03 fevereiro 2009

Horas tardias.

Por Charlie


... mesmo à porta de casa, correndo o risco de serem vistos por alguém...

Tinha sentido o momento em que silenciosamente dera entrada pela porta embora estivesse colocado numa posição em que não a poderia ver.

Num mero reflexo e sem ver as horas, olhou para o relógio.
Lentamente levantou o copo mirando como as gotículas que se haviam formado num ápice, confluíam agora em formas de arte por pequenas estrias rumo à base, interrompendo o percurso pela hecatombe dos dedos indicador e polegar, simetricamente interpostos à acção incontornável da gravidade. Um golo breve, a marca dos lábios e o sentir da outra presença na sala, relegaram o momento de contemplação para um plano indefinido.
- Não te fazia de pé, pensava que estivesses a dormir...-
- Onde estiveste? –
- ... Demorei-me mais do que esperava inicialmente e a reunião foi...-
- Julguei que te tivesse acontecido algo, - Interrompeu.- estavas com o telemóvel desligado. Podias ao menos ter dado um toque para eu ficar descansado, ou....pedir a alguém que telefonasse. -
Replicara ao encetar do diálogo com a sua companheira sem lhe olhar directamente nos olhos, mas terminara, após uma pausa cirúrgica, a frase num enfoque frio e intenso, esperando ler-lhe os sinais na expressão devolvida.
Ela colocara um após outros, o dedo indicar, o médio e anelar sobre as costas do sofá oposto ao do seu interlocutor. Afastou o olhar rodando o corpo ligeiramente traindo o desconforto que aquele instante lhe trouxera, mas num relance retomou a postura e voltando a pousar a mão respondeu:
- Sabes querido como tem sido difícil aos patrões manter a empresa com a crise a avolumar. Tivemos uma reunião muito complicada. No fundo, todos queremos apenas segurar os nossos postos de trabalho, e fiquei com a Marta a compilar os apontamentos, as resoluções, passar ao computador, imprimir, arquivar uns e preparar a distribuição de outros documentos...Enfim....-
- Entendo. As coisas não estão fáceis. Mas da próxima vez se vires que vais demorar, agradeço que me digas algo, um toque, um SMS basta. Entendes?-
Esperou um pouco e deu mais um golo voltando a pousar o copo.
- E as reuniões? Já terminaram?-
- É isso que eu queria dizer-te; amanhã iremos ter uma outra, um encontro com accionistas. Possivelmente poderá prolongar-se sabe-se lá até que horas... Depois desta com a comissão de trabalhadores...estou exausta....Vou deitar-me. É já tão tarde...-
Despediu-se dele com um fugaz beijo que ele correspondeu com a mesma fugacidade ficando a fita-la enquanto ela desaparecia por detrás da porta que dava acesso aos espaços mais íntimos dos aposentos.
Fechou a porta da casa de banho e mirou-se ao espelho afastando a alça direita do vestido. Aquela dentada no ombro...Meu Deus!...O que é que aquele homem lhe tinha feito! Não bastara a loucura das duas horas no seu apartamento a seguir à reunião. Já de regresso e ali mesmo à porta de casa, correndo o risco de serem vistos por alguém, metera-lhe a mão entre as pernas, a boca a percorrer desde o ouvido aos lábios, passando pelo pescoço, peitos, ventre e baixo ventre, e finalmente, regressando, o ombro onde lhe deixara a marca enquanto todo o seu corpo ardia e estremecia na febre mista de gozo e angústia de poderem ser descobertos.
Inspirou fundo e encetou o ritual do despir e dos preceitos de higiene.
Na sala, ele certificara-se de que ela não o poderia ver nem ouvir. Rapidamente pegou no telemóvel e carregou na tecla verde.
- Sim.- disse em voz sussurrada...-Foi por pouco amor. Mal cheguei a casa, e só tive tempo de preparar uma bebida, sentar-me e fazer de conta que estava à sua espera. Tinha acabado de fechar o carro na garagem quando ouvi, vindo da rua, o bater da porta dum veículo e ouvir a voz dela a dizer à colega até amanhã. Felizmente não precisei de esperar pelo elevador. Foi só entrar e subir enquanto ela procurava a chave para abrir a porta do prédio... Como? Não... ela não desconfia de nada, amor. E sabes? Amanhã tem outra reunião! Não é formidável?...
Dizes coisas tão lindas, és linda...também te amo.
Mal posso esperar pela hora de estar contigo novamente...Um beijo... -

Charlie

Abba


Alexandre Affonso - nadaver.com

02 fevereiro 2009

Alpha


Alpha



Perigosamente subtil, embrenhava-se pela selva, com passos ligeiros e silenciosos. Se não quisesse ser vista, não era. Gostava que assim fosse. Gostava dos seus momentos de animal solitário, que deambulava indiferente a todas as paisagens. Rosnava agressivamente a todos os que lhe tapassem o caminho. Era fera ferida que procurava um local para descansar. Intimidava predadores e presas com as garras afiadas que não hesitava em revelar. Em jeito de desafio, mostrava-lhes o brilho indomável no olhar. É claro que o rugir assustador se podia transformar facilmente num doce ronronar. Dependia sempre e apenas da habilidade do caçador...


(Crimes Perfeitos)

Dia Mundial das Zonas Húmidas


É também o meu Dia!


Se a Mad diz que é, é porque é, porque a Mad sabe!

Videoclip «Pensum» (partes 1 e 2)





Mais um (excelente) par de trabalhos do blog Garm's Kiss

Mundo moderno


Alexandre Affonso - nadaver.com

01 fevereiro 2009

Arte do chá


Eu quero é que ele vá ter um menino pela barriga das pernas resmungou enquanto ia à cata de uns toros de gengibre que eram todos pequenitos aí com uns cinco centímetros cada. Ciumento do caraças que não me podia ver a falar com um colega que no dia seguinte não se penteasse da mesma forma ou lhe copiasse a roupa rabujou enquanto com uma faca afiada tirava uma casca fininha ao gengibre. Interrogou-se como é que nunca lhe passou pela cabeça que só temos ciúmes dos outros quando não damos valor a nós próprios enquanto enchia a chaleira de água. Pousou-a com estrondo como se recordasse as vezes em que publicamente ele exibia o braço sobre o seu ombro ou lhe estreitava a cintura ou até de mão cheia lhe apalpava o rabo desde que tivesse a certeza de que pelo menos um amigo nosso estava a ver ou saltasse do catano do disco rígido o sempiterno responso por usar a casa de banho ao mesmo tempo que ele mais as matinas em que se esquecia até de um beijo de bom dia envolto em preguiça ramelosa e começou zás zás zás a cortar em rodelas o tronquito para dentro da água.

Sentou-se em posição de lótus no sofá de um com os pés desnudos a bordejar os apoios laterais mais a caneca fumegante nas mãos e em pequenos tragos cada vez mais joviais bendisse quem lhe dera a receita daquele chá que activava a circulação sanguínea até às extremidades para dispensar os aquecedores de pés que em nós não depositem confiança.

Melhor que MacDonalds



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crica para visitares a página John & John de d!o

30 janeiro 2009

Plagiando o Expresso ou as palavras que tive vontade de escrever mas não consegui!

Sobre Ronaldo, o Cristiano, e a febre mediática em redor do Prémio, escreveu João Pereira Coutinho: "...Mas o pior veio a seguir: páginas e debates com declarações embaraçosamente homoeróticas. São as pernas de Cristiano Ronaldo. O tronco. A elegância. Não sei se alguém falou nos mamilos mas é possível. Verdade que o futebol sempre serviu para isso: para que os homens pudessem expressar as suas pulsões homossexuais sem sentimentos de culpa. Só assim é possível explicar a paixão masculina por rapazes de calções curtos, a correrem pelo campo e, em caso de golo, a abraçarem-se e a acariciarem-se com os seus corpos suados. Com Ronaldo, Portugal voltou a relembrar a natureza gay do futebol..."
__________________________
O Nelo esclarece, já que é a sua espiçalidade:
"Nam çei perquei tanta coiza há volta de ashareim bishiçe iço das pernas do Cristianu Reinaldo.
Per izemples, éu, Gonçalo Manuel da Silva, nam asho nada ispecial as pernas do Cristianu Reinaldo, e çou uma melhér bisha cum muitos quilómatrus de broshes e inrabadelas..
Asho o Reinaldu uma melhér jóvel e açim, sheiu de dinhêro e brincus nas urelhas e Çê Erre Çetes na caza e nus carrus, e dipois?
Dá uns pantapeis numas bolas...???
Poizeu nam tratu as bolas aus pantapeis... Çó com muinto carinhu e delicadesa... Beim cu pudia mudar o meu nomi pra CristiaNelo..."


E o OrCa há que tempos que não odia...

"de Ronaldo as gâmbias musculinas
rebrilhantes pelo drible que palpita
e no povo vibram tanto as meninas
como os gajos num desvairo em alta grita

o pernaço - o torso em chama - o antebraço
o bícepe e - quem sabe? - aquele rastilho
que ao corpo dá um lance de mormaço
que não fora ele gajo lhe faria um filho

fu-tebol - fé de pé - ou fá bemol
traz a quantos por ele vibram o sinete
de fazerem de um atleta esse rissol
mordiscado em entremeio de croquete

e perdendo a tramontana pela bola
o machão nem apura que faz lei
outra inversa àquela contra a sua escola
de curtir moca de gajo como um gay..."


O Manuel Falcão (Rei das Bouças), Presidente da Junta de Freguesia da Santa Inácia do Vale da Penha Maior de Cima faz uma declaração à freguesia:

"Pois meu Orca que és poeta
comó caralho que te refoda
Deixa ser este Rei das Bouças
agora o home a dar-te a Oda
Se estás farto dessa terra,
que mais tem som de histeria
Deixai-me essa estrabaria
e vinde vós num só esgalho
Ao sítio este, de carne e broa,
E verdasco, e alegria.
Tenho espaço com fartura
no barraco; lareira boa
um sofá, onde malho inteiro
O pito farfalho que a tusa fura
Ai Orca, a pasmaceira
que da cidade dizem certeira
Vai-se logo que visitam,
o Falcão à vez primeira.
Fiquem-se pois que eu não me ralo
Durmo com a lua, acordo com o galo
Ainda o Sol no céu não brilha
Já a broa se enche num estalo
De verdasco e alegria
E tenho boa companhia
dos bacanos e o caralho
e quando quero pito farfalho
(A toda a hora me dá na moina)
Saio do barraco até ao pinhal
Assobio de sinal, à filha do Toino
Mas há ainda mulheral
A fazer da perna ofício
Não vens por isso em sacrifício
Quando chegares à Freguesia
Terás broa, enchido e pito,
E verdasco e alegria.

Vem daí, Orcaralho, foda-se que deves ser um bacano do caralho. :)"


E o OrCa ode o Falcão... mesmo preferindo outro género, com outra terminação:

"sim - ao afundar-me nas berças
sim - ao sentir o frio orvalho
sim - ao ter as moçoilas quais corças
sim - ao verdasco de agasalho
sim senhor caro Falcão
presidente da Inácia
e quem não for à sessão
deite-lhe a mão e arregace-a
pelo campo cogumelos
e grelos doces dourados
deitar-se a gente aos marmelos
e cuidar-se dos silvados
que bela a vida no campo
de gostos fortes - da broa
valha a mim fechar o tampo
da sanita de Lisboa...
Falcão ave de rapina
que voas em tal lampejo
pela minha triste sina
nem sabes quanto te invejo
Falcão amigo o convite
deixou-me aqui numa fona
ainda que algo hesite
melhor seria Falcona...
enfim és hospitaleiro
e por tanto fico grato
só toca bem o pandeiro
quem o guarda a bom recato
Rei das Bouças tu serás
nessas matas maravilha
decerto me apresentarás
desse tal Toino a filha
ah e que tenhas por certo
não fazer eu sacrifício
largo mão deste deserto
vou-me aí ao solstício
que há-de haver um enchido
ao verdasco a acompanhar
que fodido e refodido
ando eu cá farto de andar..."


São Rosas: "Quando iremos então a esse verdasco?"

OrCa:
"Olha a São também quer ir
o deboche garantindo
se a gaja desata a abrir
faz-se ali festaço lindo..."