"Dou por mim a olhar para ti, e tu não sabes o que estou a pensar, porque sorrio contigo e tu divertes-te comigo, eu alinho nas tuas conversas e é quando dou por mim a pensar que não sei bem quando é que decidi que queria abrir as minhas pernas para te receber dentro do meu corpo. E depois, depois de alguns instantes, pergunto-me se não o sei, ou se não quero saber, porque isso pode não ser importante, ou porque pode querer dizer que muito mais do que uma sedução, fui vítima de mim mesma, apaixonei-me por aquilo que vi, pelo que tu és, e não tanto pela vontade crescente de da roupa fazer estilhaços.
Talvez já estivesse rendida a ti quando fui ao teu encontro debaixo de um Sol abrasador, e olha que eu bem te avisei, eu bem te disse que tivesses atenção, que tomasses nota, que eu não fazia aquilo por um qualquer. Talvez já estivesse rendida quanto te vi de calções e gostei de imaginar as tuas pernas presas nas minhas. Talvez já estivesse rendida muito antes de perceber que o estava. Quando te procurava como companhia numa tarde de Verão, perguntando se estavas por perto, porque eu estava, e a ressentir-me porque a tua resposta não chegava, e eu a querer que chegasse, e eu a querer que viesses.
Nos dias em que repeti o teu nome vezes sem conta enquanto sentia o que temia já não existir, nos dias em que te disse o quão louca estava por ti, do quanto era tua, nesses dias em que sabia que estava rendida, estava só atrasada a reconhecer o que já tinha muito, muito tempo. Rendi-me cedo, rendeste-te cedo também, a resistência a que nos votámos é que foi admirável, e enquanto penso em ti, enquanto sorrio com as coisas que eu sei que tu dizes, enquanto imagino o que estás a fazer, penso no admirável que é tanta rendição nunca ter tido bandeira branca agitada ao vento, e porque, provavelmente, nunca a terá, rendida que permaneço, mas ainda de armas apontadas a ti e camuflada como nenhum camaleão alguma vez conseguiria."
João
Geografia das Curvas