- “Isso” o que?
- Sei lá, é acompanhante, faz sexo por dinheiro?
- Ah! Porque eu sempre gostei de sexo e faço por prazer. Porque nunca descontentei nenhum homem na cama e nem precisei fingir pra agradá-los. Porque a vida longe do sexo é injusta! Porque você se dedica a seu trabalho e é passada para trás e, ainda, não é valorizada como merece, porque a sociedade é machista, mas é no ato de pagar por sexo que o homem demonstra a sua humildade. E, porque a gente tem na vida o valor que a gente se dá e eu me valorizo muito. Não há nada de errado em fazer sexo por dinheiro, meu caro! Errado é manter casamento pra não dividir bens, é dizer para o marido que vai trabalhar em seu consultório à noite para transar com o segurança da agência bancária, errado é dizer que ama pra ganhar presentes caros, errado é ser infiel e desleal, errado é fazer faculdade pra ficar de olho no coleguinha filho de fazendeiro, terminar casando, “aposentando” os sonhos e o diploma pra obedecer a homem machista, transar sem sentir prazer, levar chifre e aguentar tudo calada, porque precisa da conta bancária do marido pra “viver bem”!
- Nossa! Mas, Simone, seu nome não é inspirado na feminista Simone de Beauvoir? Enfim, você não é feminista?
- Ora, sou sim! Mas, e daí? Amigo, você sabe com quantos idiotas eu namorei? Sim, namorei, porque até decidir mudar de vida eu transava com os caras e em seguida namorávamos. Ah, por favor! Eu me valorizo tanto que resolvi colocar preço no que faço de excelente para não correr o risco de me envolver afetivamente com homem babaca! Enfim, baby, não me menospreze, porque seus pecados são diferentes dos meus! Eu amo escrever, ler, estudar e também amo transar! Ah, eu sou é muito feliz! E, nessa profissão, tudo depende de mim! Não preciso puxar saco de colega escroto para ser mantida num cargo, não preciso tolerar instituição de ensino superior particular que trata aluno como objeto! Aqui sou só eu e o meu prazer! Aqui, ninguém me “passa a perna” no sentido ruim, só no bom! E eu tenho prazer na medida em que dou.
- Ah, e você não acha que está cobrando caro já que é nova no ramo?
- Claro que não! Eu sei o meu valor e sei, principalmente, que não tenho só bons orgasmos para oferecer! Eu tenho cultura, história, assunto e alegria, além de depravação pra vender, não pra oferecer, queridinho! Afinal, não esqueça: eu não faço nada gratuitamente! E sim, sou feminista e sou independente! Se você não entende “como isso pode”, o burro é você!
Simone Steffani
Brasília/DF, fevereiro de 2016