Quem tem dificuldades em apaixonar-se a sério deve apaixonar-se a brincar todos os dias desta vida. E eu apaixono-me. Tenho Amores platónicos de quatro minutos, enquanto tomo o café, espero o sinal verde para peões numa passadeira qualquer ou compro tomates na loja da avenida.
Os Amores nunca devem ser de duração média. Que durem quase uma vida ou que durem um momento. É nesses que há certeza sobre aquilo que são. Os outros são os Amores mais ou menos, os pântanos desta vida em que nos metemos e não sabemos sair.
Hoje apaixonei-me a sério por uma mulher. Eram seis e trinta e dois da tarde quando a vi brincar com os dedos, como se tocasse piano num instrumento invisível, cujos sons lhe saíam desafinados pela boca. Plim, plim plim! Morena, despenteada e sorridente, trocámos os olhares de quem entende a loucura mútua. Depois tornámos a sorrir.
Durante quatro minutos vivemos um Amor impossível e eu esqueci-me da vida, esta que adio um bocadinho todos os dias até não ter mais dias para adiar. Depois ela foi-se embora da pastelaria e disse-me adeus. O nosso Amor de quatro minutos terminou ali.
Obrigado. Será uma das mulheres desta vida que adio.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»