25 setembro 2013

«Preciso de ti» - João

"A caneta de aparo, na mão despida, quer escrever. Olho o papel vazio, com linhas sedentas de qualquer coisa, recordo a tua letra, a tinta que deixaste sobre outros papeis, e deixo a tinta fluir. E preciso de ti. Toda a tinta que deixo para trás naquela folha diz que preciso de ti. Que não há indiferença que me vença, que embora tudo no mundo se transforme, há coisas que não são de esquecer, não são de passar, de deixar cair e serenar como se fossem para nunca viver, sentir, ou querer. Preciso de ti, é quanto sei, não soubesse eu mais nada. Mas sei. Hoje sei muito, muito mais que outrora. Sei porque estou hoje, aqui. Sei porque o amanhã será amanhã, e como ele poderá ser. Sei do tempo, do espaço, das tintas que correm nos papeis, do sangue que corre em nós. Do calor. Do toque. Da magia da serra, do quão bom e refrescante é quando no mesmo espaço estás tu e estou eu. Não soubesse eu mais nada e ainda assim diria que preciso de ti. E que doi acordar. Doi levantar. Doi caminhar por aí, sem te ver, sem te ter, sem nada. Doi andar por aí temendo desvanecer, desaparecer, cair na indiferença que pica, que mata, que reduz a grandeza de tudo o que se teve. Lembras-te de mim? De como era? Não deviamos estar mais perto?

Não é desabafo. Preciso de ti. É plano, é provir, é passo que se dá após outro, e outro e mais uns quantos, e devagar vou lá, e depois de cair, levantar-me-ei de novo, e estou a chegar. Estou a chegar. Preciso de ti. Não digo mal, não digo mal de nada, tudo acontece por uma razão que mal se percebe até que ela nos bate na cara com força. Não leias desabafos nem palavras vãs. Isto é aviso. É acção. É desejar. Vou lá chegar sim. Quem me espera? E até lá, silêncio. Profundo."

João
Geografia das Curvas