10 fevereiro 2007

Mezinhas para refazer a virgindade perdida

Simulação da virgindade. – (…) existindo espalhado no vulgo a crença de que a primeira cópula deve acompanhar-se de hemorragias, as mulheres quando casam fazem muitas vezes coincidir a data dos esponsorios com as regras ou empregam mil astúcias com medo que a prova falte. (…)
O refazimento da virgindade perdida calou fundo no ânimo dos próprios deuses da mitologia greco-romana. (…)
A sua simulação tem dado que pensar e as lucubrações de varias alcoviteiras conseguiram por mais duma vez o resultado desejado.(…)
No século XVII entre varias, era infalível segundo informa o autor
[Albertus Minor], a seguinte mixórdia que vai na própria redacção.

«Tomarás meia onça de terebentina de Veneza, um pouco de leite que se espreme das folhas de espargos, a quarta parte de uma onça de cristal mineral, deitado de infusão em sumo de limão ou de maçãs verdes, e aclara de um ovo fresco batida com um pouco de farinha de aveia. De tudo isto farás uma pílula que tenha alguma consistência e introduzi-la-ás na natureza da rapariga desflorada, depois de a teres seringado com leite de cabra e untado com pomada alvíssima. Logo que tenhas praticado esta operação quatro ou cinco vezes observarás que a rapariga volta a um estado capaz de enganar a matrona mais que quiser revistá-la.»

Curioso reparador de virgindades perdidas!
[Gasparo] Colombina descreve também as raras virtudes de certas plantas, entre as quais a erva poejo. Esta erva, diz o autor

«dissolve, aperta, conforma e disseca e a sua cocção com artemisia disseca a humidade supérflua da madre e restringe a natureza das mulheres.»

AGUIAR. 1924:141-143

Pernas

por Charlie


Chegou-se um pouco à janela, reservando alguns centímetros de recato antes de expor o bico dos peitos ao frio das vidraças que a enchiam de luz e à eventualidade dum olhar vago às janelas dum primeiro andar, num intervalo breve das pressas da rua.
Afastou com a mão esquerda um pouco mais o cortinado e reparou como a chuva caía mansinha, muito suave e doce, apenas atrevendo-se a polir de brilhos difusos, como a luz do entardecer, o piso liso da calçada ali mesmo escorrendo à sua porta
Afastou-se lentamente e deixou o olhar percorrer as ruelas por entre os quadros de vários tamanhos expostos na sala. Gostava de inventar percursos entre eles, sem sequer olhar para o que significavam. Não que isso não fosse importante, antes pelo contrário. Mas funcionavam neste jogo entre o cérebro e o olhar como meras referências a partir das quais fazia mentalmente desenhos geométricos, onde as linhas cruzavam entre si, projectando-se em prolongamentos e sombras até formar falos, pernas, vulvas; poses explodindo num universo de riscos e traços apenas imaginados para se reagrupar novamente em linhas e divisórias de onde emergiam outros arranjos para se desfazer novamente no efémero dum movimento de olhos.
Respirou profundamente. Deu dois passos e abriu a gaveta de cima do móvel. Depois olhou novamente para os quadros detendo-se num deles.
Experimentou um sorriso. Era um retrato a óleo. De excelente qualidade como de resto tudo o que a rodeava.
Veio-lhe à mente o dia em que saíra com ele. O almoço. A tarde no quarto de Hotel. O passeio pela cidade e a visita à ourivesaria da sua eleição.
- Querido… gosto tanto desta gargantilha… Ouro e pedras preciosas… e o rendilhado finíssimo… E vês aqui? Amor!… são diamantes… Oh que lindo! Que lindo... Amor! Amor!... isto é uma jóia valiosíssima!
Uma breve pausa sobreveio em que os olhares se detiveram para depois ele desviar durante um instante, voltando a fitar os seus olhos suplicantes de mulher incendiados dum fascínio quase de criança.
- Pois! - Respondeu – É uma peça lindíssima. Mas sabes, querida? O futebol é assim mesmo. As minhas pernas já não me dão nada a ganhar, e…

Voltou ao presente detendo o olhar no conteúdo da gaveta, despertando dos pensamentos.
Regressou lentamente à janela enquanto falava baixinho só para si.
- As pernas já não te davam nada a ganhar…
Olhou para a sua imagem palidamente reflectida no espelhado que os vidros devolviam do seu decote.
- E agora nem as minhas, meu querido, nem as minhas. – disse, enquanto ajeitava vaidosamente a gargantilha mais valiosa que alguma vez havia imaginado possuir…

Ponteira de escape















Outras Coisas

09 fevereiro 2007

Bom fim de semana


Foto: Andreas Lehrke

A Isabelinha.

De seu nome Isabel.
Não era particularmente bonita. Mas não era feia. Nada disso.
Mas era nova e namoradeira.
Saltitava ao ritmo duns lanches e duns bilhetes de cinema.
Até que chegou a vez dele, de a levar a lanchar.
Conversa daqui e dali e lá se foi para casa dele, aproveitando a ausência dos locatários que, por acaso, até eram os pais dele.
Claro que tinha a coisa preparada. As sandes, as gasosas, as laranjinas C e, se bem ainda se lembra, gelados de groselha feitos nas cuvetes do congelador e ainda escondido algures que ele já não lembra onde... um pedacinho de madeira que lhe tinham juramentado ser "pau de Cabinda"!
Na altura, só havia a mira técnica na TV, às partes de tarde. E o gira-discos rafeirito com música mais que pirosa, era a safa.
Os sofás não eram o que são hoje, mas... havia sofás!
Uma sandosca agora, um beijito mais que inocente logo e a coisa lá se ia desenrolando.
No "centro cultural de todas as actividades" é que não se passava nada. Acho que só com muitos lanches e com muitos bilhetes de cinema!
Mas nem pão, para outro dia, quanto mais 25 tostões para outra sessão.
A coisa estava a ficar difícil.
Sei que ele me disse que era lá pelas alturas do verão.
E daí a fazer um refresco de groselha bem fresquinho, foi uma pressinha.
Claro! Se não ia a bem... foi a pau.
Pegou no tal pedacinho afiançado e desatou a raspar o mais que pôde da madeira para dentro do refresco. O diabo da groselha encobria o pó todo. Na altura as águas não eram filtradas e encobria tudo. Não havia problema. Se aquilo dava "calores" neles... que diabo, também deveria dar "calores" nelas!
Deu o tanas.
Deu nada.
Nadinha!
A Isabelinha lá emborcou o refresco com pó de madeira (às tantas era um pedaço de alguma ripa de soalho!...) e por ali se ficou.
Ele bem esperava efeitos devastadores. Um afogueamento qualquer ou coisa que o valesse.
Mas nada.
Népia.
Ficou sem os 25 tostões, sem as sandes e no fim, quando ela saiu... foi tocar uma daquelas punhetas que a adolescência tão bem conhece. E merece.
Deitou o sacana do resto do afrodisíaco fora.
P'ra madeira... já lhe bastava o pau com que tinha ficado.

Autor identificado mas que se reserva de o dizer.

CISTERNA da Gotinha



Fotografias da sexy Joanna Krupa e da Kim Smith.

Vídeo:
Basic Instinct.

A actriz
Michelle Trachtenberg tem um olhar hipnotizante.

Ilustrações eróticas: os nossos antepassados eram uns grandes malucos.

Referendo e paradoxo democrático - a opinião do OrCa

Picasso - Minotauro"Estou com o Zé quando diz que «esta não é uma questão de matéria, é de alma e coração». Por isso considero deplorável a ideia deste assunto ser referendado. Ninguém tem de circunscrever o livre arbítrio de ninguém... Mas, enfim, se estão assim as coisas feitas, vamos lá votar.
Por outro lado, o «nonsense» da matéria referendada é tal que se cai naquilo que poderia chamar-se um «paradoxo democrático». Porquê?
Ora porque o «não» impede o «sim», mas o «sim» não impede o «não». Isto é, se o «sim» ganhar isso não obriga qualquer adepta do «não» a abortar. Mas o inverso não sucede, pois se o «não» ganhar, a penalização incide sobre todas as mulheres... Sabendo nós bem como estas coisas vêm a funcionar quando o poder económico individual entra em cena, fácil é chegar à conclusão da hipocrisia por parte dos adeptos do «não».
Outra questão que me é pouco clara é o encarniçamento dessas gentes... Afinal, como já disse e é de conhecimento geral, a vitória do «sim» não irá obrigar nenhuma pia alma a abdicar das suas convicções. Então porquê tanta luta e tanta grita? Mero exercício de terapia ocupacional para os «benzaços» ou desnorte de extemporâneos espíritos reaccionários ou ele há gato escondido no assunto?
Quanto ao mais - e com o devido respeito pela diversidade de opiniões - vão lá à merda com as lágrimas de crocodilo pela «defesa da vida» de tantos desses «nãos» que aplaudiram (e aplaudem?...) o desvario criminoso do Bush no Iraque... Ai não tem nada a ver?... Se calhar, tem...
Depois, a vida já está no espermatozóide... Por este andar - e para amenizar - ainda assistiremos a algum adepto fervoroso do «não» a vestir luto, após alguma ejaculação nocturna decorrente de um sonho húmido.
E, cá para nós, na mesma lógica, era muito bem visto que cada cidadão que se masturbasse fosse bater com os costados na cadeia, culpado de umas centenas de milhares de homicídios neste país de tão baixa natalidade!... Tenham dó!"
OrCa

Bananalho, bananicha, banadildo...






















Outras Coisas

08 fevereiro 2007

Irresistível




Lingerie Blush

Referendo - dados trazidos pelo Zé

"[Apresento-vos] um quadro proveniente de um estudo efectuado pela Associação para o Planeamento da Família, organização favorável ao «Sim» (...)
A pergunta do estudo era a seguinte:
«Em que circunstâncias engravidou?» sabendo-se que o aborto foi o passo seguinte. Os resultados foram:
46,1% - Não estava a usar qualquer método contra...
15,0% - Descuido («Enganou-se nas contas»)
18,1% - Não sabe explicar (?)
[O total destas três razões dá 79,2%]
20,8% - O método contraceptivo falhou
O total dá 100%

Que interpretação se deve dar aos 79,2% de razões para abortar, sabendo-se que as % por grau de instrução (básico, secundário e superior) são praticamente idênticas?"


A educação sexual (não no sentido de "dizer obrigado no fim") é também, certamente, uma causa pela qual vale a pena lutar.

Referendo de 11 de Fevereiro - orgulhosamente S.O.S.?

Assumo que:
  • O feto não é uma pessoa – sê-lo-á mais tarde, caso se desenvolva normalmente;

  • Ninguém com lucidez pode ser a favor da provocação do aborto sem fundamento, menos ainda como mero método contraceptivo... mas a primeira pessoa a pensar assim é a mulher grávida. E a pergunta do referendo é inteligentemente clara: o que está em causa é a descriminalização (ou não) da mulher que interrompe a gravidez em determinadas condições («técnicas» e de prazo);

  • Ninguém com lucidez pode ser a favor de acusar como criminosa uma mulher que conscientemente não aceita ter um filho e, por isso, interrompe a gravidez nas primeiras semanas de gestação;

  • Insinuar uma «solução» de crime sem pena é uma afronta à dignidade da mulher que interrompe a sua gravidez, como se o carimbo de «criminosa» por si só não fosse relevante. Aliás, basta o julgamento para que a dignidade da mulher seja posta em causa, pela humilhação e pela devassa da sua vida privada a que fica sujeita, como bem alertou Júlio Machado Vaz;

  • A definição de um prazo para legalidade da IVG (10 semanas) é necessária e, pelo que as publicações científicas explanam, parece razoável. Alegar que 10 semanas e um dia já será ilegal é um argumento falacioso («definição de fronteira»). Aliás, o professor Marcelo Rebelo de Sousa também sabe que com 9,5 se passa mas com 9,4 se reprova. É injusto? Talvez, mas não será por isso que um aluno passa com qualquer nota! Ou que alguém poderá insinuar que a masturbação masculina é crime (só a igreja católica tem essa ideia peregrina, mas chama-lhe pecado) porque mata milhões de espermatozóides (que, com os óvulos, são também formas de vida);

  • O homem que provocou a gravidez pode e deve ter uma palavra a dizer mas, havendo posições opostas, a decisão deverá caber à mulher grávida;

  • A igreja católica tem tido algumas posições - ameaças de excomunhão a quem votar «Sim», IVG como pecado mortal gravíssimo, comparação da IVG ao terrorismo ou ao enforcamento do Saddam Hussein,... - que só por si justificam a rejeição de quem tenta ser racional nesta discussão. Recomendo que leiam a primeira encíclica de Bento XVI «Deus Caritas est» (Deus é amor), em que valoriza o amor erótico. Ou a teologia da sexualidade de João Paulo II, que defendia já antes de ser papa que "o homem e a mulher são pessoas iguais em dignidade"(1). Entretanto, não se livram de comentários como este, recebido por e-mail: "Nunca um coxo treinou atletas para a maratona nem um mudo deu aulas de dicção. Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade";

  • Os políticos deveriam decidir isto na Assembleia da República. Na praça pública, a argumentação é demasiadas vezes irracional e falaciosa, muitas vezes partindo de quem não tem qualquer autoridade para se pronunciar sobre este tema e gerando uma reacção de enfado por parte de muitas pessoas (levando à abstenção);

  • O aborto clandestino, com todas as suas consequências - incluindo risco de vida para a mulher - não deixará de existir em caso de vitória do «não».
________________________________
(1) citado por Yves Semen in «A sexualidade segundo João Paulo II», pág. 40, Princípia Editora, Estoril, 2006

Entretanto, deixo aqui algumas sugestões de leitura... e olhura sobre este tema:
Didas - "Uma História Moderna III", entre outros posts;
Rui Costa Pinto na «Visão» - "Uma questão de consciência";
Gato Fedorento - "Marcelo Rebelo de Sousa e o aborto";
Maria Árvore - "Desvario";
Gotinha - "adivinha";
OrCa - "Janeiras, janeiras... e o referendo";
Controversa maresia - "E que tal contribuir com os meus impostos para...";
Encandescente - "Sou mulher. Digo SIM no referendo sobre o aborto";
Gabriel em TopaTudo;
A Anani recomenda (e muito bem) Rita Ferro Rodrigues no blog sorriso-do-bisturi - "Carminho & Sandra";


Raim no Raim's blog (I)


Raim no Raim's blog (II)


"Já que a questão é dinheiro, que tal analisá-la em todas as vertentes?" - Didas

É certamente uma causa pela qual vale a pena... votar!

As vacas parideiras, por mostrengo Adamastor

Tenho ouvido e lido verdadeiras barbaridades nesta campanha do referendo sobre a IVG. Os panfletos distribuídos aos miúdos onde se lhes pede que agradeçam à mãe não ter abortado, são do mais idiota e hipócrita que a imaginação mais perversa podia conceber. Bem como a nova teoria do Não, que quer manter a lei como está, mas pedir aos juízes para condenarem as mulheres que abortarem a "serviço comunitário", em vez da prisão.

Mas as intervenções públicas de uma pessoa têm-me incomodado mais que todas: as da jornalista Laurinda Alves. As expressões faciais que faz quando fala alguém que defende a despenalização mostram ódio, desprezo, egoísmo, sobranceria.

Não sei quantas mulheres a Laurinda Alves acompanhou em processos de decisão sobre uma interrupção da gravidez. Ou se impediu que o fizessem denunciando o crime às autoridades; se as aconselhou a não o fazer e lhes emprestou dinheiro para fraldas e biberons; se lhes arranjou emprego em part-time e um marido que fizesse de pai; se lhes deu consulta psicológica para as livrar dos traumas "pós-traumáticos"; se as escondeu da humilhação pública com roupas de marca; se lhes transplantou o útero que elas estropiaram com uma agulha de crochet; se foi ao funeral das que morreram com uma overdose de Cytotec; se adoptou todas as crianças indesejadas deste país e lhes deu de mamar.

Bastaria um só exemplo para que a minha impressão sobre ela melhorasse substancialmente.

O não e o sim - por Alcaide


"Que não... que nunca vira assim tamanho
faz tempo. Ao invadir sua retrete,
e ter posto o sacristão, qual diabrete,
a abanar o badalo, com arreganho!

Que aquilo era expulsão desse rebanho
porque nunca uma ovelha se remete
à campanha do Não e não promete,
cuidados redobrados. Coisa estranha!

Sacrista balançava aquele malho!
Diácona, tremia. Nunca assim
a encantara uma imagem... sem caralho!

Agarra ao sacristão a coisa enfim,
e enterra-o de vez e sem trabalho!
Ela diz: - Que se foda. Voto Sim!"
Alcaide