09 outubro 2015

«Gay é o novo preto» - Ruim

Está na moda ter um amigo gay como era moda nos anos 90 ter um amigo preto: fica bem, dá para mostrar aos amigos que somos sensíveis, modernos e dá sempre jeito ter um à mão. Se antes ter um amigo preto dava uma espécie de sensação de conforto a atravessar bairros problemáticos e aquela paz de espírito cínica de "estão a ver sociedade? Eu não sou racista!", ter um amigo gay é como ter um Cartão Viva para tudo o que está na berra e não sabíamos. Andar com ele na rua é o mesmo que andar com um Golden Retriever de competição porque todos o acham o máximo, fazem festinhas e dizem:
"- Ai mas que bem tratadinho e lavadinho que ele está. Onde é que o arranjou para eu ir buscar um igual?"
Porém, o que me leva a escrever é a descontextualização do termo gay enquanto adjectivo. "Epa isso é bué gay" deixou de ter a carga pejorativa de antes e serve hoje em dia como um classificador ou como uma forma de rotular uma maneira de estar, agir e fazer. E não acho justo para com a nossa comunidade gay ser roubada da sua denominação ainda mais para ser confundida com outro rótulo de agir, pensar e fazer que é o paneleirismo. Mas qual é a diferença? - perguntas tu que estás hà tanto tempo no armário que pareces albino. Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. E tudo isto está fora do âmbito de preferências sexuais porque quem come o quê e aonde só a cada um concerne. Uma pessoa pode andar a espatifar cricas como se não houvesse amanhã e ser a coisa mais gay que há memória a seguir aos leques de folhas de lótus, assim como se pode ser o tipo mais duro e rude e andar a engolir espadas de carne no Cirque du Sou Gay. O termo paneleiro e o termo gay enquanto adjectivos, apesar de partilharem a mesma génese ignorante usada para atingir outrém, seguiram caminhos diferentes. Duas expressões divas com rumos distintos sendo que uma actua na Broadway e a outra num casebre ali para as Olaias. Para nós, pessoas relativamente normais, é fácil distinguir quando aplicar o termo. Mas porque vivemos num país em que o simples uso de uma máquina de bilhetes da Transtejo causa aneurismas, arranjei uma parelha de testes que o retardado comum pode usar para saber a diferença entre ser gay e ser paneleiro sejam eles heterossexuais ou homossexuais.
TESTE 1
Num jantar em vossa casa entram os dois. Indiquem onde está a mesa já posta e observem.
PANELEIRO - "Olha eu tenho de me sentar numa cadeira onde não apanhe correntes de ar, “percebestes”? Porque ainda ontem fiquei apanhado aqui na minha lombar por não ter fechado bem uma janela lá em casa e estou a tomar Voltaren. E podes trazer uma almofada? Por uma questão de postura que li num artigo da Activa"
GAY - "Mas quem é que pôs a mesa? Filho… MASONDEÉQUEJÁSEVIU este padrão de toalha de mesa HO-RRO-RO-SO com aqueles pratos que mais parecem manjedouras? Vá tira isso e mostra-me o que tens mais porque que ver estas coisas até me dói a alma. E vamos fazer cisnes com os guardanapos que ainda há tempo antes de comer. E courgette cortada em rodelas simples? Mas o meu cu é algum mealheiro?”
TESTE 2
Vão ás compras com os dois, entrem numa loja de gravatas e peçam ajuda para escolher uma:
PANELEIRO – “Gravatas? Ai não credo, a minha mãe diz que pareço um boneco com elas mas eu evito usar porque me causa aqui um ardor no pescoço e depois tenho de pôr um creme senão fico todo irritado na pele. Mas olha porque não vais de laço? Ficas tão bem parecido”
GAY – (antes de vocês olharem já ele tem 8 gravatas no braço e já está a ensinar a tipa da loja como podia organizar melhor as vitrines)
“Diz-me lá vais ao quê, mulher? Entrevista de emprego, casamento ou funeral? É que tenho de saber isso para ver se dou o nó half-windsor, full-windsor, nicky, kelvin ou Saint Andrew. E vais usar aquele fato da H&M que tens? Duas palavras: NO-JEN-TO. Nada disso. Vou ligar ao Steffan ali da Venâncio’s na rua do Alecrim para tratar de ti, ok?”
TESTE 3
Levem os dois à FNAC e deixem as criaturas esvoaçar. Dez minutos depois vão ver deles:
PANELEIRO – está de phones nos ouvidos a ouvir Coldplay e a cantar mal as letras baixinho com ar de que deve dinheiro a alguém.
GAY – está a ouvir o ultimo da Beyoncé, a cantar as letras na perfeição e ainda faz uns passos de dança cagando de alto para quem está a olhar.
Basicamente é uma questão de atitude perante a vida e por isso quando alguém me diz que estou a ser gay no que estou a fazer eu respondo com “obrigado, pus bastante atenção nisto e ainda bem que reparaste”. Por outro lado se me chamam paneleiro pergunto se me estão a confundir com algum amigo gay deles. Confusos?
Estar confuso é coisa de paneleiro.
Comentários imaturos sobre a minha orientação sexual em 3,2,1…

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