17 maio 2015

Depósito legal


Tenho pena que os gajos não sejam como os livros. Não como aqueles calhamaços que morrem virgens nas estantes ou o bué volumoso dicionário da Academia mas como aqueles que quanto mais folheamos, mais queremos manusear e nem conseguimos dormir antes de acabar de o ler todinho.

Um capítulo no elevador é sempre empolgante. A coragem adolescente de baixar as calças com uma mão e apalpar as mamas com a outra. O arrepio na espinha de ser descoberta com as cuecas caídas aos pés, a saia toda entalada na cintura e uma mão a fazer crescer o feijoeiro mágico. As sacudidelas compassadas naquelas quatro paredes com os testículos compenetrados naquela corrida de velocidade que as mãos dele não aguentam muito mais tempo as nádegas pululantes, os calcanhares na coluna e a língua dela a pardalitar de saliva o pescoço e os lóbulos das orelhas e ainda um qualquer dedo pronto a pressionar o botão para subir ou descer ao menor ruído humano naquele andar. Os gemidos engolidos com intensidade como se fossem sexo oral simultâneo, até à indolência final.

E é por estas páginas e por outras que quando uma trama fica previsível até ao bocejo, peço encarecidamente "Não faças de mim o teu depósito legal".