– O que é isso?
– Um alelo?
– Sim.
– Segundo a wikipédia, um alelo é cada uma das várias formas alternativas do mesmo gene.
– Foste ver?
– Fui, sabia lá o que era um alelo.
– E o que é que eu devia ter ouvido?
– Descobriram que o alelo 334 pode ter várias formas.
– E depois?
– Depois, descobriram que os homens são infiéis por causa do alelo 334…
– A culpa é do alelo?!
– É, parece que sim…
– É uma boa desculpa… Uma boa desculpa como outra qualquer.
– Não é uma desculpa, é genético, está provado!
– O alelo?!
– Pois, parece que os homens que têm esse alelo de uma determinada forma ou mais activo são infiéis…
– E os outros?
– Os outros, o quê?
– Os outros, os que não têm o alelo activo, são infiéis porquê?
– Não são.
– Não?
– Não.
– Quer dizer que todos os homens têm o alelo aos saltos?
– Não, alguns não.
– Alguns?!... Quais?
– Os que não são infiéis, bolas!
– São cristãos?
– Desculpa?!
– Se não são infiéis, são cristãos?
– Não é infiéis disso!
– É infidelidade mesmo!
– Pois, infidelidade mesmo!
– Então, é isso que te estou a perguntar…
– Bolas! Não estou a perceber nada… Estás a perguntar o quê, afinal?
– Disseste que os homens que têm o alelo 434…
– 334!
– Esse… Os homens que têm o alelo 334 mais activo ou especial são infiéis, não é?
– É, foi o que os suecos disseram.
– Pois, mas e os outros?
– Quais outros?
– Os que não têm o 334 activo…
– Esses não são!
– Não?
– Não!
– Mas conheces algum?
– …
– Pois!
– Se calhar há um na Suécia…
– Um quê?
– Que não tem o alelo 334 activo.
– Ah!... E então, esse é infiel porquê?
– Infiel?
– Sim, infiel, ou tu acreditas no Pai Natal… Ainda por cima na Suécia!
– Ahn…
– Tu já viste bem as suecas?! Achas que há algum sueco…
– Eu uma vez conheci um…
– Sueco?
– Não, quero dizer, também conheci um sueco…
- Que não era infiel?
– Sei lá se ele era infiel… Estava a dizer que uma vez conheci um tipo que devia sofrer dessa doença…
– Qual doença?
– Do alelo defeituoso… Nunca tinha sido infiel…
– Aos seus princípios?
– Não! Nunca tinha sido infiel!
– E era feliz?
– Hmm… Nem por isso, era um afoga-colarinhos de alto calibre!
– Um afoga-colarinhos?!
– Um choramingas do pior, se lhe desses conversa, ao fim de dez minutos estava a chorar no teu ombro, se o deixasses encharcava-te o colarinho que era uma limpeza!
– Bolas!
– Tinha era um medo da mulher que se pelava.
– Ah! Então o mal não era do alelo…
– Não, era mesmo dele.
– A mulher do afoga-colarinhos tinha mais poder do que o alelo.
– Bem vistas as coisas, é a única hipótese.
– Nem mais… Seja como for, o alelo está lá!
– Mas coitado desse alelo.
– Um pobre alelo… Infeliz e desgraçada vítima da tirania e prepotência de um despótico e inqualificável poder opressor.
– Mas se não fosse isso…
– Era um alelo feliz!
– E o gajo também!
– Também!