09 outubro 2015

tu és Pedro e esta pedra já se fez de Laranjeira

um pontapé à Bocage
uma caralhada a postos
um desassombro à ilharga
um poema sem maneiras
uma voz tão gutural quanto a ideia acendida
um Colombo em Portugal de próstata escafedida
era uma causa
outra causa
e três causas a voar
uma dele e outra dele
e outra mais a acompanhar
um destino
um desatino
a vida a fazer o pino
um Pedro e um Laranjeira
onde pedras e laranjas eram de certa maneira
um cúmplice em cumplicidades
um sacrista dos demónios
ânimo de erguer cidades
sem curar dos heterónimos
um grito rouco que valha
o fio de uma navalha
por ser a vida um truísmo
por dá-cá-aquela-palha
um cigarro natural como quem faz naturismo
um estar ocidental com muito de africanismo
era o Pedro e
afinal
se quisermos guardar dele o melhor que alguém queira
basta lembrá-lo entre nós como Pedro
o Laranjeira!

- Jorge Castro, em memória e homenagem a alguém com quem trocou palavras aos molhos sob a forma de poema, em sítios de desvarios e sempre que houvesse gente de ouvir e de valer a pena.

«Gay é o novo preto» - Ruim

Está na moda ter um amigo gay como era moda nos anos 90 ter um amigo preto: fica bem, dá para mostrar aos amigos que somos sensíveis, modernos e dá sempre jeito ter um à mão. Se antes ter um amigo preto dava uma espécie de sensação de conforto a atravessar bairros problemáticos e aquela paz de espírito cínica de "estão a ver sociedade? Eu não sou racista!", ter um amigo gay é como ter um Cartão Viva para tudo o que está na berra e não sabíamos. Andar com ele na rua é o mesmo que andar com um Golden Retriever de competição porque todos o acham o máximo, fazem festinhas e dizem:
"- Ai mas que bem tratadinho e lavadinho que ele está. Onde é que o arranjou para eu ir buscar um igual?"
Porém, o que me leva a escrever é a descontextualização do termo gay enquanto adjectivo. "Epa isso é bué gay" deixou de ter a carga pejorativa de antes e serve hoje em dia como um classificador ou como uma forma de rotular uma maneira de estar, agir e fazer. E não acho justo para com a nossa comunidade gay ser roubada da sua denominação ainda mais para ser confundida com outro rótulo de agir, pensar e fazer que é o paneleirismo. Mas qual é a diferença? - perguntas tu que estás hà tanto tempo no armário que pareces albino. Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. E tudo isto está fora do âmbito de preferências sexuais porque quem come o quê e aonde só a cada um concerne. Uma pessoa pode andar a espatifar cricas como se não houvesse amanhã e ser a coisa mais gay que há memória a seguir aos leques de folhas de lótus, assim como se pode ser o tipo mais duro e rude e andar a engolir espadas de carne no Cirque du Sou Gay. O termo paneleiro e o termo gay enquanto adjectivos, apesar de partilharem a mesma génese ignorante usada para atingir outrém, seguiram caminhos diferentes. Duas expressões divas com rumos distintos sendo que uma actua na Broadway e a outra num casebre ali para as Olaias. Para nós, pessoas relativamente normais, é fácil distinguir quando aplicar o termo. Mas porque vivemos num país em que o simples uso de uma máquina de bilhetes da Transtejo causa aneurismas, arranjei uma parelha de testes que o retardado comum pode usar para saber a diferença entre ser gay e ser paneleiro sejam eles heterossexuais ou homossexuais.
TESTE 1
Num jantar em vossa casa entram os dois. Indiquem onde está a mesa já posta e observem.
PANELEIRO - "Olha eu tenho de me sentar numa cadeira onde não apanhe correntes de ar, “percebestes”? Porque ainda ontem fiquei apanhado aqui na minha lombar por não ter fechado bem uma janela lá em casa e estou a tomar Voltaren. E podes trazer uma almofada? Por uma questão de postura que li num artigo da Activa"
GAY - "Mas quem é que pôs a mesa? Filho… MASONDEÉQUEJÁSEVIU este padrão de toalha de mesa HO-RRO-RO-SO com aqueles pratos que mais parecem manjedouras? Vá tira isso e mostra-me o que tens mais porque que ver estas coisas até me dói a alma. E vamos fazer cisnes com os guardanapos que ainda há tempo antes de comer. E courgette cortada em rodelas simples? Mas o meu cu é algum mealheiro?”
TESTE 2
Vão ás compras com os dois, entrem numa loja de gravatas e peçam ajuda para escolher uma:
PANELEIRO – “Gravatas? Ai não credo, a minha mãe diz que pareço um boneco com elas mas eu evito usar porque me causa aqui um ardor no pescoço e depois tenho de pôr um creme senão fico todo irritado na pele. Mas olha porque não vais de laço? Ficas tão bem parecido”
GAY – (antes de vocês olharem já ele tem 8 gravatas no braço e já está a ensinar a tipa da loja como podia organizar melhor as vitrines)
“Diz-me lá vais ao quê, mulher? Entrevista de emprego, casamento ou funeral? É que tenho de saber isso para ver se dou o nó half-windsor, full-windsor, nicky, kelvin ou Saint Andrew. E vais usar aquele fato da H&M que tens? Duas palavras: NO-JEN-TO. Nada disso. Vou ligar ao Steffan ali da Venâncio’s na rua do Alecrim para tratar de ti, ok?”
TESTE 3
Levem os dois à FNAC e deixem as criaturas esvoaçar. Dez minutos depois vão ver deles:
PANELEIRO – está de phones nos ouvidos a ouvir Coldplay e a cantar mal as letras baixinho com ar de que deve dinheiro a alguém.
GAY – está a ouvir o ultimo da Beyoncé, a cantar as letras na perfeição e ainda faz uns passos de dança cagando de alto para quem está a olhar.
Basicamente é uma questão de atitude perante a vida e por isso quando alguém me diz que estou a ser gay no que estou a fazer eu respondo com “obrigado, pus bastante atenção nisto e ainda bem que reparaste”. Por outro lado se me chamam paneleiro pergunto se me estão a confundir com algum amigo gay deles. Confusos?
Estar confuso é coisa de paneleiro.
Comentários imaturos sobre a minha orientação sexual em 3,2,1…

Ruim
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Não havia necessidade



HenriCartoon

«Kung-Fude» - Shut up, Cláudia!



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08 outubro 2015

Rihanna - «Cockiness»


Rihanna - Cockiness remix ( Prod. by Dj Ahin ) from Dj ZiiLkOo on Vimeo.

Postalinho das Vozes da Rádio

"Há particularidades assinaláveis na voz do António Miguel..."
Jorge Prendas
(Grupo Vozes da Rádio, em estúdio para um novo disco)

«Copacabana» - de Lobo e Odyr

«Uma vida de dia, outra de noite. Copacabana já foi mais chique e segura do que é hoje em dia. Lobo e Odyr, os autores, percorrem o quotidiano de uma prostituta de nome
Diana, envolvida em esquemas que giram em torno de sexo sujo, do dinheiro, da droga, do crime - com uma análise antropológica crua da situação das profissionais do sexo à mistura - tudo nas melhores companhias, claro. A beleza fugaz e a luxúria debatem-se contra a miséria e a corrupção. Diana percorre estes trilhos, onde foi parar num golpe que deu para o torto. Salvar-se-á?»

Um livro de banda desenhada brasileira editado em Portugal pela Polvo - Rui Brito Edições.
Junta-se ao núcleo de banda desenhada da minha colecção.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)






«Cuidado» - Adão Iturrusgarai



O João Barreto aproveita para oder:

"E hoje em dia se quiser
um broche sem acidentes
obrigam-me a procurar
uma velha já sem dentes"
Ah fadista! Boca linda!

07 outubro 2015

Deusas das uvas

Video criado pela fotógrafa alemã Iris Brosch, durante as sessões de fotos com modelos nuas, fotografadas nas vinhas da região de Friuli (Itália), para o calendário da empresa SIMPLES, maior distribuidora de vinhos da Rússia.


friuli-goddesses of the grapes! from Iris Brosch on Vimeo.

«um adeus para sempre» - bagaço amarelo

É verdade que o Amor é uma disciplina como outra qualquer em que se aprende com a vida. É a vida que nos diz que o Amor não chega ou, como eu prefiro dizer, que o Amor não é só gostar e estar apaixonado. É muito mais do que isso, pelo menos quando pretendemos entrar no frágil equilíbrio das cedências e exigências.
Que espaço devemos dar a quem Amamos e que espaço devemos exigir para nós e para ambos? Não sei. Sei que, numa relação, só muito raramente duas pessoas estão de acordo nesta matéria, matéria essa que se vai aprendendo quase sempre tarde demais.
Lembro-me duma mulher a quem todos os dias eu não dizia nada. Sei muito bem que há muitas mulheres a quem nunca digo nada, mas esta era por opção. Sentávamo-nos todas as manhãs num café do Porto, frente a frente, a tomar o pequeno-almoço. Trocávamos olhares, sorrisos, às vezes até cheiros e compreensão. Nunca trocávamos palavras, nem sequer a que tem o nosso nome ou deseja um bom dia ao outro.
Obviamente apaixonei-me por ela, porque o mistério é sempre apaixonante. Obviamente passei a conhecer-lhe pequenos gestos e vícios. A forma como lia o jornal de trás para a frente, para no fim o dobrar em dois sempre com a capa para dentro, como se quisesse esconder as vergonhas do mundo que tinha acabado de ler. Bebia sempre um galão num daqueles copos que vêm dentro duma armação metálica e comia meia torrada com pouca manteiga. Às vezes, e esse gesto surpreendia-me sempre, penteava-se no reflexo dum espelho ferrugento. Surpreendia-me, porque parecia-me sempre renovada quando o fazia, como se tivesse acabado de beber um pouco de água da Fonte da Juventude.
Por falar em Fonte da Juventude, teria provavelmente mais uns vinte anos do que eu, ou seja, mais ou menos a idade a idade que eu tenho agora. Vivi naquela relação matinal e silenciosa durante alguns meses e passei a pensar nela como parte da minha vida. Se num ou noutro momento ela se atrasava e não aparecia, eu tornava-me ansioso e triste. Sofria.
Nunca soube o nome dela, nem ela o meu, mas senti-lhe os lábios no dia em que ela se levantou e me disse que era a última vez que nos víamos. Beijou-me. Ia atravessar o Atlântico de regresso a casa. Só aí é que eu soube que era brasileira, apesar do seu português europeu. Despediu-se no seu jeito tímido de todos os empregados e, já na porta, tornou a dizer-me adeus.
Um adeus para sempre.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Pirocas peruanas

Pici..., perdão, pecinhas de artesanato peruano no mercado de San Pedro, Cusco.
Réplica de jarro Mochica.

Em 1948, na obra "Lost City of the Incas", onde relata a sua descoberta de Machu Picchu, Hiram Bingham notou que havia peças de cerâmica, produzidas por civilizações anteriores aos Incas, que desafiavam escandalosamente a moral e os bons costumes de então. 

Disse: "As peças mais surpreendentes de cerâmica (...) provêm da costa Norte do Peru onde, antes do império incaico, os ceramistas nativos se excederam na produção de realistas grupos humanos e ainda de vivos retratos. Alguma cerâmica ribeirinha permanece ainda inigualada na sua condição de reflexo de acções e emoções humanas. Encontra-se o corpo desnudado, exibindo-se em distintas atitudes, algumas degeneradas de tal forma que são excluídas de exposições públicas.".

A descrição refere-se à arte cerâmica da civilização Mochica (ou Moche, que até está mais de acordo com a temática de algumas peças de cerâmica), que dominou o deserto costeiro Norte do Peru entre os anos 100 a.C. e 700 d.C. e com algumas obras capazes de provocar a inveja de qualquer indivíduo que, na sua macheza, não esteja dotado de um pénis digno de um bovino.

Era uma vez o machismo


06 outubro 2015

Miss Joana Well - «Pedro Laranjeira, o que é, afinal, a saudade?»









Porque eu não quero saber
Porque haveria eu de querer saber
o que é, afinal, a saudade?
O que me trará, agora, a verdade
de um poema sem música, sozinho,
largado à dor, vivo sem nascer
O que me trará, agora, a verdade
desse patamar sem escadas, vizinho
de ninguém, nem subir nem descer.
Porque haveria eu de querer saber
o que é, afinal, a saudade?

Talvez se eu falar assim muito baixinho,
e doer assim tanto mas nem sequer gemer
Talvez se ensurdecer mais um bocadinho
e respirar apenas, nem venham dizer.
Porque eu não quero saber
Porque haveria eu de querer saber
o que é, afinal, a saudade?
É que eu sei, eu sei, eu sei, na verdade
que agora, já não te sei o caminho
Olho-te mas já não te sei como ver
Porque haveria eu de querer saber
que, agora, és tu, afinal, a saudade?

Miss Joana Well