28 fevereiro 2014

King Missile - «Detachable Penis»


King Missile - "Detachable Penis" (1992) from Richard Kern on Vimeo.

(DES)Ata-me



Quando sorriste perturbante no teu olhar escaldante, percebi que ia ser um momento invulgar.

Cancelaste os compromissos, trancaste a porta do teu (luxuriante) gabinete que dá para o Secretariado, o telemóvel em silêncio, um último anúncio à tua assessora :"Não estou para ninguém!"

Eu sabia que a minha visita (in)esperada te agradava e o que tinha vestido te excitava a imaginação. E não só.

Aproximei-me da secretária de nogueira, maciça, onde tantas vezes os processos se tinham misturado, na pressa de fazermos amor enquanto te aguardavam para as reuniões que te afastavam de mim.

O teu olhar percorreu-me conhecedor e exploratório. Estava mesmo ao teu gosto: tinha-me vestido para ti.
Vestido de tecido estampado que tinhas conseguido no Japão, de tecnologia incrível e que nunca soube definir. (Como brincavas comigo e com a minha ignorância...)
Sempre pensei que fosse seda, mas dizias que não...

Bota preta de verniz, cano alto, salto médio, a fazer conjunto com a mala não muito grande, mas deselegantemente cheia, porque dizias que eu carregava o mundo dentro da minha mala. Como qualquer mulher que se preze.

Casaco branco, comprido de caxemira (em Paris estava frio). A lingerie adivinhavas. Mas o cinto de ligas era a estrear...

Pousei a mala e o casaco no cadeirão de pele, à esquerda. Tinhas corrido os reposteiros de veludo pesado e quente.

Abraçaste-me numa pressa que me ia desequilibrando. Sentaste-me na secretária, abracei-te com as pernas. Enquanto nos beijávamos interminavelmente, senti uma fita de seda a vendarem-me os olhos.

Ataste-me os pulsos atrás das costas e fiquei à tua mercê. Os outros sentidos apurados pela falta de visão.

Por favor, desata-me - supliquei-te, ainda antes de me obrigares a engolir o teu sexo rígido e enorme.

Mas nessa tarde, não estavas para me fazeres as vontades.

E sabes que adoro que me domines...

by Luna

Postalinho da Rota dos Moinhos do Buçaco

Para um turista "normal", esta fonte na aldeia de Carvalho é bonita... e mais nada...


... mas os membros e as membranas d'a funda São têm a vista e a taradice apuradas. Então... o que é aquilo no brasão ao meio da fonte?!


Se não é o que parece, pelo menos parece que é mesmo!

26 fevereiro 2014

«A chuva, amor» - João

"Chove tanto amor. E o vento. O vento amor. Vejo os teus cabelos ondular e preocupo-me, penso em correr para ti e segurar-te, amor. Amparar-te. Encostar-me a ti, como contraforte, fazer força para não cair. Enterro os meus pés no chão, e a terra faz-se lama, e eu debato-me para nos segurarmos. Tanto vento, amor. Começo a escorregar na lama, vejo os pés mover-se, primeiro devagarinho, depois já a obrigar-me a dar passos atrás, como se o chão fosse passadeira rolante. E encosto-me a ti, agarro-me a ti, seguro-te, e contrario a tempestade. E os teus cabelos amor. Os teus cabelos a ondular. Choras. A chuva bate-nos na cara, o vento faz folhas e ramos voar na nossa direcção, e agita-me o casaco, arranca-mo dos braços, liberto o peso, e empurro ainda mais na tua direcção, faço ainda mais força, e já me custa fixar os pés na água e na lama que correm, e a torrente já tem pedras, e tudo me escava por baixo dos pés como o mar que leva a areia e nos enterra. Abanamos os dois ao vento, os teus cabelos a esvoaçar, eu já quase de joelhos, a forçar as tuas pernas, a tentar fixar-te no lugar. Chove tanto amor. E há tanto vento. E estamos quase a cair. Estamos quase a escorregar vertente abaixo, levados nas águas. E eu já grito. Já me perco em imprecações, e tu gemes baixinho, e tremes. Tremes tanto amor. E continuo a levar com água na cara, e continuo a levar com folhas, pedras e ramos de árvore, e continuo a segurar-te, e tu gemes baixinho e dizes-me, com os cabelos ondulantes “amor…”, e eu tento olhar-te enquanto me esforço para não ser levado, e tu repetes “amor…” e eu agarro-me à tua mão, e ainda vou a tempo de te ouvir dizer “amor… eu já não te quero”, e num momento falham-me os joelhos, e tombo por fim na lama, e não tenho tempo de nada, e vou nas águas, a gritar mudo, e vejo-te ficar mais longe, e choro compulsivamente enquanto as pedras me batem no corpo, enquanto a água me afoga, enquanto o vento me leva triste e morro devagarinho."
João
Geografia das Curvas

«Proooonto, proooonto, já passou...» - Nicolas François Octave Tassaert



Nicolas François Octave Tassaert (França, 1800 – 1874)

Via Bernard Perroud

«sem título» - bagaço amarelo

Saí sozinho. Fui ter a um bar nos subúrbios de Aveiro onde estava uma mulher sentada no canto, pelo menos há uns trezentos anos, com um cão de guarda adormecido. Atrás do balcão, um homem que lia jornais desportivos já amarelecidos pelo tempo perguntou-me o que eu queria. Apeteceu-me dizer-lhe que me apetecia que houvesse paz no mundo, que o capitalismo acabasse duma vez por todas como pai do nosso modelo económico e que a Lena D'àgua nunca tivesse envelhecido. Pelo sim pelo não, acabei por pedir apenas uma aguardente CR&F.

- Tem CR&F? - perguntei.
- Tenho, mas também tenho mais baratas.
- Quanto é a CR&F? - assustei-me.
- Três.
- Pode ser.

A mulher com mais de trezentos anos olhava para mim. Eu sabia-o, embora ela não estivesse dentro do meu ângulo de visão. Há olhares que pesam sobre nós, mesmo quando não os enfrentamos. O homem, por qualquer motivo que nunca vou perceber, serviu-me duas CR&F duma vez e cobrou-me só uma. Em silêncio, cheguei à conclusão que ele sabe que quem bebe CR&F nunca bebe só uma. É uma questão estatística e, pela parte que me toca, tem razão.

- O Ronaldo é muito melhor que o Eusébio. - disse o homem.

A mulher com mais de trezentos anos ri-se, embora eu tenha dúvidas que saiba porquê. Peço mais duas aguardentes com a condição de pagar só uma. Os bares dos subúrbios da cidade são embrulhos de solidão. É por isso que gosto deles. São os únicos capazes de pegar na solidão de várias pessoas e embrulhá-la duma forma bonita, como se fosse uma prenda de Natal.
Lembro-me de ter ido a este mesmo bar há uns oito anos atrás, pouco tempo depois do meu divórcio e quando me sentia o homem mais sozinho do mundo, com excepção de todos os outros, e de ter visto a mesma mulher com mais de trezentos anos e o mesmo homem a ler jornais desportivos.
Tal como as fases da Lua, há coisa que nunca mudam.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho Happy

"O que se aprende nas revistas femininas..."
Corpos & Almas


25 fevereiro 2014

As melhores cenas de sexo em "gravidade zero"

Eva portuguesa - «zen»

Estou zen. Seja lá o que for que isso quer dizer.
Não me apetece chatear. É simples.
Podem continuar a tentar (até porque quem o faz, fá-lo com tanta maldade que não consegue resistir). Mas hoje estou zen. E não vou deixar que factores externos alterem esta minha paz interior. No aconchego e conforto de um cantinho tão meu, que é pago com o aluguer do meu corpo, não vou valorizar o que não interessa, o que nada acrescenta de positivo à minha vida. O quê ou quem.
Não. Pelo menos hoje não.
Não vou olhar para o vazio que preenche a minha vida, para as condicionantes e limitações que esta profissão impõe na minha vida pessoal. Não vou pensar nos clientes que se foram, no dinheiro que não chega, nos telefonemas e mails ordinários e insultuosos.
Hoje, e pelo menos hoje, não vou deixar que roubem a minha paz interior nem que machuquem a minha alma.
Hoje estou zen. Em paz com o mundo. Em paz comigo (as 2 facetas de mim).
E por isso hoje vou apenas olhar para o fogo que arde na lareira, tentando esvaziar a minha mente. Vou pensar nos aspectos positivos que a minha vida tem. Vou pensar no meu filho, que é o meu mundo, a minha vida, a minha felicidade. Vou lembrar as pessoas positivas e bonitas (por dentro e por fora) que se têm atravessado no meu caminho ao longo dos anos, quer a nível pessoal quer a nível profissional. Vou sorrir ao pensar naquele cliente que ontem veio do Porto e me trouxe um perfume de prenda do dia dos namorados. Ou daquele outro que me costuma trazer rosas. Ou aquele que me envia palavras de carinho e conforto quando me sente menos bem. Vou recordar aquele homem que me amou e aceitou, mesmo sabendo o que faço para ganhar a vida. Vou pensar nos amigos que, conhecendo as duas metades da laranja que sou eu, nunca me julgaram ou criticaram. E, destas pessoas maravilhosas, vou certamente irradiar alegria ao contabilizar aquelas que ainda permanecem.
Hoje estou zen. Estou de bem comigo e com o universo. Tendo mágoas e feridas, aceito-as como fazendo parte do meu processo de crescimento pessoal. E acredito que amanhã vai ser melhor. E sei que ainda terei muito para receber no futuro. Que serei feliz. Não sei como, mas agora também não interessa nada. Sei, porque sei, que tudo vai melhorar. E assim como o inverno chuvoso e frio dará lugar a dias radiantes de sol, também a minha realidade mudará para melhor.
Sinto isto.
Porque hoje estou zen.


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado