temido, pelo pausado e duro tom de voz que lhe fazia sair as palavras da garganta como pedras certeiras que feriam mais o interlocutor desprevenido do que o magoaria uma evenual chibatada do pingalim que volteava na sua mão quando alguma coisa lhe desagradava.
Falava telegráficamente, nunca se sabendo quais as ideias ou sentimentos que se digladiavam na sua austera cabeça, antes de sentenciar em poucas palavras, depois de longa reflexão, o veredicto final, decisivo, irrevogável e inapelável.
O Fueiro, polícia que trabalhava em Coimbra, vivia na aldeia, perto da igreja, numa tosca casa de calhau rolado, onde a chuva se infiltrava pelo telhado velho em noites de temporal.
Depois de dias e dias de indecisão, encheu-se finalmente de coragem, montou-se na bicicleta e foi à Quinta pedir para falar com o Sr. Fachada.
Mandaram-no entrar na grande sala onde o dono da Quinta jantava, desbarretou-se e ficou de pé em frente da enorme mesa, à espera de autorização para falar.
Longos minutos depois, a um aceno imperativo do Sr. Fachada, articulou nervoso:
- Venho pedir a mão da sua neta e pedir a sua autorização para casar com ela...
O velho continuou a sorver a sopa com grande ruido, tirou o guardanapo de linho do pescoço, afiou com o canivete um pau de salgueiro, palitou os dentes com uma lentidão exasperante e mandou a criada chamar a sua neta.
A Conceição entrou pouco depois, olhou de esguelha o Fueiro e especou-se em frente ao avô.
- Então namoravas com o Sr. Fueiro e eu não sabia, disse-lhe o avô, inquisitivo, sem conseguir disfarçar um tique no nariz que era o único sinal visivel do seu incómodo.
-Eu? Nunca falei com ele! Deve estar doido! Alguma vez eu namoraria com este cepo?
O Fueiro argumentou:
- Mas eu passo ao pé do muro da Quinta todas as tardes de bicicleta e buzino-lhe várias vezes menina Conceição! Como a menina nunca me disse para eu não buzinar...
O polícia fitou o Sr. Fachada aguardando uma resposta, já este se levantava da mesa, endireitando os vincos das calças, sem nunca deixar de escarafunchar os dentes com o palito.
Já à porta, antes de sair da sala, voltou lentamente a cabeça, mirou o Fueiro que amassava o chapéu entre as mãos e ordenou à criada:
- Vai lá fora e fura a buzina da bicicleta do Sr. Fueiro!

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Trivialidades



Primeiro, Senhor Doutor, gostaria de lhe pedir o maior sigilo sobre a minha vinda aqui. Não é que não assuma o facto de o estar a consultar mas que necessidade tem toda a gente de o saber?... Uma coisa é dizer-lhe a si que é difícil aturar uma mulher como a Maria e outra, é contar os pormenores a toda a gente. Você é homem e entende-me que não fica bem comentar os defeitos de uma senhora.

Saiba o Senhor Doutor que quando alvitro que a refilisse dela se deve ao período, ela atira-me logo à cara que sou machista. Um gajo esforça-se e ela está sempre com detalhes. E depois, com aquela mania que ela tem de que a igualdade começa na cama e da porta de casa para dentro, o Senhor Doutor nem queira saber o que passo. Da última vez que lhe sugeri que estava na hora de fazer ski no Monte de Vénus completamente limpinho, não é que ela me disse que ia já fazer a marcação e de caminho arranjava também uma horinha para mim que estava farta de pêlos a meterem-se pelo nariz?... E ainda lhe digo mais; não é que um gajo está descansadinho a beber uma cervejinha e deixa a lata ou a garrafa vazia no sítio que está mais à mão e a Maria não perdoa e questiona-me logo se preciso de aumentar a graduação dos óculos para descobrir os ecopontos lá de casa, com o remoque adicional de que ambos sabemos que não são pilhões.

Sorte tinha o meu avô, Senhor Doutor, a quem a minha avó estava sempre a procurar o jeito. Agora a Maria exige-me que seja um expert na cama, um gajo bem humorado e com alguma cultura para conversar com ela e ainda quer que saiba fazer o mesmo que ela nas lides domésticas. O Senhor Doutor acha que é suposto um homem aguentar tanto?...