09 abril 2016

«Telemensagens» - por Rui Felício

Eram mensagens, telefonemas uns atrás dos outros e o resultado invariavelmente o mesmo. O seu marido, o João, quase nunca respondia às SMS’s que ela lhe mandava. Nem tão pouco atendia ou lhe devolvia os telefonemas.
Embora já habituada a isso, ontem a Sandra estava desesperada. É que, o telemóvel dela avariou-se e não conseguia enviar-lhe a mensagem que acabara de digitar:
«Mulher aperta cinto de ligas»
Pereyenko (Ucrânia), pastel sobre cartolina, 2001
Colecção de arte erótica «a funda São»
“Meu querido, soube hoje que ganhei o concurso da mulher mais sensual da Ericeira! Logo às 17,30 horas vão-me entregar o prémio na Discoteca «O Ouriço». Vou levar um vestido muito decotado, meio transparente, que acabei de comprar. Nem imaginas como ficaria feliz se estivesses presente, para poder sentir os teus carinhos, receber os teus beijos, o teu abraço. Para mostrar àquela gente que és o amor da minha vida. Vem, meu amor, promete! Depois continuaremos, os dois sozinhos, pela noite dentro, a comemoração deste dia tão feliz para mim. Queres?”
Tentou mais uma vez, mas a SMS não seguia... Raio de telemóvel!
Foi a correr a casa da vizinha Ivone e pediu-lhe se podia usar o telemóvel dela.
A Ivone passou-lho para a mão, dizendo-lhe que sim, que podia servir-se dele à vontade.
Reescreveu a mensagem mas nem se lembrou de a subscrever com o seu nome.
Ao contrário do habitual, a resposta do marido da Sandra veio segundos depois:
“Parabéns querida! Surpreendes-me, Ivone. Não imaginava esses teus sentimentos. Que coincidem com os meus, sabes? Claro que estarei logo ao fim do dia na Discoteca «O Ouriço». 
Beijo-te.
Teu João".

Rui Felício
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