(sugestão do nosso amigo CrazyDoc)
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08 setembro 2008
07 setembro 2008
Frigideira
A minha avó tinha uma frigideira. Daquelas granjolas e metálicas que o tempo enegrece. Que tanto lhe dava para fritar pastelinhos de bacalhau como para a erguer à frente do nariz do marido caso ele a enxofrasse. Tinham casado mais de uma década antes da segunda guerra mundial mas não era qualquer um lá por ter um afilamento esponjoso que lhe metia medo que o temor só lhe crescia na mão para agitar o cabo do utensílio.
Ela e a frigideira eram amigas de longa data. Desde nova, lá pelos idos de mil novecentos e pouco que tinha ido como era costume dizer-se servir para casa de uns senhores e os filhos e o dono daquele património não lhe largavam as saias a insistir que o sexo fazia parte do serviço doméstico e ela que não era boa de assoar desatou a distribuir frigideirada que patrões há muitos como os chapéus e corpinho só temos o nosso e mais nenhum.
Se a minha avó agora visse as jovens a aceitar estalada dos namorados como quem se conforma com o nome que lhe deram no registo civil ou mãozinhas lúbricas de chefias à rédea solta para não engrossar as filas das desempregadas julgo que tentaria um patrocínio da Tefal para distribuição de frigideiras desde o jardim infantil.
Ela e a frigideira eram amigas de longa data. Desde nova, lá pelos idos de mil novecentos e pouco que tinha ido como era costume dizer-se servir para casa de uns senhores e os filhos e o dono daquele património não lhe largavam as saias a insistir que o sexo fazia parte do serviço doméstico e ela que não era boa de assoar desatou a distribuir frigideirada que patrões há muitos como os chapéus e corpinho só temos o nosso e mais nenhum.
Se a minha avó agora visse as jovens a aceitar estalada dos namorados como quem se conforma com o nome que lhe deram no registo civil ou mãozinhas lúbricas de chefias à rédea solta para não engrossar as filas das desempregadas julgo que tentaria um patrocínio da Tefal para distribuição de frigideiras desde o jardim infantil.
06 setembro 2008
Proletaria
Te escupí con la mirada
lágrimas de democracia
para mojarte las nalgas
donde guardas los votos
de proletaria.
El artista desnudo
_____________________________
O Nelo não pode ver covas que até ode em espanhol:
En el ispessial El Ispanhol
Nam mi pierco en tierras del toreio
ó de cansionies de Mariçól.
fué iun encantio, leer esçtas coizias
de votios e guardias e coizias açim
En toda la vidia me gustarón las fardas
e fardas nalgueras, tiodiavia mais. çim!
I ya que hablias tan bíen de nalgas
coizia a que las ganas me despierta
Les diré que el mio está abierto en altar
De plazer i no çolo pra la mierda
I por eço me guçtó este puemita
hecho por nueçtros hermanius de alliá
Mi culo istá listio pra una foíta
prueben el plazer que Nelo les dá
Puedien vir-çe todos, melieres çou muintio dado
Nam façio question, : -és tudo muinto práctico: -
Mi culo és del Pueblo i dela Aristocraçia
en Democraçia, Todo és democrático"
Se o Nelo ode, o Bartolomeu também pode:
Se o teu cu é proletário
É que se for, estás fodido
Não te vai chegar o salário
Tu hablas muy bien Español
Enquanto chupas o caramelo
Mas se tiveres carcanhol
deixo-te chupar-me o martelo
Mas pronto, lindo Nelinho
Se colocares um implante mamário
Faço-te um descontinho
Pagas con el culo proletário"
E o Nelo usa o direito de resposta restante:
Qués melhér quinté bardas
Nam te çabia tido na péle
das melhéres que puemas fazeim
Pois dazh-lhe de calcanhare
fases quadra e çoneto
çoubeshto logu agarrare
Nus verçus onde o cu prometo
E fases iço com mestria
e Çaber de queim é speriente
és Bartolo, já çabia
nam te çabia hera açim ardente
Fica intam de todo siente
que basteste ha boa porta
Bartolo que já ésh meu
Fasso-te um broshe já seim demora."
O Bartolomeu não se fica (um homem também tem que ter génio):
Que tanto deseja brochar
Vede bem como ele quer
O meu caralho mamar
Depois de chupar a cabeça
O "olho" lhe vou esgaçar
Guincha o Nelo muito à pressa
Mete, que estou a gostar
Sobe, sobe caralhinho
Por essa peida real
Enche a peida ao Nelinho
Rei dos cus em Portugal
Já não sinto o meu cuzinho
Geme o Nelo a peneirar
Mas não pares Bartolominho
Dá-me o nabo até fartar"
O Lalito ode em defesa do seu... querido Nelo:
Que estás ao Nelo filado
Toma nota desde já
que eu sou dele o namorado
Vejo este entendimento
o acordo para o broche
o avançar pró nalguedo
e a mim? O que é que me toca?
Pensas tu que é só gozo
que o Nelo te traz à borla
Ir-lhe aos beiços e ao cu
e nem um guito para uma cola?
Não, amigo Bartolomeu
O arranjo está fadado
Queres enrabar o Nelo?
Põe umas notas deste lado."
Bartolomeu:
Vem defender sua dama
É ciumento o senhor
mas não leva o Nelo pá cama
Não lha enterra na peidola
Nem lh'enche a boca de leite
Este Lalito é um mariola
Que ao Nelo não dá enfeite
Saca-lhe bem todo o guito
Mal o gajo se distrai
O Nelo fica todo aflito
Porque o Lalito nem ao cu lhe vai
Mas meu prezado Lalito
não te safas com o Bartô
O cu do Nelo é bonito
Mas nem um tostão te dou
Se queres massa à discrição
Verga o aço, faz pela vida
Não te armes em cabrão
Não me venhas sacar guita
Inda se foss'a Geniveva
Que o Nelito tem em casa
Para lhe dar uma queca
Inda pagava, um entrecosto na brasa
... ou não..."
Lalito:
entornámos o caldinho
O Nelo é todo meu
É comigo o seu caminho
Repartimos os afectos
Fazemos um casal moderno
Não me importo que meu Nelo
deite por fora uma perna
Não que não tenha ciúmes
o amor não é anestesia
Mas acendemos assim os lumes
E engrossamos uma maquia
Só quero p'ra ele amantes
que lhe dêem amor vadio
uns agora a pagantes
outros depois e "el taco és mio"
E é assim o nosso contrato
Ele conta co´o meu apoio
Eu, Lalito, das notas trato
e do trigo separo o joio
E digo isto sem engulhos
dou ao Nelo toda a valha
Só por notas deixo o orgulho
longe da ponta da navalha
Por isso tu, ó Bartô
se queres a bilha, paga antes
Deixas já as notas, ou
Foge daqui a sete penates."
Bartolomeu:
Seu Lalito mandrião
O Nelo se me quiser mungir
Tem de largar o patacão
E se não te pões esperto
Vais ver como elas te mordem
Vai ser o teu cu que eu espeto
Que até os colhões te fodem
O vosso amor não m'interessa
Se lhe dás apoio ou não
Agora, nunca te esqueça
Que sou eu quem tem o tesão
E o teu Nelo anafado
Que me pede sempre a sarda
Se quiser ser enrabado
Ou lhe apeteça mamada
Para que seja bem tratado
Que traga a pochete inchada
(queres fiado?... Toma!)"
Lalito:
com umas notas da Efigénia
tem já o destino em dia
são pr´a nossa vida amena
Mas tenho dito não importar
mais uma nota de engrossa
se queres cu tens que pagar
ou enfio-te uma coça
E não te ponhas com risotas
Bartolomeu do caralho
Faço-te das tripas forras prás botas
e da bilha celha pró talho
Porque eu, Lalito o mangas
Rei da noite, filho sem pais
Enfio bem a catanga
sem remorsos ou coisas que tais
Queres pacote, larga a nota
em especial essa de cem
se tens a tua saúde em conta
Paga agora ou vai-te a bem."
Bartolomeu:
Virar-te as costas a bem
tenho aqui um bom canhão
para te enrabar também
E munições não me faltam
são 2 obuzes e um missel
Para teres ideia eles mostram
o tamanho do meu pincel
Já te estás a lamber, Lalito
Só de pensares no petisco
Mas para isso traz o guito
E fazes os descontos pró fisco
E a Efigénia também
pode vir para a batalha
qu'eu como-lhe a cona por cem
e a ti espeto-te a navalha
E o Nelo que pinte as beiças
com baton que não desbote
que p'ra m'engolir as leitaças
isto vai ser um fartote
Vamos lá, ó fanfarrão
podes baixar as calcinhas
Antes que perca o tesão
e que te fane as notinhas"
Lalito:
Com essa tirada canalha
Anda cá, pedaço de traste
provar o gume duma navalha
Nem que fujas para o inferno
e que o Diabo te acolha
Vou passar-te, meu estafermo
Não me deixaste outra escolha
Fica desde já declarado
nesta noite que a lua tem
O teu corpo de corte marcado
e a honra lavada e bem!"
Bartolomeu:
uma pedra de afiar
é o caralho do Bartolomeu
que a peida te vai furar
E com jeito, se guinchares
levas talho nos colhões
pr'a nunca mais enrabares
o Nelo e os outros matulões
Mas não te assustes, Lalito
que da naifa não preciso
tenho armas de gabarito
se te vieres fazer ao piso
Tenho mãozorras capazes
e tola para a monada
Mas pronto, eu faço as pazes
se o Nelo me fizer a mamada"
Lalito:
e que te armas de valentão.
Para ti chega a naifa
espetada no coração
Mas já que é de paz
que agora te assentas
deixa a nota posta atrás
uma de cem ou duas cinquenta.
Como diz o tal o sacana
Advogado lá do meu prédio
Mais vale um acordo de trampa
do que perder tudo num pleito"
Bartolomeu: "Sãozinha, podes dar a taça ao Lalito e dá uma medalhita ao Nelo"
E o pano cai na desgraça.
Estou toda molhadinha... em licor... de figo...
A minha colecção tem bastantes peças oferecidas por malta amiga. Algumas são peças únicas e feitas pela própria pessoa que ma oferece.
É o caso desta garrafa de licor de figo, feito pelo meu grandioso amigo Betes usando figos do seu próprio quintal. O rótulo é obra dele, feito especialmente para a minha colecção. Sempre que desenha um rótulo de licor de figo, o Betes coloca uma formiga. "É que sempre que vou apanhar figos encontro por lá formigas". Neste caso, a formiga passeia em cima de um ramo frondoso, empinado pelas cócegas.
Bem hajas, Betes!
A garrafa com os figuinhos «pingo de mel» lá dentro
O rótulo, feito especialmente para mim
É o caso desta garrafa de licor de figo, feito pelo meu grandioso amigo Betes usando figos do seu próprio quintal. O rótulo é obra dele, feito especialmente para a minha colecção. Sempre que desenha um rótulo de licor de figo, o Betes coloca uma formiga. "É que sempre que vou apanhar figos encontro por lá formigas". Neste caso, a formiga passeia em cima de um ramo frondoso, empinado pelas cócegas.
Bem hajas, Betes!
A garrafa com os figuinhos «pingo de mel» lá dentro
O rótulo, feito especialmente para mim
05 setembro 2008
A casa da praia
por Charlie
Era já noite com a lua a aproximar-se do seu estado cheio num céu claro de fim de Verão. Vista de baixo durante o dia, junto à praia que a estrada ladeava, não era mais que mais uma casa encastrada lá no alto por entre vegetação e penedos enormes e cinzentos.
Mas agora que dera os primeiros passos após ter dito pelo interfone embutido no pilar do portão ao que vinha, sentia progressivamente a magia duma flor a abrir, inesperadamente revelada a partir do botão, passo após passo após o som duma palavra secreta.
Andou uma boa dezena de metros pelas passadeiras entre a relva do jardim suavemente iluminado e abundante em toda a espécie de plantas num arranjo cuidado e envolvente rumo à porta de vidro de armações em madeira que deixavam antever um interior de tons ocre claro, mais por efeito das luzes interiores do que da cor das paredes.
Sentiu-se por momentos a menina dos contos das florestas encantadas e deu por si a pensar que não se espantaria se na volta do último arbusto desse com um duende ou um esquilo falador ou até mesmo se tivesse que abaixar-se de súbito perante o voo rasante dum provecto e ajuizador mocho.
Todos os pensamentos se diluíram no ligeiro acelerar do coração quando transpôs o limiar da entrada através da ampla porta de vidro meio aberta e desceu o pequeno degrau que dava para o espaço muito docemente iluminado que se lhe abria agora ao olhar.
Era um salão amplo de solo em tijoleira vermelha dividido por um enorme sofá de cor branco sujo ao lado do qual se via uma lareira agora apagada dada a estação do ano em curso. Mas o que lhe prendeu deveras a atenção foi a surpreendente parede do fundo quase toda feita de vidro, melhor; de duas grandes portas de correr de vidro que projectando a sala para o vazio deixavam o estonteante espectáculo da baía e da praia aos seus pés, desenhadas em sonho luz e reflexos do luar.
Uma voz grave fê-la despertar do encanto e instintivamente olhou na direcção do som.
- Aproxime-se... isso. Aí está bem!-
Ficou-se quieta à voz de mando. Reparara agora nas costas dum cadeirão de cabedal em tons escuros de onde sobressaía uma mão de anéis nos dedos segurando um cálice meio duma bebida de tons iguais ao cadeirão. Ficou a olhar tentando, num misto de desconforto e curiosidade, saber quem era aquele homem que solicitara os seus serviços e que agora a recebia assim, de costas voltadas e ordenando-lhe distâncias.
Um silêncio instalou-se assim como o aumento da sensação de desconforto, uma vontade de fugir de repente dali, de correr jardim afora, descer a vereda até ao carro;
- porque é que não levara ao carro até ao portão? - lamentava-se agora nos seus pensamentos. Um piscar nervoso de olhos fê-la desviar o olhar novamente para a parede vidrada de onde a magia subitamente dera lugar a um dejá vu indesejado, a lua sempre igual e a baía igual a todas as outras... Inspirou fundo. Reparou então no reflexo quase apagado do interior da sala que o vidro devolvia, na sua própria imagem, apenas um vulto, e no sorriso quase adivinhado por entre o translúcido dum sofá escuro que agora via de frente através do vidro.
- Ah...!- ouviu-se num tom inesperadamente jovial, mas que logo retomou a serenidade e inflexão grave do início. - Levou algum tempo a descobrir... Sim, gosto de receber assim, nem você me vê, nem eu vejo mais de si do que a baía sobre a qual irá flutuar como num sonho. Faça apenas o que eu lhe pedir.-
Mandou-a despir-se lentamente. - Essa peça primeiro... assim... agora dê uma volta... não tão depressa, faça do despir uma flor a abrir lentamente e à medida que mais e mais se abre, mais e mais pétalas vai deixando cair. Uma agora, ficando a flutuar no ar até tocar no chão como um beijo. Outra depois, que já livre de todo o peso, toma a leveza do ar, e sê tu própria – tratava-a já por tu - toda a leveza do ar...-
Sentiu-se lentamente invadida por uma estranha calma primeiro e depois uma sensação de maravilha como nunca tinha sentido antes. Obedecia à voz de comando de olhos fechados como ele ordenara, finalmente nua, mera nuvem navegando entre luares através de todo o céu e eternidade, já não salão debruçado sobre o abismo e a baía, nem voz de comando, mas ela mesma toda o Universo em cada poro descoberto em si, mãos e pele num infinito corpo de sensações.
Masturbou-se seguindo a voz que era já a voz do seu interior, intensa e completa, culminando num espasmo longo de prazer como jamais sentira nem pensasse ser possível sentir.
Depois; um momento de silêncio sem medida. Sem que mais alguma palavra se ouvisse, vestiu-se e dirigiu-se à porta por onde entrara e que sendo também de vidro prolongava deste lado a sala pelo jardim, tranquilo e agora plenamente cheio de luar.
- Tens aí sobre a mesa do lado esquerdo, debaixo do pisa papéis, um envelope. Leva-o. É o que combinámos.-
Esperou que saísse e depois levantou-se do cadeirão. Acabou a bebida, poisou o copo e dirigindo-se à parede, abriu uma porta disfarçada, quase invisível. Desligou uns equipamentos e retirou uma cassete. De sorriso nos lábios foi até ao gabinete ao lado e colocou-a numa estante junto a outras dezenas. Sentou-se novamente e olhando para a invejável colecção privada deixou-se trespassar pela profunda satisfação que só um grande diseur de poesia como ele sabe sentir após a emoção única e inultrapassável de declamar um grandioso poema...
Charlie
Era já noite com a lua a aproximar-se do seu estado cheio num céu claro de fim de Verão. Vista de baixo durante o dia, junto à praia que a estrada ladeava, não era mais que mais uma casa encastrada lá no alto por entre vegetação e penedos enormes e cinzentos.
Mas agora que dera os primeiros passos após ter dito pelo interfone embutido no pilar do portão ao que vinha, sentia progressivamente a magia duma flor a abrir, inesperadamente revelada a partir do botão, passo após passo após o som duma palavra secreta.
Andou uma boa dezena de metros pelas passadeiras entre a relva do jardim suavemente iluminado e abundante em toda a espécie de plantas num arranjo cuidado e envolvente rumo à porta de vidro de armações em madeira que deixavam antever um interior de tons ocre claro, mais por efeito das luzes interiores do que da cor das paredes.
Sentiu-se por momentos a menina dos contos das florestas encantadas e deu por si a pensar que não se espantaria se na volta do último arbusto desse com um duende ou um esquilo falador ou até mesmo se tivesse que abaixar-se de súbito perante o voo rasante dum provecto e ajuizador mocho.
Todos os pensamentos se diluíram no ligeiro acelerar do coração quando transpôs o limiar da entrada através da ampla porta de vidro meio aberta e desceu o pequeno degrau que dava para o espaço muito docemente iluminado que se lhe abria agora ao olhar.
Era um salão amplo de solo em tijoleira vermelha dividido por um enorme sofá de cor branco sujo ao lado do qual se via uma lareira agora apagada dada a estação do ano em curso. Mas o que lhe prendeu deveras a atenção foi a surpreendente parede do fundo quase toda feita de vidro, melhor; de duas grandes portas de correr de vidro que projectando a sala para o vazio deixavam o estonteante espectáculo da baía e da praia aos seus pés, desenhadas em sonho luz e reflexos do luar.
Uma voz grave fê-la despertar do encanto e instintivamente olhou na direcção do som.
- Aproxime-se... isso. Aí está bem!-
Ficou-se quieta à voz de mando. Reparara agora nas costas dum cadeirão de cabedal em tons escuros de onde sobressaía uma mão de anéis nos dedos segurando um cálice meio duma bebida de tons iguais ao cadeirão. Ficou a olhar tentando, num misto de desconforto e curiosidade, saber quem era aquele homem que solicitara os seus serviços e que agora a recebia assim, de costas voltadas e ordenando-lhe distâncias.
Um silêncio instalou-se assim como o aumento da sensação de desconforto, uma vontade de fugir de repente dali, de correr jardim afora, descer a vereda até ao carro;
- porque é que não levara ao carro até ao portão? - lamentava-se agora nos seus pensamentos. Um piscar nervoso de olhos fê-la desviar o olhar novamente para a parede vidrada de onde a magia subitamente dera lugar a um dejá vu indesejado, a lua sempre igual e a baía igual a todas as outras... Inspirou fundo. Reparou então no reflexo quase apagado do interior da sala que o vidro devolvia, na sua própria imagem, apenas um vulto, e no sorriso quase adivinhado por entre o translúcido dum sofá escuro que agora via de frente através do vidro.
- Ah...!- ouviu-se num tom inesperadamente jovial, mas que logo retomou a serenidade e inflexão grave do início. - Levou algum tempo a descobrir... Sim, gosto de receber assim, nem você me vê, nem eu vejo mais de si do que a baía sobre a qual irá flutuar como num sonho. Faça apenas o que eu lhe pedir.-
Mandou-a despir-se lentamente. - Essa peça primeiro... assim... agora dê uma volta... não tão depressa, faça do despir uma flor a abrir lentamente e à medida que mais e mais se abre, mais e mais pétalas vai deixando cair. Uma agora, ficando a flutuar no ar até tocar no chão como um beijo. Outra depois, que já livre de todo o peso, toma a leveza do ar, e sê tu própria – tratava-a já por tu - toda a leveza do ar...-
Sentiu-se lentamente invadida por uma estranha calma primeiro e depois uma sensação de maravilha como nunca tinha sentido antes. Obedecia à voz de comando de olhos fechados como ele ordenara, finalmente nua, mera nuvem navegando entre luares através de todo o céu e eternidade, já não salão debruçado sobre o abismo e a baía, nem voz de comando, mas ela mesma toda o Universo em cada poro descoberto em si, mãos e pele num infinito corpo de sensações.
Masturbou-se seguindo a voz que era já a voz do seu interior, intensa e completa, culminando num espasmo longo de prazer como jamais sentira nem pensasse ser possível sentir.
Depois; um momento de silêncio sem medida. Sem que mais alguma palavra se ouvisse, vestiu-se e dirigiu-se à porta por onde entrara e que sendo também de vidro prolongava deste lado a sala pelo jardim, tranquilo e agora plenamente cheio de luar.
- Tens aí sobre a mesa do lado esquerdo, debaixo do pisa papéis, um envelope. Leva-o. É o que combinámos.-
Esperou que saísse e depois levantou-se do cadeirão. Acabou a bebida, poisou o copo e dirigindo-se à parede, abriu uma porta disfarçada, quase invisível. Desligou uns equipamentos e retirou uma cassete. De sorriso nos lábios foi até ao gabinete ao lado e colocou-a numa estante junto a outras dezenas. Sentou-se novamente e olhando para a invejável colecção privada deixou-se trespassar pela profunda satisfação que só um grande diseur de poesia como ele sabe sentir após a emoção única e inultrapassável de declamar um grandioso poema...
Charlie
04 setembro 2008
out
Era lugar encantado de primeiras vezes. Recordações de beijos dados e amores feitos. Ali retornavam sempre. Poiso escolhido também para reencontros aguardados e paixões renovadas. A seus pés a cidade e o rio, dominados pelos dois amantes tempestuosos. Dominariam também o planeta se lhes apetecesse. Sem pudor e sem vergonha, ousavam-se fora de quaisquer quatro paredes. Tomavam conta dos elementos como se tudo lhes pertencesse. Não eram eles que erravam. O resto do mundo é que se enganava por não se estar também a amar naquele instante. A eles bastava que se quisessem, para ali ser a sua alcova.
Nota da ediSão - Conhecem o blog «Crimes Perfeitos»? Recomendo. E já foram dar os parabéns à Marla pelo primeiro aniversário do blog?
03 setembro 2008
Ou vai ou racha
Habituei-me a fazer o luto de cada relação renascendo pelos cabelos para fama e glória do meu cabeleireiro. Já pintei o cabelo de ruivo, aquele menos vibrante e o cenourinha mesmo, usei o preto violino e o preto azul mais o preto azeviche e até o azul marinho por um breve período em que me armei em semáforo da atenção dos outros e só não usei madeixas por serem uma marca distintiva de quarentona nem o louro em nenhuma nuance para não me convencer que tinha aloirado de vez.
Com aquele da perdição por cabelos compridos esmerei-me. Ele excitava-se em descobrir-me os seios afastando-os do caminho das suas mãos, em agarrá-los na rédea da mão quando suava sobre a minha garupa, em amolgá-los contra a almofada quando me ensinava o padre nosso para lhe absorver a hóstia dos santos pirilaus. Até preferia uma alcatifa encaracolada no monte de Vénus talvez para não lhe escorregar a testa ou quiçá, para mata-borrão do suor.
E eu caprichava após cada desentendimento em cortar os cabelos. Primeiro no protesto por uma maior sensibilidade desbastava abaixo do ventre e depois passava à cabeça para os cortar cada vez mais curtos quase até ao pente 4. Só que no dia em que apesar de ostentar uns cabelos curtos com umas pontas compridas a baloiçar na frente da cara cuja rebeldia ele odiava tacteei uma força a crescer-lhe sob as calças e um sorriso indecente a nascer-lhe nos olhos e percebi que já me alojara na parte dele onde sempre quisera estar.
Com aquele da perdição por cabelos compridos esmerei-me. Ele excitava-se em descobrir-me os seios afastando-os do caminho das suas mãos, em agarrá-los na rédea da mão quando suava sobre a minha garupa, em amolgá-los contra a almofada quando me ensinava o padre nosso para lhe absorver a hóstia dos santos pirilaus. Até preferia uma alcatifa encaracolada no monte de Vénus talvez para não lhe escorregar a testa ou quiçá, para mata-borrão do suor.
E eu caprichava após cada desentendimento em cortar os cabelos. Primeiro no protesto por uma maior sensibilidade desbastava abaixo do ventre e depois passava à cabeça para os cortar cada vez mais curtos quase até ao pente 4. Só que no dia em que apesar de ostentar uns cabelos curtos com umas pontas compridas a baloiçar na frente da cara cuja rebeldia ele odiava tacteei uma força a crescer-lhe sob as calças e um sorriso indecente a nascer-lhe nos olhos e percebi que já me alojara na parte dele onde sempre quisera estar.
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