Ser adulto é aprender a viver com companhias nos momentos de alegria e a sós consigo mesmo nas dificuldades, porque, dificilmente haverá alguém que se importe, que lhe ouça sem, necessariamente, lhe dar sugestões vãs, criticar ou julgar. E, assim, você se torna perito em solidão, porque, na real, o ser humano ainda não sabe nada de empatia.
Logo, para se curar, você paga alguém para lhe ouvir, um psicólogo, por exemplo, ou você faz catarse por outros meios, afinal, enquanto você é só prazer, gargalhadas e alegrias, existirão muitos companheiros, mas quando você for pesar, frustração e desânimo a única pessoa capaz de lhe tirar do buraco é você mesmo: pé por pé, minuto por minuto, dia por dia. E em silêncio, porque você sabe que, no fundo (e, às vezes até no raso), ninguém quer lhe ouvir.
Certa vez assisti a uma reportagem em que acompanhantes muitíssimo bem sucedidas em seu trabalho em grandes capitais contavam os fetiches de seus clientes, a sua rotina, a sua história e tal. De tudo, o que mais me chamou a atenção foi que muitas delas frisaram o quão importante é o ouvir, o quanto os seus clientes gostam de serem ouvidos.
E assim é a vida: orgasmos, sacanagem, despudor, perversão e prazer são ótimos, mas são do corpo, não da alma. Ter um bom ouvinte, ter alguém que demonstre e que, de fato, se interesse pelas suas agruras, pelas suas histórias, dores e alegrias é do coração. E, confesso, é bastante assustador vivermos num mundo em que prostitutas e até garçons ouvem-nos melhor do que esposas, amigos, pais, filhos, colegas.
E o que significa “ouvir bem”? Ora! É ouvir com o coração, é ter uma curiosidade bondosa, saudável sobre o que se ouve e não aquela pseudo-ira que deseja dar soluções, opinar a qualquer custo para que o interlocutor se cale e para que o ouvinte possa voltar aos seus afazeres e a remoer os seus problemas, afinal, eles são muito mais “sérios” e “importantes” do que os do parceiro, amigo, pai, irmão, filho que lhes desabafa.
A realidade é incontestável: são raras as pessoas que tocam a alma do outro sem muito dizer. São raras as pessoas que estão ao nosso lado quando, por algum motivo, nós estamos passando por qualquer espécie de dificuldade. Uma de minhas queridíssimas tias sempre me falava que os gatinhos se escondiam quando pressentiam que iam morrer. Hoje eu sei que a gente precisa se afastar dos “amigos” para sofrer, porque a nossa dor lhes é inconveniente. Mais, hoje eu sei que a gente tem parceiros, dificilmente amigos.
Simone S.