16 maio 2015

«Joana e Segismundo» - por Rui Felício

Os olhares masculinos não se despegam dela por onde quer que passe. Os femininos, esses, denunciam a inveja que ela lhes provoca. Realmente, a Joana, modelo fotográfico presente em quase todas as revistas, é uma mulher de espantosa beleza, dona de um escultural corpo e de uns olhos que fustigam o cérebro do mais pacato cidadão.
Quem o feio ama, bonito lhe parece.
Este é o ditado que anda nas bocas coscuvilheiras de quem a conhece, por não encontrarem outra explicação, senão o adágio, para ela andar a querer namorar com o Segismundo, que vive num bairro da lata perto do prédio de luxo onde ela reside.
O Segismundo é feio, horroroso mesmo! É um pobre diabo sem eira nem beira, não consegue articular duas palavras seguidas que façam sentido, usa palito ao canto da boca, tem um andar gingão e assusta as criancinhas com o seu olhar tresloucado.
A coscuvilhice de uma vizinha mais afoita, levou-a a questioná-la sobre o assunto. A Joana sorriu e disse-lhe que era por causa da raridade do nome invulgar do rapaz.
O que a Joana não lhe disse é que o seu ex-marido também se chamava Segismundo e que ela tinha uma bela tatuagem na nádega esquerda com o nome dele.
Tatuagem que não queria desaproveitar...

Rui Felício
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