Uma vez parei na grande escadaria do liceu, entre o formigueiro de alunos que corria para as aulas, porque ela vinha lá, entre todas as formigas. Contornou-me e continuou, até desaparecer na curva de um imenso corredor. Nem sequer olhou para mim e eu, perdido no ruído daquela imensa selva, voltei para trás como um predador falhado.
- Não vai à aula? - Ouvi a voz da contínua atrás de mim.
- Não.
- Tem que ir...
- Dói-me o coração.
Nunca a imaginei senão brilhante. E eu, sempre apagado, à deriva por um estrondo Amor adolescente, percorria sozinho as ruas da cidade na vã esperança de me cruzar com ela. Talvez pudesse acontecer o milagre de a ver deixar cair a carteira e correr atrás dela para, como quem não quer a coisa, devolver-lha num sorriso. Estranho! Nunca aconteceu.
Ninguém sabia disto, para além de um amigo que nunca mais vi e das árvores das ruas que me viam a deambular entre elas para a encontrar a ela. Acho que às vezes me tentavam avisar que não valia a pena, mas eu nunca lhes liguei nenhuma.
Talvez eu seja um dos poucos sortudos deste mundo que encontrou em adulto o grande Amor da adolescência. Serei mesmo, mas a maior sorte foi não o ter encontrado antes. Só isso me permitiu Amá-la com esta história de mar.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»