Excerto de um artigo de opinião de Paula Cosme Pinto no Expresso de 11/2/2016:
"A tão apregoada ”lei dos piropos” (chamemos-lhe assim, embora o que esteja em causa sejam situações de assédio) deu que falar há uns tempos e ainda hoje me deparo muitas vezes com conversas de pessoas que não percebem porque razão as mulheres se hão de sentir incomodadas com meia dúzia de frases brejeiras ao andarem na rua. Enquanto mulher que simplesmente não quer ter de ouvir comentários de cariz sexual por parte de estranhos, as explicações parecem-me óbvias mas, pelos vistos, continuam a não fazer sentido à maioria dos que nunca tiveram de ouvir um “fodia-te toda” a meio do dia, vindo da boca de alguém que não tem intimidade para tal comentário. E ao longo destes últimos meses, dei por mim a ter de responder a esta questão vezes sem fim: “Mas isso é assim tão comum?”.
Sim, é. Mais do que qualquer mulher desejaria. Um bom exemplo disso é uma foto que se tornou viral no Facebook nas últimas semanas (190 mil likes e quase 100 mil partilhas), feito por uma nova-iorquina que passou de ilustre desconhecida a símbolo da luta contra o assédio em forma de piropo. Na imagem, Christen Brandt surge de parca volumosa, cachecol, collants opacas, botas altas, uma mala a tiracolo e um copo de café na mão. Até aqui nada de estranho, mas a legenda deixa claro o seu motivo de exasperação.
“Isto era o que eu levava vestido hoje de manhã ao sair da estação de metro da 34th Street quando um homem passou por mim e me disse: ‘Porra, que belas pernas’. Quando o ignorei e continuei a andar, ele começou a seguir-me, a tentar aproximar-se, mesmo vendo que me estava a tentar ir embora. E disse-me: ‘Ouviste o que eu disse, querida? Disse-te que tens umas belas pernas. Porra, obrigada!’”. Este é o início do texto de Christen, onde explica porque se sentiu tão incomodada com esta abordagem: “Foi o obrigada que me chamou à atenção. Como se a meia dúzia de centímetros de pele coberta por collants estivessem ali para ele. Dadas como um presente embrulhado em meias castanhas. Cuja existência serve para ele apreciar ou não (...)."
Entretanto, o Rui Martins deu também a sua opinião, na minha página no facebook:
"Ontem ia eu descansado para o trabalho quando passou uma mulher de saia. Tinha umas botas rasas calçadas e vestia meias (de vidro, como todas as mulheres usam quando vestem saia e está mais frio). Reparei que tinha umas pernas bonitas, não era muito alta e como tal não tinha pernas muito compridas mas eram bem-feitas. Tinham a proporção certa e davam-lhe um andar muito elegante. Não parei de andar mas voltei a olhar uma segunda vez. Eram mesmo umas belas pernas! - pensei eu para comigo e estou a comentar agora com vocês mas, como sou uma pessoa educada, não disse nada, nem acho que tivesse que dizer, estou-vos a dizer a vocês porque se calhar também acho que tenho palavreado suficiente para escrever uma coluna no expresso (deixei de seguir o expresso no facebook porque o jornalismo que já foi bom, tem vindo a baixar de nível e não me alongo mais sobre isto).. Da mesma maneira como hoje me sentei no eléctrico e reparei numa miúda que entrou, porque tinha um rabo fantástico, grande, redondo, bem-feito e as calças tinham tudo sob controle. Não era uma miúda muito alta como muitas alemãs, nem tinha o cabelo loiro. Era baixinha sem ser petite, tinha o cabelo castanho e até era bonitinha de cara. Quando, duas estações depois, saiu e eu continuei sentado, fiquei a deliciar-me com o andar dela. Era na verdade um belo rabo..."