Podemos perguntar também onde está o nosso Amor quando não sabemos dele. É legítimo. Às vezes o Amor é apenas algo que se perdeu e tudo o que se perde pode encontrar-se de novo. Se não pode, pelo menos faz bem acreditar que sim. Acreditemos que é uma questão de procurar, então. Mesmo que não seja, claro.
Cheguei atrasado porque tinha demorado a encontrar as minhas chaves de casa. Ela não se chateou, pelo menos a julgar pelo sorriso largo que fez assim que abriu a porta. Abraçou-me e deu-me a mão, como se eu precisasse de um guia para os dez metros que distanciam a porta de entrada da casa dela da sala. Depois largou-me como se larga um balão de ar quente e eu não voei. Fiquei ali, preso ao doce suor da mão dela.
Tirou-me um café com um fundo de aguardente, pôs música a tocar no velho rádio que conheço do tempo em que ela me dava a mão todos os dias e esticou as almofadas que adornam o sofá. O gato dela resmungou um pouco e depois assumiu a propriedade de uma delas. Ri-me. Ela também.
Ali, numa sala que já foi minha, procurei o meu Amor como se procura um objecto qualquer. Até o procurei nos olhos claros dela e nos cabelos que voavam em electricidade estática. Procurei-o em cada canto da memória, mas não o encontrei nestes lugares óbvios. Já não está lá.
Talvez esteja mais perto de mim, numa espécie de bolso de casaco que hei-de vestir outra vez um dia destes.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»