02 abril 2014

«Deste frio que te traz a mim» - João

"Vem-me à memória um dia pleno de Sol, como alguns destes por entre os quais me atiro sem mover, com vento e com frio cortantes, como alguns destes por entre os quais me catapulto sem capacete. Afastaste-te de mim, de cabelos ondulantes. Caminhaste para longe, ora de braços pendentes, ora de mãos nos bolsos, de botas castanhas que num ou noutro momento pontapearam pedritas inocentes que se cruzaram contigo. Eu estava ao longe, a ver-te. Peguei no teu casaco, que tinha ficado esquecido no meio de frases curtas, e caminhei até ti. Para não teres frio. Para não ficares doente. E depois voltei para onde estava, sempre de olhar fixo em ti.

Vêm-me à memória os dias frios, gelados, como hoje, como agora. As minhas mãos sempre ficam mais quentes quando o ar corta. Escaldam. A superfície que tocam é sempre maior do que a que ocupam. Estas mãos que aquecem, que confortam, são a pele que toca a tua. É seda contra seda, num deslize de peles que se contraria quando se aperta com força, quando os dedos tentam evitar que a pele se escape, e podia ter sido hoje, como ontem, como em qualquer dia, desta memória que transforma os momentos em películas contínuas, fotogramas de desejo e risos, muitos risos, um medicamento que cura e faz esquecer as torturas dos dias pálidos.

E enquanto caminho, sozinho pela rua, com as mãos a escaldar desafiando o frio que o ar tem, invade-me um sorriso que te tem lá dentro, saboreio os teus sabores recordados, e enquanto meneio a cabeça numa espécie de discordância, pensando aquele clássico de não existires, vejo que o mundo tem muita gente, tem muitas coisas, tem de tudo para todos e para todos os gostos, e depois tem-te a ti. E isso é único."

João
Geografia das Curvas

Grandessíssimo arraial de cona

«Os reis da Pérsia admitiam as suas mulheres nos festins; porém, quando o vinho lhes aquecia o cérebro, quando já davam rédea solta à voluptuosidade, enviavam-nas para as suas habitações particulares para não as fazerem participar nos seus apetites imoderados, e faziam-se acompanhar por outras mulheres, às quais não os ligava nenhuma obrigação de respeito. Todos os prazeres e todas as coisas agradáveis não convêm por igual a toda a espécie de gente.»

in Ensaios, Michel de Montaigne

«conversa 2058» - bagaço amarelo

Ela - Detesto homens incapazes de ter discussões com mulheres.
Eu - Todos os homens são capazes de ter discussões com as mulheres.
Ela - O meu marido não é.
Eu - Olha que é. Pode é ter chegado à conclusão que não vale a pena discutir contigo. Aliás, pelo que eu conheço de ti, não vale mesmo a pena discutir contigo.
Ela - Não vale a pena discutir comigo?!
Eu - Não, não vale. Nunca dás o braço a torcer, mesmo que seja óbvio que não tens razão.
Ela - Mesmo que isso seja verdade, prefiro que ele discuta.
Eu - Mas para que é que ele vai discutir contigo, se sabe que não vale a pena?
Ela - Para isso mesmo, para discutir..


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

01 abril 2014

Desacordo ortográfico

"Masturbação". Isto tem algum jeito?

Eva portuguesa - «Lembras-te?»

Diz-me...
O que te faz estar vivo hoje?
O que faz o teu coração bater mais forte?
O que te faz sentir as gotas de chuva a escorrer pelo teu cabelo e os raios de sol a beijar a tua pele?
O que é que, neste exacto momento, te apetece fazer, sentir e agarrar?... Serei Eu?...
O que te tira o sono e te faz sonhar?... Será a recordação do Meu cheiro,do Meu toque?...
Lembras-te do que é querer desesperadamente, urgentemente?
Lembras-te de quando a vontade é tal que não pode esperar?
Lembras-te?
Ou precisas que vá aí recordar-te?

Posso recordar-te se vieres até mim...Estou cá para ti. Hoje. Todos os dias sem excepção.
Entre as 10h e a 1h da manhã.


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Noiva-borboleta» - Susana Duarte








.a noiva-borboleta inventa voos e desenha rabiscos no papel de rascunho.
.na noite silente, acaricia os dedos finos e inscreve o azul no seu sonho.
.no dia mais longo, inventa canções e desassossegos da ternura e da dor.
.a noiva-borboleta inventou as amoras da criação e da noite e do amor.
.na noite mais longa, escreve solidão nos dedos das aves e nas asas-som.
.no dia sereno, inventa uma dança e dança uma música de um só tom.
.espera serena a presença da aurora e a paz de noites de fogo de outrora.
.a noiva-borboleta sabe das nuvens brancas da espera e do ventre da terra.
.a noiva-borboleta dança um tango sedutor, olhar das cores do mar e da serra.
.nua, a noiva-borboleta dança sob a chuva e ilumina, em si, um arco-íris.
.os seus olhos iridescentes brilham do azul que neles vive,
pescando sonhos na maré lunar.

Susana Duarte
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum Edições Literárias
Dezembro de 2012

Relembrando os videos de apresentação da minha colecção - 4 - Proibições que são hinos à vida

Quarto vídeo de apresentação de «a funda São» - colecção (muito) particular de arte erótica, de Setembro de 2011, com outro poema de Jorge Castro lido pela voz de ouro de Luís Gaspar (do Estúdio Raposa).
As peças apresentadas fazem parte de um espólio com mais de 3.000 objectos e mais de 1.700 livros com a temática do erotismo e da sexualidade.
A música do genérico é «Sometime Ago», de Bill Evans (do álbum «You must believe in spring»).
A produção e a realização do video são de Joana Moura.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

31 março 2014

Não há tela mais bela...


Yoyoart Portfolio Shot Budapest from Juhász Péter on Vimeo.

Segundo postalinho de Vale da Mó

"Um jardim perto de Vale da Mó tinha esta figura a sair das florzinhas...


que afinal..."
PM

«sem título, sem nada» - bagaço amarelo

Primeiro, aquilo de que um Amante sente falta é da própria falta. Perguntamo-nos se, em vez de Amar, não seria melhor procurar eternamente o Amor como se ele estivesse à nossa espera na próxima esquina, percorrendo assim todas as esquinas da vida até esta se apagar num ligeiro sopro de alívio.
Procurar o Amor, viver nessa expectativa, é uma infelicidade tão próxima da felicidade que chegamos a acreditar que vale a pena. Talvez valha. Sei lá.
O que eu sei é que há um momento em que acreditamos que não. É quando damos a mão a alguém que nos estende a sua e tudo o resto perde a importância. A árvore que nos observa do meio da avenida, o polícia que multa um carro em segunda fila ou o resultado dum jogo de futebol. Tudo se engrandece para se reduzir a nada.
Porque o Amor é o único capaz de viver do nada.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

O negócio é fechar os olhos

E relaxar.


Credo que medo.

Capinaremos.com

30 março 2014

é espectacular, até porque não dói, nem dá para apanhar doenças

Placebo de intimidade



Apesar da tropa feita julgo que abusei nas vezes que o fiz encher. Começou-se a queixar das costas e até da pilinha. Valha a verdade que a cabecita ficava vermelha que nem um tomate, um tomate mesmo daqueles que se usam na salada e em qualquer guisado que se preze que os outros tinham aquele tradicional tom de pele mais arroxeada que a restante. Ele insistia que deixasse para lá e suponho mesmo que o intimidava quando me deitava entre as suas pernas e naquela proximidade lhe examinava o dito cujo, vira para cá, vira para lá, como quem analisa um reagente num tubo de ensaio tanto que acabava a cobri-lo com as mãos como se fossem um garruço.

Tive de conter o riso quando depois de ir ao médico me contou cabisbaixo que após tantos anos tinha de ir faca fazer uma circuncisão. Pareceu-me cruel perguntar-lhe o que é que não tinha feito na adolescência e nos anos seguintes para nunca ter dado conta e resolvi antes incentivá-lo com as vantagens do tunning da ferramenta como quem coloca um motor novo no carro que tem há anos.

Estoicamente resistiu depois com o seu faraó enfaixado e receoso de nunca mais abandonar o estado de múmia invocando uma qualquer maldição para me impedir de o acompanhar à mudança de penso apesar dos meus insistentes rogos por me estar a coarctar a oportunidade única de ver um penso ensanguentado num sexo de homem e só me permitiu voltar a ver o meu pequenino finda a fase de pousio para a primeira rodagem.

Talvez tudo continuasse pacatamente como um placebo se eu não tivesse tido a ideia peregrina de numa noite ir ter com ele à casa de banho e encontrá-lo a mergulhar as duas placas numa pouca de água com um comprimido efervescente perante o seu olhar arrepiado por me desnudar a sua cara subitamente envelhecida sem os dentes. Nunca mais me conseguiu encarar.

Postalinho da Baixa de Coimbra

"O Mata-Frades está há muitas décadas no Largo da Portagem, em Coimbra, com uma folha de papel e uma pena. Dizem os estudantes que é para anotar os nomes das raparigas que chegam a Coimbra virgens e saem de lá virgens... e juram que ainda não o viram mexer um dedo!
A estátua dele está envolvida por um bonito e cuidado jardim circular...


... com um gradeamento em ferro forjado trabalhado e encimado por flores...


... muito bonitas, sendo que...


... uma delas se transfigurou e agora é um belo de um caralho com asas!"
PM


29 março 2014

«Cinema em 7 Cores» - curta-metragem Porta-Curtas

Documentário
Diretor: Felipe Tostes, Rafaela Dias
Duração: 34 min
Ano: 2008
País: Brasil
Sinopse: "Cinema em 7 Cores traça um panorama histórico de como o personagem gay foi retratado nas telas grandes brasileiras, desde sua origem nas chanchadas dos anos 50 até os dias atuais. O filme investiga as origens dos preconceitos, estereótipos, assim como a importância da identificação com representações construtivas desses personagens".

«Perfumes eróticos em tempo de vacas magras»... é um pouco o que é este blog, com a crise que por aí anda


Manuel da Silva Ramos é um escritor da Covilhã (a "terra dos conas da mãe", como descobriu da pior forma o Carlos Queirós, em 2010) que decidiu - e muito bem, digo eu - escrever estes contos que cruzam deliciosamente duas coisas teorica e praticamente inconciliáveis: o erotismo e a puta da política.
De todos os 1.760 livros da minha colecção, este «Perfumes eróticos em tempo de vacas magras» é um dos que recomendo a toda a gente de mente e pernas abertas (mesmo que seja apenas de forma alternada).  E as ilustrações de João Pedro Lam são um regalo para o olho (salvo seja) e dão ainda mais «perfume erótico» aos vários contos deste livro. Ficam alguns exemplos:





Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Frontal?!...


28 março 2014

Diesel - «XXX»


Diesel XXX Viral from Alice Dupre on Vimeo.

Primeiro postalinho de Vale da Mó

"As árvores de Vale da Mó são fêmeas"
PM




Henrique VIII, o campeão do matrimónio e do divórcio, já agora


Henrique VIII, frequentemente representado em pinturas que caberiam numa moldura quadrada, foi um dos mais marcantes monarcas da longa história da realeza britânica, tendo governado durante cerca de 38 anos. Durante esse período, para além das profundas reformas que levou a cabo, ficou famoso pela sucessão de matrimónios e pela forma como simplificou o processo de divórcio.

Assim, começou por casar com Catarina de Aragão, viúva do seu irmão Artur, mas como esta apenas lhe deu uma filha e não o tão desejado filho varão, acabou por separar-se dela e colocou-a em prisão domiciliária. Quem não achou piada a isto foi o Papa que resolveu não dar a necessária autorização para a separação do casal. Henrique não se resignou e desatou este nó gordiano ao declarar-se chefe da igreja inglesa e subtraindo-a à autoridade de Roma.  

Casou em seguida com Ana Bolena que, infelizmente, também não conseguiu dar-lhe o tão desejado filho, apenas uma filha chamada Elizabeth que, quiçá amaldiçoada pelo facto de ser indesejada pelo pai, haveria de morrer virgem. Muito convenientemente, Ana foi acusada de bruxaria, incesto, adultério e conspiração contra o rei e acabou por ser executada.

No dia seguinte à execução de Ana Bolena, Henrique VIII anunciou o seu noivado com Jane Seymour, uma das aias da falecida rainha, tendo casado 10 dias depois. Jane teve sucesso onde as outras falharam, conseguindo gerar um filho à custa da própria vida, já que morreu ao dar à luz. O jovem Eduardo haveria de governar apenas durante 6 anos, morrendo com 15 anos de idade.

Como a um rei ficava mal não ter rainha, Thomas Cromwell, um dos fiéis conselheiros do rei, sugeriu o casamento de Henrique VIII com Anne de Cleves ao que este acedeu após aprovar os retratos desta que lhe foram mostrados. Contudo, os pintores terão favorecido demasiado a pobre mulher já que, ao encará-la pela primeira vez, Henrique não lhe achou piada nenhuma e retirou-se a dada altura da festa de casamento. Anne foi mais tarde declarada honorificamente irmã do rei tendo o casamento sido dissolvido. A rainha saiu desta história com vida mas a mesma sorte não teve Thomas Cromwell, que acabou por ser executado.

Enquanto Thomas Cromwell estava ocupado com a sua própria execução, o rei casava com Catherine Howard, sua prima e antiga aia de Ana Bolena. Se ao casar Henrique perdeu a cabeça e ofereceu à sua noiva todas as propriedades do malogrado Cromwell, a rainha não fez por menos e, menos de dois anos após o matrimónio, perdeu mesmo a cabeça após ser acusada de adultério.

Já bastante experiente no processo, Henrique casou no ano seguinte com Catherine Parr, uma viúva abastada que assim casava pela terceira vez, e que acabaria por ser a sua última esposa. Uma proeza se tivermos em conta a obesidade mórbida, os furúnculos recheados de pus, a gota, a ferida ulcerada numa perna e as constantes flutuações de humor de que o rei já padecia.



Contas feitas, o rei casou por 6 vezes e teve, que se saiba e desconfie, algumas dezenas de amantes.  Nada mau para alguém que antes da morte do irmão estava destinado a ser Arcebispo da Cantuária. 

Terá sido esta performance conjugal a servir de inspiração para a construção da armadura do rei Henrique Coitavo, perdão, Henrique Oitavo que está actualmente em exposição na Torre de Londres?