01 agosto 2008

Para a lêndea dos cantadores ao desafio

Maria "Barbuda" e Marques "Sardinha", figuras cujas cantigas ao desafio se tornaram lendárias no início do séc. XX em Estarreja.





Maria Marques de Sousa, nascida em Beduído no ano de 1869, justifica assim a sua alcunha:









As Barbas que tenho,

tamanhas como as de um homem

são rijas e não encolhem

não são como certas coisas nos homens!









Já José Maria Marques, conhecido por "Sardinha" por ser natural desse lugar de Avanca, define-se assim:



Se um dia fores a Avanca

prègunta pelo Zé Marques,

que qualquer pessoa te diz:

- É home das quatro artes!



Primeira: sou lavrador;

segunda: sou musiqueiro;

a terceira, cantador;

e a quarta, sou ... putanheiro!



Embate entre Marques Sardinha e Maria Barbuda que decorreu na festa do S. Paio da Torreira (Murtosa) e que deu início à lenda sobre os dois cantadores.



«De calça branca, de camisa branca e trazendo à cinta um chifre de boi cheio de vinho, Marques Sardinha entrou, despreocupadamente, no grande arraial. Entretanto, corria a sete pés (…) que uma cantadeira estava a “embrulhar” todo o mundo, dando cabo do canastro ao cantador mais fadista. Prevenido mas resoluto, o jovem encaminhou-se para o local onde a mestra dava lições. E esta, de facto, ao deparar com um romeiro em tais “pruparos”, disparou de chofre:



Ó moço da calça branca,

Donde vens, pra onde vai?

O que traz aí à cinta

É uma coisinha sua

Ou herdança de seu pai?



Apanhando, sem pestanejar o pião à unha, Marques Sardinha, pronta e desconcertantemente, retorquiu:



Isto não é coisa minha

Nem herdança de meu pai

É o corno do seu home

Que de maduro lhe cai!



Entre surpresa e aziumada, ela “desconversou”



Cala-te aí, piolhento,

Carregado de piolhos;

Se não fizeres limpeza,

até te vão para os olhos!



Réplica imediata, “mortal”, de Sardinha



Chamaste-me piolhento

Piolhos são bezerrias;

Tu é que mos apegaste

Quando comigo dormias!...»

in SARABANDO, João (1999) Marques Sardinha / Maria Barbuda ao desafio

Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja – 2.ª Edição – pág. 53-54.


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O Falcão não podia deixar passar esta oportunidade com malta do Norte, carago:

"Ena cum milhão de caralhos, foda-se cum filha de puta, caraistarefodam

Ena que essa Maria Barbuda deveria ter pintelho no pito cumo um homem do Norte gosta, caralho!

E intão o arraial de despique na puta da língua, caralhos me fodam se eu num respondia:

  

Oh cachopa que és Maria

E fazes do corno alheio troça

sem lhe por de jeito os olhos

Cuidais vós que me fazeis mossa?

Pois eu aqui sendo Sardinha

entre barbas e pintelho

com este nome de que valho

passo de peixe miudinho

num instante a Dom Caralho.

Já num falas mais de piolho

Cum o bicho entalado

E aposto eu cada corno

que dizias do meu pai,

afinal são mesmo do home

que num sabe a mulher que tem

***

Mas isto seria eu se fosse o Sardinha

E sendo só o MANUEL FALCÃO

cum caralho, que só teria

de levá-la ao barrracão

e entre pipas de verdasco

Ah caralho, cumo um varrasco

do sofá, fazer fundão.

*

Manuel Falcão, rei das bouças e amante do pito pintelhudo"

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