07 setembro 2008

Frigideira


A minha avó tinha uma frigideira. Daquelas granjolas e metálicas que o tempo enegrece. Que tanto lhe dava para fritar pastelinhos de bacalhau como para a erguer à frente do nariz do marido caso ele a enxofrasse. Tinham casado mais de uma década antes da segunda guerra mundial mas não era qualquer um lá por ter um afilamento esponjoso que lhe metia medo que o temor só lhe crescia na mão para agitar o cabo do utensílio.

Ela e a frigideira eram amigas de longa data. Desde nova, lá pelos idos de mil novecentos e pouco que tinha ido como era costume dizer-se servir para casa de uns senhores e os filhos e o dono daquele património não lhe largavam as saias a insistir que o sexo fazia parte do serviço doméstico e ela que não era boa de assoar desatou a distribuir frigideirada que patrões há muitos como os chapéus e corpinho só temos o nosso e mais nenhum.

Se a minha avó agora visse as jovens a aceitar estalada dos namorados como quem se conforma com o nome que lhe deram no registo civil ou mãozinhas lúbricas de chefias à rédea solta para não engrossar as filas das desempregadas julgo que tentaria um patrocínio da Tefal para distribuição de frigideiras desde o jardim infantil.

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