O corpo parado, distante. O corpo sentado, indiferente ao desassossego do olhar que tenta resistir de pé aos projécteis, autênticos mísseis que bombardeiam sem cessar as resistências do olhar que tenta bater em retirada para um qualquer ponto de fuga distante da imagem que ocupa o horizonte, a paisagem deslumbrante que esse rosto oferece a quem o olha e nunca mais esquece a sensação.
O olhar que tenta ocultar a emoção que baralha as palavras nessa batalha pela causa perdida de uma cegueira induzida em vão, a beleza que ignora as pálpebras da razão e invade todos os espaços por preencher e força alguém a dizer as coisas que preferia silenciadas.
As reacções apaixonadas que traem as melhores intenções no inferno interior de quem se revela vulnerável ao apelo do amor instantâneo, as palavras proibidas à solta num comentário extemporâneo que apanha de surpresa quem apostava na certeza da imunidade total e se calhar fazia mal em acreditar na resistência do olhar às inesperadas tentações que o destino adora semear pelo caminho a percorrer por quem não respeita linhas rectas.
A vontade de tomar as atitudes mais correctas e o instinto a vaguear pelos atalhos da imaginação traiçoeira que encontra sempre uma maneira de desarmar a lucidez e de despistar uma e outra vez o viajante incauto que tapa os ouvidos sem sucesso aos gritos do arauto possesso pelo descontrolo emocional, a descarga hormonal que desorienta a passada e altera a rota traçada com base no que é suposto.
E às vezes basta o poder de um rosto para desmentir essa forma de agir que se descobre errada quando a alma apaixonada prevalece sobre a regra definida pela tradição ou pelo costume.
Quando o sangue no coração ateia como combustível à mercê do lume.
15 outubro 2009
14 outubro 2009
«Marcas ou Memórias do Vento» - Maria Paula Raposo
Graças ao Dom OrCa, dinamizador de amizades (pleonasmo, pois "dinamizar" já incorpora "amizar"), conheci a Paula Raposo... e isso tem sido muito bom.
Agora, recebi de fresquinho o seu livro de poesias «Marcas ou Memórias do Vento», da série de livrinhos de cordel da Apenas Livros. Com uma dedicatória que é (para quem me conhece) um desafio: "Para a São Rosas, uns singelos poemas (não sei escrever eróticos!) esperando que, mesmo assim, gostes de me ler. Beijos, Paula Raposo, 09/10/12".
Ah, não sabes escrever poesia erótica?! Tens a certeza?!
Então o que são, por exemplo, estes poemas?
Saberei da tua voz
Serena
Ao longo do caminho
Desbravado
Do encanto
E saberei
Das tuas mãos
Desenhando
O perfil perfeito
Da melancolia
No colo
De todos os meus sonhos.
Numa Maré
Vibro a paixão eloquente
Inesquecível e irrepetível
Não falada não dita.
Vibro profundamente
A tempestade
Numa maré
Em espuma desfeita,
Uma vaga de magia.
Vibram os sentidos
Em todas as palavras
Que se dizem.
E o que são os "súbitos compassos da noite", do «Compasso»?
E os bailados sensuais em afectos e paixões d'«A valsa das partículas»?
E quando encontras as cores dele dentro de ti, na «Pintura»?
E a recordação dos "beijos enlouquecidos" do «Princípio»?
E, no «Quadro», "o quadro macio dos teus dedos é a alvorada dos meus sonhos"?
E "permaneci na ousadia do teu corpo nu", em «Sonhos de Água»?
E o que tu gostavas, em «Ilimitado»?
E?...
Pois, Paula, alguns dos teus poemas são bem mais eróticos do que muitos que se autoclassificam assim.
A melancolia também pode ser erótica.
E, já agora, qual será a tua cor preferida? Com o "sorriso emoldurado de letras azuis" de «Como tu», o «Quadro» "azul", o "dia azul entre flores e mar" do «Uivo», nem precisavas dizer, em «O meu mundo», que "este meu mundo é azul".
Convenci-te, Paula?
____________________________
Pelo menos despertou a verve erótica da malta:
Gomalaca:
Contribuição para a poesia:
"Gostava de um dia ver-te nua
tal como Eva no Paraíso
e poder contemplar as pernas que diviso
sob a garrida veste tua.
Gostava de beijar teus lábios de coral
gostava de sugar teus seios provocantes
e quedar-me nervoso, por instantes
ante monstro de Vénus virginal
Depois, no mais macio e fofo leito
à luz mortiça de uma vela
mostrar-te o que é estar-me de pau feito
E numa fúria louca e repentina
untar-te o olho do cu com vaselina
e dar-te uma soberba enrabadela!
Nelo:
"Olheim melhéres questa laca
que çe antessede de goma
éi melhér com tanta grassa
queu do cu le fasso cona
Ai comele é vazelina
é fofuras, coizas táis
Gomalaca melherzinha
Né pressizo pr'curar maish
ele éi lábius de cural
Coiza queu tenho eim barda
já us çeios, aí tá mal
mash compenço com broshes há farta
Mash já shega de converça
tu Colinha de coiza Laca
anda já daí melhér
Que deshte Nelo nam te iscapas
OrCa:
"A Paula diz dessas coisas, mas nós é que sabemos... Olha, cá eu, quando leio dela um poema, muitas vezes returco - que, como se sabe, é ver um turco a dobrar...
ter em verso a alquimia de evocar
esse gosto a malvasia
de um olhar
um estar para aqui só por estar
muito perto do incerto do amor
e a boca
ter o gosto de uma flor
a crescer num jardim-melancolia
espalhado pelo corpo
que assim arde
em poente junto ao mar
ao fim da tarde
tal o Sol tange a água
que se acende
numa ardência que entre os dois
algum entende
e enfim muito lá no horizonte
cai a noite na carícia dos sentidos
mergulhar mar adentro
já perdidos
tal afago de madeixa em sua fronte"
Orgasmo
Eram águas que vinham enroladas em areia de mar que secou, extenuado, galopante,
Eram margens que pareciam apagadas sem terra que inundou um mar seco, extenuante,
Era nado que tentava em pedra pontiaguda, cortou, obcecado, por leveza imprudente,
Era marcha que tentava em cascata, serenata que salgou, acordado e já tão demente...
Traz-me tu já aqui, a escorregar nessa aurora escura em gotas de jardim imaculadas,
traz-me tu já aqui, a escorregar na perfeição leviana e permutável de tudo finito,
Trago-te eu, estou em ti, a escancarar a alma erguida, escavada em coxas abertas,
Trago-te eu, estou em ti(?), sou estrangulada emoção contida, livre num só grito...
Eram margens que pareciam apagadas sem terra que inundou um mar seco, extenuante,
Era nado que tentava em pedra pontiaguda, cortou, obcecado, por leveza imprudente,
Era marcha que tentava em cascata, serenata que salgou, acordado e já tão demente...
Traz-me tu já aqui, a escorregar nessa aurora escura em gotas de jardim imaculadas,
traz-me tu já aqui, a escorregar na perfeição leviana e permutável de tudo finito,
Trago-te eu, estou em ti, a escancarar a alma erguida, escavada em coxas abertas,
Trago-te eu, estou em ti(?), sou estrangulada emoção contida, livre num só grito...
Palheta coberta
Adoro tudo o que oferecem para a minha colecção. São peças que guardo com especial carinho. E que contam histórias que não são só minhas e sim partilhadas.
É o caso desta «palheta coberta», ideia e prenda da Celestelinda.
Tudo começou quando a Tuna Meliches começou a preparar uma actuação que fará brevemente. Alguém baptizou o grupo como «Charamela do Bairro»... e o nome pegou. Charamela é sinónimo de charanga, banda de música composta somente de instrumentos de sopro e, por vezes, timbales. Mas também é um antigo instrumento musical de palheta coberta. Pois a Celestelinda "pegou" nesse conceito... e ofereceu-me esta "palheta coberta", de sua criação e executada pela Brígida Maria, amiga tão tarada quanto nós.
Palheta sem bolsa nem é palheta nem é nada...
... e esta palheta tem uma bela bolsa.
O verso coberto da palheta coberta...
... e a frente descoberta da palheta coberta.
É o caso desta «palheta coberta», ideia e prenda da Celestelinda.
Tudo começou quando a Tuna Meliches começou a preparar uma actuação que fará brevemente. Alguém baptizou o grupo como «Charamela do Bairro»... e o nome pegou. Charamela é sinónimo de charanga, banda de música composta somente de instrumentos de sopro e, por vezes, timbales. Mas também é um antigo instrumento musical de palheta coberta. Pois a Celestelinda "pegou" nesse conceito... e ofereceu-me esta "palheta coberta", de sua criação e executada pela Brígida Maria, amiga tão tarada quanto nós.
Palheta sem bolsa nem é palheta nem é nada...
... e esta palheta tem uma bela bolsa.
O verso coberto da palheta coberta...
... e a frente descoberta da palheta coberta.
13 outubro 2009
Oglaf - um novo membro da fundiSão
"Esta banda desenhada começou como uma tentativa de fazer pornografia. Descambou quase de imediato numa comédia sexual" - informa o Oglaf na sua página.
A partir de agora teremos no blog porcalhoto estas tiras deliciosas: "Yes! We'd be delighted if you'd publish our comics".
We are also delighted, Oglaf... and wet (I hope this doesn't cause a short circuit to puff smoke from my deep hole).
Pois, não irei traduzir estas tiras. É tudo de tão fácil leitura que quase basta "ver os bonecos". Uma delícia.
Nesta primeira história, um rapaz sofre como Judas com o seu esperma "acusa-Cristos".
O espírito do esperma
8 páginas - basta ires cricando em "next page" a partir da página inicial acima
A partir de agora teremos no blog porcalhoto estas tiras deliciosas: "Yes! We'd be delighted if you'd publish our comics".
We are also delighted, Oglaf... and wet (I hope this doesn't cause a short circuit to puff smoke from my deep hole).
Pois, não irei traduzir estas tiras. É tudo de tão fácil leitura que quase basta "ver os bonecos". Uma delícia.
Nesta primeira história, um rapaz sofre como Judas com o seu esperma "acusa-Cristos".
O espírito do esperma
8 páginas - basta ires cricando em "next page" a partir da página inicial acima
12 outubro 2009
Poesia erótica lida (e como...) por quem sabe da f... poda
O Luis Gaspar continua a saber deixar-me toda molhadinha.
Desta vez dá-nos a conhecer os textos eróticos de Joana Well, que se apresenta no seu blog como "Miss Shag Well, part-time escort, full time Lady Writer. Aspirante a panaceia e poeta".
Apreciem, por exemplo, este «Menina... menina...»:
"Menina, menina, vem cá!" - Disse o Lobo. E eu? Eu fui. E o Lobo? Papou-me! E depois? Foi-se embora. E eu? Eu chorei. Porque fugiu o lobo? Não sei, não sei. Se calhar, não era um Lobo e dei-lhe uma congestão. Entende-se? Diz-me um mágico que lobos só existem nas minhas fantasias. Então? E eu? Eu fui. Procurem-me, estarei no Mundo-Que-Imaginei, à procura do Lobo que não mais encontrei; entretanto, veio um Cabritinho que eu papei e uma Porquinha que saboreei - que belo repasto preparei! - mas à procura do Lobo é que eu andei, andei e quando não fui, o Coração enviei.
Joana Well"
Entretanto, uma curiosidade que nos conta o Luis Gaspar e não é novidade para ninguém: "A poesia erótica, como já por várias vezes foi aqui referido, vive ainda, embora cada vez menos, rodeada de preconceitos. Quem a escreve e quem a ouve, tem, por vezes, alguma dificuldade em admiti-lo.
Recordo, por exemplo, os números dos dois inquéritos que realizei junto dos ouvintes. À pergunta: “qual a categoria do Estúdio Raposa que mais ouve”, é residual o número de ouvintes do Poesia Erótica. Porém, os números fornecidos pelo servidor onde o programa está alojado dizem-nos simplesmente isto: o Poesia Erótica é mais ouvido do que todos os outros juntos. Nem mais."
Ah! É claro que a convidei para publicar os seus textos também aqui, no blog porcalhoto. E adivinhem... sim, ela dobrou o canto do sim! A partir de agora, Miss Shag Well faz parte da fundiSão!
Desta vez dá-nos a conhecer os textos eróticos de Joana Well, que se apresenta no seu blog como "Miss Shag Well, part-time escort, full time Lady Writer. Aspirante a panaceia e poeta".
Apreciem, por exemplo, este «Menina... menina...»:
"Menina, menina, vem cá!" - Disse o Lobo. E eu? Eu fui. E o Lobo? Papou-me! E depois? Foi-se embora. E eu? Eu chorei. Porque fugiu o lobo? Não sei, não sei. Se calhar, não era um Lobo e dei-lhe uma congestão. Entende-se? Diz-me um mágico que lobos só existem nas minhas fantasias. Então? E eu? Eu fui. Procurem-me, estarei no Mundo-Que-Imaginei, à procura do Lobo que não mais encontrei; entretanto, veio um Cabritinho que eu papei e uma Porquinha que saboreei - que belo repasto preparei! - mas à procura do Lobo é que eu andei, andei e quando não fui, o Coração enviei.
Joana Well"
Entretanto, uma curiosidade que nos conta o Luis Gaspar e não é novidade para ninguém: "A poesia erótica, como já por várias vezes foi aqui referido, vive ainda, embora cada vez menos, rodeada de preconceitos. Quem a escreve e quem a ouve, tem, por vezes, alguma dificuldade em admiti-lo.
Recordo, por exemplo, os números dos dois inquéritos que realizei junto dos ouvintes. À pergunta: “qual a categoria do Estúdio Raposa que mais ouve”, é residual o número de ouvintes do Poesia Erótica. Porém, os números fornecidos pelo servidor onde o programa está alojado dizem-nos simplesmente isto: o Poesia Erótica é mais ouvido do que todos os outros juntos. Nem mais."
Ah! É claro que a convidei para publicar os seus textos também aqui, no blog porcalhoto. E adivinhem... sim, ela dobrou o canto do sim! A partir de agora, Miss Shag Well faz parte da fundiSão!
Recuerdos de Viena - 6
Os austríacos não podem ver nada... e disponibilizam no metro livros e revistas para consulta, presos por um buraco igual ao do diciOrdinário.
11 outubro 2009
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