Luzia Sánchez, estais em grande falta
comigo, que nom fodo mais nada senão
uma vez; e, pois fodo, se Deus me valer
fique disso afrontado bem por três dias.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Vejo-vos deitar comigo muito defraudada,
Luzia Sánchez, porque não fodo nada;
mas se eu com isso vos satisfizesse,
pois eu foder não posso, peidar-vos-ia.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deu-me o Demo esta pissuça cativa,
que já nem pode cuspir saíva
e, de certo, parece mais morta que viva,
e se lh’ardess’a casa, não s’ergueria.
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Deitaram-vos comigo para mal dos meus pecados
pensais de mi coisas tão desconcertadas,
cuidais dos colhões, que tragu’inchados,
porque o são com foder e é com doenças
Por Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu vos pudesse foder, foder-vos-ia.
Português antigo
Luzia Sánchez, jazedes em gram falha
comigo, que nom fodo mais nemigalha
d’ua vez; e, pois fodo, se Deus mi valha
fiqu’end’afrontado bem por tercer dia.
Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia.
Vejo-vos jazer migo muit’aguada,
Luzia Sánchez, porque nom fodo nada;
mais se eu vos per i houvesse pagada,
pois eu foder nomposso, peer-vos-ia.
Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia.
Deu-mi o Demo esta pissuça cativa,
que já nom pode sol cospir saíva
e, de pram, semelha mais morta ca viva,
e se lh’ardess’a casa, nom s’ergeria.
Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia.
Deitarom-vos comigo os meus pecados;
cuidades de mi preitos tam desguisados,
cuidades dos colhões, que tragu’inchados,
ca o som com foder e é com maloutia
Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia.
João Soares Coelho
Este poema faz parte do iBook “Coletânea da Poesia Portuguesa – I Vol. Poesia Medieval”
disponível no iTunes.
Transcrição do Português antigo para o moderno de Deana Barroqueiro.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa