21 maio 2016

«Desejo ou vício?» - por Rui Felício

Pelo caminho, não conseguia pensar em mais nada, senão nele. Bem tentava concentrar-se naquilo que, perante os seus olhos, ia desfilando do lado de fora da janela do autocarro. Os carros, as pessoas apressadas a caminhar nos passeios, uma amálgama anónima de fim de tarde que, como ela, regressava a casa depois de um dia de trabalho.
Ansiava pela chegada. Sabia que ele estaria à sua espera. O intenso desejo que naquele dia a invadia, tornava-a obsessiva, impaciente. Tinha pressa de o possuir! Antevia mentalmente o momento de o ter, quase que a alucinando. Passava a língua pelos lábios, a garganta secava, o corpo tremia, as mãos suavam.
«Les Tétons de la reine Margot»
Caixa metálica de chocolates com uma
ilustração na tampa e um poema na parte interior
Colecção de arte erótica «a funda São»
Na paragem perto da sua morada, saiu do autocarro, subiu a rua quase a correr, meteu a chave à porta do prédio, ofegante, mal cumprimentou a vizinha que subiu com ela no elevador e entrou em casa. Atirou com a mala para cima de uma cadeira e deixou-se cair no sofá. Ali estava ele, sedutor, provocante. Sem uma palavra, acariciou-o, despiu-o lentamente, passou a lingua e a boca pelo seu corpo moreno, encheu-o de pequenas mordidelas, saboreou o seu travo quente, a doçura do seu gosto...
Mais relaxada, desfrutando o louco prazer daqueles momentos, mas ainda não completamente saciada, levantou-se, pegou na mala e saiu para ir ao supermercado.
Pelo caminho, desabafava com os seus botões: Estes chocolates são tão bons mas tão pequenos! Tenho de comprar mais um ou dois…



Rui Felício
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